Igreja/Estado: Binómio «crença/descrença» é insuficiente para compreender separação

Congresso internacional na UCP analisa cem anos de relacionamento, no contexto da implantação da República

Lisboa, 13 abr 2011 (Ecclesia) – O historiador Matos Ferreira afirmou hoje que o “binómio crença/descrença é insuficiente para captar e interpretar as dinâmicas das sociedades contemporâneas”, mormente nas relações entre Igreja e Estado.

Na abertura do congresso internacional de história, «100 anos de separação – Religião, Sociedade e Estado», que decorre em Lisboa até ao próximo dia 16, este responsável assumiu que a iniciativa pretende refletir sobre “a problemática da separação em diferentes sociedades e experiências religiosas e em diversos espaços geográficos”.

Não é remota a “reivindicação da necessidade dos Estados” terem em consideração a expansão das correntes religiosas, visto que estas “expressam tensões e conflitos internos nas sociedades”, frisou o diretor do Centro de Estudos de História Religiosa (CEHR) da Universidade Católica Portuguesa (UCP) , entidade que organiza este congresso.

António Matos Ferreira referiu à Agência ECCLESIA que nem o Estado nem a Igreja são “realidades estáticas”, pelo que os desafios da contemporaneidade “estão relacionados com a perceção e memória que se constrói nas nuances da realidade”.

O diretor do CEHR sublinha que o papel do historiador “não é discutir o passado a partir das conflituosidades”, mas reconhece que houve um “processo difícil” nas relações Igreja/Estado no início do século XX.

Na sessão de abertura deste encontro, o secretário de Estado da Cultura, Elísio Summavielle, afirmou que os balanços críticos são fundamentais, considerando, no entanto, que atualmente a sociedade portuguesa está “num quadro complemente diferente”.

As “contingências e extremismos” foram uma realidade na implantação da I República, todavia, no tempo presente e 100 anos depois da lei da separação, são múltiplas as “envolvências e cumplicidades” entre o Estado e a Igreja Católica.

Neste domínio de cooperação, Elísio Summavielle frisou o projeto da «Rota das Catedrais» no qual 25 sés de Portugal serão “recuperadas e valorizadas” através de um acordo estabelecido entre o Estado e a Conferência Episcopal Portuguesa.

Em declarações à Agência ECCLESIA, Edgar da Silva Gomes, historiador da Universidade Católica de São Paulo, Brasil, realça que naquele país “não houve uma separação” entre a Igreja e o Estado.

A interdependência entre as instituições religiosas e o Estado brasileiro era evidente, visto que o “Estado dependia muito da Igreja, especialmente na questão da educação”, disse o conferencista brasileiro que fala, esta tarde, sobre «A separação Estado-Igreja no Brasil: realidade prática ou ficção formal».

Neste país do outro lado do Atlântico foi também promulgado o decreto de separação da Igreja/Estado, com data de 7 de janeiro de 1890, o que aconteceu em Portugal a 20 de abril de 1911.

Através das suas investigações, o historiador brasileiro nota que os documentos dos dois países são “muito similares”, no entanto – no caso do Brasil – “o decreto não rompe com a realidade”.

O congresso «Religião, Sociedade e Estado: 100 anos de separação”, que começou esta quarta-feira em Lisboa, inclui mais de uma centena de comunicações sobre temas históricos e atuais, proferidas por investigadores universitários da Europa, América, Ásia e África.

LFS

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