Igreja e mundo mediático

Publicação especial da Agência ECCLESIA analisa e projecta presença católica na comunicação social Na vertiginosa lógica da comunicação, a Igreja Católica quer sintonizar o seu discurso com os media e as pessoas. Presenças e linguagens estão em análise na edição especial da Agência ECCLESIA, a publicar no dia 29 de Abril, particularmente numa série de entrevistas a figuras incontornáveis nesta relação. O Presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, D. Manuel Clemente, admite problemas na relação com os Media, mas avança justificações. “Sobre a hierarquia, há que dizer que esta está no centro da vida eclesial, que é algo muito complexo. O centro, precisamente para desempenhar o seu papel, é o foco das tensões mais variadas e vindas de diversos sentidos”, assinala, frisando que “a obrigação de coordenação que o centro tem, não lhe permite algumas posições de maior risco e inovação”. Este responsável afirma que “é bom que a Igreja tenha a Agência ECCLESIA, tenha a Rádio Renascença, que exista um variado número de semanários locais e um ou dois diários. É bom que tenha também presença na televisão pública e em alguma privada. É uma presença definida. É importante que as pessoas saibam quem é que estão a ouvir, em que termos e com que intuitos”. “Mas também é bom o que acontece – e tomara que aconteça muito mais – haver pessoas da comunicação social que são igualmente cristãs e no seu local de trabalho são testemunho de uma vida aberta ao religioso”, prossegue. Sobre a possibilidade de vir a Igreja ter ou não um diário, D. Manuel Clemente refere que este “é uma coisa muitíssimo cara”, mas admite que “seria positivo a existência de um diário que publicasse uma visão católica das questões e dos problemas”. “Não é um sonho de alguns. É uma possibilidade. Mas a questão financeira é muito importante”, assinala. Sem atrasos Numa outra entrevista, o Cón. António Rego coloca a Igreja na linha da frente, em matéria de comunicação. “A ideia de superfície é que a Igreja anda atrasada em matéria de comunicação social. É mentira. Ela anda na frente em matéria de imprensa, rádio, televisão e novos media”, assinala. “Desde o início que a Igreja foi à frente nesta reflexão. Nem sempre investe meios à maneira dos grandes grupos económicos, mas sabe o que quer e aonde deve chegar”, diz ainda. Interrogado sobre que projectos ajudam ou poderiam ajudar à afirmação da Igreja no campo dos media, em Portugal, o director do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais pede “uma grande atenção ao casamento dos media convencionais com os novos media”. “Há regras comuns. Acho que estão abertos caminhos para uma informação eclesial mais rápida, completa, profissional. Importa perceber a evolução da doutrina impressa para as potencialidades on-line nas novas plataformas que se oferecem à proclamação do Evangelho sobre os telhados. Mas também iniciativas muito concretas na área das paróquias, dioceses, organismos nacionais”, aponta. Em relação ao tratamento dos temas religiosos no meio audiovisual, António Rego regista “um crescimento do religioso nos media na área celebrativa, de reportagem, de análise e crítica”. “Não tem um tratamento subserviente, por vezes desfoca o essencial, mas não retira o religioso do coração da sociedade. Pelo contrário, propõe-no de forma mais crítica, o que também propicia aos crentes e não crentes uma aproximação à Igreja no seu todo humano e divino. Por vezes não é eclesiasticamente simpático, mas enquadra a Igreja num conjunto de dinamismos da nossa sociedade”, observa. Percursos D. Manuel Falcão, Bispo emérito de Beja e um dos nomes mais marcantes da história recente da Igreja Católica em Portugal, apresenta-se como um autodidacta que, apesar da longa experiência na comunicação social, não se considera “um jornalista”. Inclina-se para a realização de um novo Concílio e lembra que desde o Vaticano II surgiram novas questões, com destaque para o boom da Internet. “Eu julgo que seria muito oportuno outro Concílio, tanto mais que a evolução cultural e social do mundo moderno tem sido muito profunda e rápida. As situações de hoje são diferentes”, justifica. Os 85 anos de vida do prelado são marcados pela paixão de comunicar: tinha um jornal familiar, acompanhou o Concílio Vaticano II, criou o Serviço de Informação Religiosa e lançou o Boletim de Informação Pastoral, continuou a assinar peças no “Noticias de Beja” com a sua escrita sóbria e, mais recentemente, deu ao público uma “Enciclopédia Católica Popular”. Tudo isso e muito é passado em revista nesta entrevista.

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