Igreja está mais atenta aos migrantes

D. Januário Torgal Ferreira apresenta balanço da sua missão à frente de comissão episcopal das migrações e turismo No termo de um percurso de serviço, é oportuno, mas sobretudo, útil, um olhar de avaliação sobre o que fomos e fizemos. De acordo com os estatutos da Conferência Episcopal, o Bispo presidente de uma Comissão não poderá prosseguir em funções após o exercício de dois mandatos (6 anos). Sendo assim, cumpre-me exprimir as saudações mais jubilosas e os meus votos de êxitos pastorais, ao novo Presidente deste sector, o Senhor D. António Vitalino, bispo de Beja, com o qual trabalharei como vogal da Comissão da Mobilidade Humana , a partir desta nova fase, após as eleições da Conferência, em Abril passado. Avaliando o caminho andado, e aí incluídos os meus naturais defeitos de visão, destaco: 1. Contacto com Comunidades portuguesas e capelães. Para além das visitas pessoais, fomos da opinião que era fundamental termos um elo de comunhão. Intitulá-mo-lo “Pontes”, modesta publicação com o objectivo de criar laços, dar notícias e lembrar pessoas. Na Suiça, há seis anos, o Padre Joaquim Pinheiro, da diocese de Braga, lembrava-me o estado de solidão dos padres. Respondi que, na impossibilidade de uma proximidade mais viva, tinha o propósito de lançar uma mediação escrita entre todos. Assim nasceu o “Pontes”. 2. Aspectos da mesma comunhão. Tentou-se entrar em contacto com vários sectores espalhados pelo mundo através dos seus leigos. Quer no âmbito de países da América quer, sobretudo nos da Europa, alongando-nos até à África do Sul, foi possível organizar encontros sectoriais, recolhendo experiências e sensibilidades. Desta forma, não foi utópico sonhar com o I Encontro Mundial de Comunidades Portuguesas, realizado em Março de 2005, no Porto. Dessa reunião magna ficaram conclusões. Não sei como será. Sei que devemos prosseguir. Continuo a pensar que, respeitadas as características de cada sector do país, era fundamental a construção de um plano pastoral para o mundo migratório. 3. Responsabilização dos Secretariados Diocesanos Foi intuito que os Secretariados de cada diocese se encontrassem. Mas, para além dessa reunião anual, houve o cuidado de propor momentos de reflexão em cada ano, congregando ora as dioceses de norte, ora as do sul do país. 4. Formação da acção sócio-caritativa De parceria com a Caritas, em cada Janeiro, em Fátima, uma sessão de formação, no âmbito sócio-caritativo, onde acorrem as várias dioceses. Aspectos como os da Comunicação Social, da habitação e outros, congregaram dezenas de pessoas para que a sua presença no campo migratório possuisse uma fundamentação exigente e renovada. 5. Imigração É indiscutível que este tema foi emblemático. Pela sua densidade, tornou-se espelho de inquietações e da missão que lhe correspondeu. Acentuo este aspecto, pois outros domínios do nosso empenhamento não passaram com tanta notoriedade para a comunicação social e para o interior da Igreja. Releve-se a atitude normal, mas firme, longe de tibiezas e sem receios, na defesa da verdade dos direitos dos imigrantes, quer directamente quer através grupos e instituições da Igreja Católica. Exigiu-se justiça e clamou-se por humanidade nas entradas; dialogou-se com as mais altas instâncias do poder político e da Conferência Episcopal Portuguesa; deram-se as mãos a católicos e a não católicos, unidos numa frente comum de solidariedade da sociedade civil, nunca nos afectando o desinteresse, a indiferença ou o mau juízo, vindo de quem nunca deveria ter vindo. É mais fácil imitar de decisões oficiais e o alinhar com medidas consensuais de domínios identificados com certos poderes. Diga-se em abono da verdade, que apesar da timidez de certos meios, as nossas posições tiveram a favor a opinião unânime de promotores da justiça social e de analistas de primeira água. Muito se apregoa que a Igreja deve estar com os pobres. Mas, chegados à hora, tenta-se conciliar opostos e assumir posições que não dêem muito nas vistas… O que impressiona é não se querer ir mais além no âmbito da justiça. A “nova evangelização” bem deveria exemplificar esses “atrevimentos cristãos”. Mas, cristãos a adjectivarem atrevimentos, são de outras eras… Prosseguiremos. Nada terminou. Restam problemas e inquietações de aflitos. A questão de capelães, para as comunidades, continuará a colocar-se. Também a de Igrejas de países, com dificuldades económicas e impossibilitadas de acorrer a pedidos concretos para que sejam nomeados mais missionários. É fundamental diálogo e consonância entre capelães e representantes nacionais. Que a pastoral avance em criatividade. É exigível que o silêncio e a rotina não abafem o nosso entusiasmo e espírito de entrega! D. Januário Torgal Mendes Ferreira

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top