Igreja: «Há um lugar onde aquilo que sou, de mais profundo pode ser dito, escutado e acolhido. Isso é um tesouro e precisa ser tratado como terra sagrada» – padre Miguel Vasconcelos

Capelão da UCP fala dos locais onde encontra, com outras linguagens, a procura de infinito que, afirma, todas as pessoas feitas da mesma massa têm

Foto: Agência ECCLESIA/PR

Lisboa, 07 set 2022 (Ecclesia) – O padre Miguel Vasconcelos, capelão da Universidade Católica Portuguesa (UCP), disse que importa fazer do evento da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023, um percurso “pessoal, profundo e estável” que responda “à sede de infinito dos jovens”.

“Felizmente, tenho olhado para a preparação da JMJ com esse olhar e percebo que querem fazer deste evento um encontro transformador que faça esta passagem dos eventos para um processo. Precisamos aproveitar isto para dizer (aos jovens) que contamos contigo, com a tua força, generosidade, vontade, esforço, dedicação, com a honra e inteireza que dás à tua vida, para apontar para lugares mais altos, para não ficares satisfeito com migalhas de espiritualidade e de felicidade. Isso não chega. Vejo por ai a missão que Deus me confia”, explica em entrevista à Agência ECCLESIA.

Ordenado sacerdote em 2017, no patriarcado de Lisboa, o padre Miguel Vasconcelos entende que a Igreja tem um “tesouro” que necessita cuidar, que é “terra sagrada”.

“As pessoas confiam nos padres, não porque sou eu, mas porque sou padre e isso é uma distinção importante, que me dá serenidade. Essa confiança dá acesso ao que as pessoas são de mais íntimo. Estamos diante de algo precioso, é um tesouro na vida da Igreja: há um lugar para que aquilo que sou de mais profundo possa ser dito, escutado e acolhido. O acesso privilegiado ao coração das pessoas é perigoso porque qualquer passo em falso ou falta de tato, pode ferir e essa vulnerabilidade precisa ser tratada como terra sagrada. E eu preciso de repetir isso todos os dias. Eu sou uma pessoa como as outras, tenho fragilidades, e reconhecer que não estou em meu nome, é fundamental”, sublinha.

Ao olhar para a sua história e também para o seu percurso de crescimento na fé, o padre Miguel Vasconcelos recorda a marca que o padre Ricardo Neves lhe deixou, quando iniciou os campos de férias Milonga, da paróquia de Santo António, no Estoril.

“O cristianismo não é teórico, mas acontece-nos na vida concreta, na relação com pessoas concretas. Conheci o padre Ricardo com 18 anos e ele era alguém que se percebia completamente feliz e completamente entregue e isso é transformador. Quando nos sentimos amados por Deus – e essa é uma realidade que eu acredito ser verdade para todos, quer o sintam ou não. E o padre Ricardo sabia isso acerca de mim e dos outros”, concretiza.

A relação com o sacerdote, então, radicou a “certeza” de que “queria ser cristão”, mas assume o risco porque, explica, “viver a fé é um risco”.

“Não está tudo nas minhas mãos, não sou eu que controlo, eu não realizo, protagonizo, produzo o filme da minha vida. A experiencia da fé não tem nada de seguro ou fixo e quando tem, provavelmente estamos a domesticar a experiência do Evangelho. Quando lemos os Evangelhos não há nada que desinstale mais, que tire mais o chão, que nos dê menos conforto. Quando estou muito confortável com a fé, estou mal, estou instalado e precioso do espirito santo para desarrumar a casa”, explica.

No caminho espiritual que foi fazendo, o estudo da Teologia, deu ao padre Miguel, palavras para dizer Deus, se dizer a si próprio e a realidade que o rodeia.

“As nossas palavras são sempre curtas, a nossa capacidade de formular é frágil e contar com dois mil anos de gente à procura das palavras certas e da melhor forma de dizer o mistério que experimentamos, é extraordinário”, avança.

José Augusto Mourão, Sophia de Mello Breyner Andresson, Adélia Prado ou Bob Dylan são moradas onde o padre Miguel Vasconcelos confirma uma intertextualidade existente, locais onde lê Deus, encontra “a promessa”.

“Nós somos todos a mesma coisa, feitos da mesma massa. Sempre que há uma procura honesta da verdade, da beleza e da bondade, eu posso não dar esse nome, mas estou a caminho de Deus. E se Deus me der essa graça, hei-de encontra-lo e dar-lhe um nome. Se a minha vida de padre puder servir isso, fico muito feliz”, finaliza.

A conversa com o padre Miguel Vasconcelos pode ser acompanhada esta madrugada, depois da meia-noite, no Programa Ecclesia na Antena 1 da rádio pública, ficando disponível no portal de informação ou em formato podcast.

LS

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