Igreja do Santíssimo Sacramento: da iminência do encerramento à distinção pelo restauro

História, fé e teologia foram mais importantes do que o valor artístico na decisão de recuperar o templo lisboeta

Lisboa, 11 Jan (Ecclesia) – A primeira vez que o padre Armando Duarte entrou na igreja do Santíssimo Sacramento, em Lisboa pensou: “Vou fechá-la porque há aqui templos de sobejo, além de ser uma despesa e um risco por causa do estado em que está”.

Na Segunda-feira, nove anos depois de o sacerdote ter tomado posse da paróquia lisboeta situada no Chiado, o trabalho de restauro realizado naquela igreja desde 2007 foi distinguido pelo prémio Vilalva, atribuído pela Fundação Calouste Gulbenkian.

A história, a fé e a teologia pesaram na determinação de recuperar o templo do século XVII, que sofreu graves danos durante o terramoto de 1755 e, mais recentemente, com o incêndio de 1988 no Chiado.

“A seguir ao Concílio de Trento, em que a Igreja se multiplicou contra a heresia protestante, que colocava em causa a presença real de Cristo na Eucaristia, o arcebispo de Lisboa quis que a cidade tivesse uma paróquia dedicada ao Santíssimo Sacramento”, recordou o padre Armando Duarte à Agência ECCLESIA.

“Comecei a rezar o assunto e a perceber que seria escandaloso passar à geração seguinte uma igreja dedicada ao Santíssimo Sacramento que estivesse em ruínas, não tanto por razões relacionadas com o património, mas pela fé”, acrescentou.

O também responsável pela paróquia dos Mártires estima que terão sido gastos até agora 400 mil euros no restauro, que entre outros benefícios possibilitou “o ressurgimento” do tecto pintado a partir do fim do século XVIII por Pedro Alexandrino, naquela que será a sua obra mais representativa.

Mais de metade daquela verba foi obtida através da indemnização de 180 mil euros concedida em 2007 pelo Metropolitano de Lisboa, acrescida de uma oferta de 40 mil euros feita pela mesma empresa.

O pároco sublinha que “os fiéis têm sido generosos” mas lamenta que o mecenato empresarial “não seja significativo” e que a empresa proprietária do parque de estacionamento junto à igreja nunca tenha assumido qualquer responsabilidade, apesar de, segundo afirma, ser a causadora da maior parte dos estragos que atingiram o templo.

O pároco admite que “os tempos estão difíceis e as empresas, em tempo de crise, têm muita dificuldade em perceber que ela só se ultrapassa com a partilha e com a ajuda de Deus”.

Para concluir a recuperação falta quase o valor gasto até agora: 360 mil euros, distribuídos pela finalização do restauro (35 mil), instalação eléctrica (40 mil), arranjos exteriores (120 mil) e órgão (165 mil).

Os 50 mil euros do prémio vão ser aplicados no restauro, embora o padre Armando Duarte tenha considerado optar pela diminuição das obrigações financeiras contraídas até agora.

“Parei as obras em Agosto de 2010 porque já estava com uma dívida de 70 mil euros e não a queria exagerar. Um dos destinos poderia ser tapar esse buraco. Mas parece-me que não estaria a ser fiel ao espírito do prémio e vou fazer o restauro dos tectos da sacristia e do nártex” (zona de entrada), explicou.

A igreja do Santíssimo Sacramento continua a ser a única em Lisboa a designar-se por aquela invocação e também a única orientada para nascente.

RM

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