Igreja/Ensino: «Escola tem de voltar a ser um lugar político» – Alfredo Teixeira (c/ vídeo)

Antropólogo lembra importância do «diálogo», recordando conclusões do II Congresso Nacional da Escola Católica

Foto: João Cláudio Fernandes

Lisboa, 12 nov 2024 (Ecclesia) – O antropólogo Alfredo Teixeira, que apresentou as ‘perspetivas emergentes’ do Congresso Nacional da Escola Católica 2024, disse à Agência ECCLESIA que “a escola tem de voltar a ser, de alguma maneira, um lugar político”.

“Político neste sentido de construção de pessoas que são capazes de viver com os outros. Porque, de alguma maneira, o aprofundamento atual das democracias depende disso”, explicou o docente da Universidade Católica Portuguesa (UCP).

Alfredo Teixeira salienta que as Escolas Católicas “transportam um património”, e, talvez, desse ponto de vista, se possa distinguir por ter essa “dimensão carismática”, porque “não se trata apenas de organizar um processo de circulação de informação, uma escola informacional”, mas de uma escola que transporta uma cultura.

Foto: João Cláudio Fernandes

“E estas escolas, em muitos casos, enfrentam, neste momento, também dificuldades. Lembremos que algumas delas, por exemplo, são tuteladas por Institutos Religiosos, que tiveram na sua fundação verdadeiros profetas da educação, ou seja, tiveram intuições muito fortes para responder a necessidades do seu tempo, e, neste momento, estão numa fase de transferência, grande parte das responsabilidades que estavam distribuídas por membros desses Institutos Religiosos, agora estão a ser transferidas para outros atores”, desenvolveu.

Neste contexto, o antropólogo realçou que esse processo de transferência “é, de alguma maneira, um momento de crise”, mas “os momentos de crise podem ser criativos”, e desse ponto de vista, “o grande desafio é perceber” como é que essa tradição “pode agora, em circunstâncias diferentes, com outros atores, recolocar-se” e pode continuar a “ser uma língua viva e não uma língua morta”.

As Escolas Católicas em Portugal realizaram o seu II Congresso Nacional, com o tema ‘Escola Católica – identidade e pacto num mundo global’, que reuniu 350 participantes, nos dias 10 e 11 de outubro, no Centro Pastoral Paulo VI, do Santuário de Fátima.

Foto: João Cláudio Fernandes

Segundo o professor da Faculdade de Teologia da UCP, que acompanhou o congresso da Escola Católica para, no final, apresentar as ‘perspetivas emergentes’, “a escola tem que voltar a ser, de alguma maneira, um lugar político” e explica aqueles que vivem a Escola Católica, neste momento, “têm as características próprias da sociedade portuguesa”, que é culturalmente católica, “ou seja, muito marcada, de facto, por esta memória”, mas, em muitas circunstâncias, “o catolicismo é uma referência que, porventura, já não é preenchida com o reconhecimento claro daquilo que são os valores, as narrativas, os símbolos que a preenchem”.

“Nesse sentido, de alguma maneira, um projeto educativo numa Escola Católica hoje tem que ser um projeto que pensa a educação a partir de todos os seus atores. O que é que todos os atores precisam?; para muitos adolescentes hoje, o único lugar de encontro, confronto com a mensagem cristã viva, às vezes, pode ser a escola católica”, desenvolveu o investigador, em entrevista ao Programa ECCLESIA, emitido hoje na RTP2.

O segundo congresso nacional das Escolas Católicas, mais de 20 anos após a primeira edição, foi promovido pela Associação Portuguesa de Escolas Católicas (APEC) e pelo Secretariado Nacional da Educação Cristã (SNEC), da Conferência Episcopal Portuguesa.

HM/CB/OC

Foto: João Cláudio Fernandes

O cardeal D. José Tolentino Mendonça, prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação (Santa Sé), na intervenção de abertura do congresso, numa mensagem gravada em vídeo, fez “uma pergunta importante e que foi, de alguma forma, orientadora na reflexão durante os trabalhos”, segundo o antropólogo Alfredo Teixeira.

“Ele enuncia uma resposta que me parece muito fecunda, uma resposta muito simples. Nós queremos saber quem somos para dialogar. E talvez, neste momento, as Escolas Católicas estejam a reconstruir-se, já não apenas na lógica que foi muito importante historicamente de afirmar a liberdade de educação, de afirmar, de facto, o seu lugar próprio, específico, a sua autonomia na construção de projetos educativos, mas também numa outra dimensão que é, perante aquilo que é o desafio que é educar hoje, como é que, de facto, esta matriz católica habita o ato educativo”, desenvolveu o entrevistado, professor da UCP.

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