Igreja/Estado: Governo da Nicarágua cancelou estatuto legal de 16 ONG, incluindo organizações católicas e evangélicas

Fundação pontifícia AIS congratulou-se com libertação de padres e bispos, mas continua preocupada com falta de liberdade religiosa

Foto: AIS

Cidade do Vaticano, 17 jan 2024 (Ecclesia) – O governo da Nicarágua cancelou esta terça-feira o estatuto legal de 16 organizações não-governamentais (ONG), das quais 10 são católicas ou evangélicas, informa o Vaticano.

Segundo informações do Ministério do Interior do país da América Central, nove ONG foram “banidas” por não cumprirem os regulamentos que as regem e por “obstruírem as operações de controlo e supervisão previstas pelas autoridades”, enquanto as outras sete ONG “solicitaram voluntariamente a dissolução”.

O portal Vatican News refere que “mais de 3500 organizações não-governamentais” foram dissolvidas pelo governo da Nicarágua, desde 2018, quando apareceram os protestos populares contra a reforma da previdência social.

No último domingo domingo, o governo da Nicarágua anunciou a libertação de dois bispos – D. Rolando Álvarez, detido há mais de um ano, D. Isidoro del Carmen Mora Ortega – de 15 sacerdotes católicos e dois seminaristas, que vão ser acolhidos pela Santa Sé; a19 de outubro de 2023, o Vaticano anunciou também que ia receber 12 sacerdotes deste país, e em fevereiro um grupo foi para os Estados Unidos da América.

D. Rolando Álvarez, bispo de Matagalpa e administrador apostólico da diocese de Estelí, tinha sido condenado a 26 anos de prisão, estava na prisão desde fevereiro de 2023, depois de ter estado em prisão domiciliária desde agosto de 2022.

A Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) congratulou-se com libertação deste padres e bispos na Nicarágua, mas assinala que continua preocupada com falta de liberdade religiosa no país do continente americano.

“É uma boa notícia o facto de o bispo Rolando Alvarez já não se encontrar na prisão, embora não se deva esquecer que esteve detido durante 16 meses. Esperamos que ele possa receber o apoio necessário para recuperar após o longo período de detenção”, disse a presidente-executiva internacional da AIS.

Regina Lynch destacou também a libertação dos restantes membros da Igreja Católica lamentando a “tremenda injustiça que é o facto de terem sido obrigados a viver longe dos seus rebanhos e das suas famílias”, salientando que “a incerteza e o medo entre a comunidade também são grandes”.

A 8 de janeiro, perante diplomatas de todo o mundo, o Papa referiu-se ao conflito entre o governo da Nicarágua e a Igreja Católica, que levou à prisão de vários membros do clero e ao encerramento de diversas instituições eclesiais.

“A Santa Sé não cessa de convidar a um diálogo diplomático respeitoso pelo bem dos católicos e de toda a população”, afirmou Francisco, na tradicional audiência de início de ano, para apresentação de cumprimentos dos membros do corpo diplomático acreditado junto da Santa Sé.

A tensão entre o regime de Daniel Ortega e a Igreja Católica, agudizou-se nas semanas que antecederam as eleições presidenciais de 2021, das quais sairia vitorioso, depois de mandar prender vários pré-candidatos da oposição; em março de 2022, foi expulso o núncio apostólico, o representante diplomático da Santa Sé, D. Waldemar Stanislaw Sommertag.

“Rezamos para que a Igreja e o povo da Nicarágua sejam um dia livres de dizer o que pensam e de praticar a sua fé sem medo ou repercussões”, acrescentou Regina Lynch, responsável da fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre.

CB/OC

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