Igreja: Do lugar do privilegiado até à criação de «refúgio» para o outro – a intervenção de Inês Espada Vieira na construção «plural» que é o mundo

Professora da UCP recorda o batismo aos 11 anos, o primeiro encontro em Taizé, o mundo aberto pela experiência de Erasmus e o seu lugar na comunidade de São Tomás de Aquino

foto: Agência ECCLESIA/MC

Lisboa, 25 mai 2022 (Ecclesia) – Inês Espada Vieira, professora da Universidade Católica Portuguesa (UCP) e vice-presidente do Centro de Reflexão Cristã (CRC), indica a importância de espaços “livres e plurais” na Igreja, e explica que o encontro entre diferentes sensibilidades ganha quando se estabelece “diálogo”.

“Livre e plural. Esse é o sonho da Igreja e que ajudo a construir no Centro de Reflexão Cristã. Não há nada imposto, todos temos uma voz. Naturalmente parte de uma abertura, de experiências de vanguarda na posição de homens e mulheres na Igreja, no modo como entendem a relação dos religiosos com os leigos, da maneira de estar no mundo, (com) os católicos presentes assumidamente na vida pública, sem serem todos iguais. É no diálogo que nos fazemos, nós sociedade e nós indivíduos. Não há outra forma, é sempre pensando em relação”, explica a docente de Língua Portuguesa na Faculdade de Ciências Humanas, da UCP.

Pertencer ao CRC “é um privilégio absoluto” para Inês Espada Vieira, que fala numa “espécie de gasolina para o motor”.

“O CRC é um lugar de liberdade, de pluralidade, de vitalidade, de diálogo entre gerações, de questionamentos, de andar para a frente e para trás, à procura da melhor versão de nós”, indica.

Inês Espada Vieira, nascida em 1975, reconhece-se “filha da madrugada” e assume este seu “contexto”, “não como um peso”, mas como uma “capacidade de ação”.

“É das coisas mais bonitas sentir que sou filha da madrugada. É de uma esperança, é a melhor coisa que nos aconteceu na história recente não só porque abre para a transição o regime que hoje temos, mas porque é de verdadeiramente um dia inteiro e limpo. A responsabilidade não pode ser um peso, porque os pesos embotam a nossa vontade, mas antes uma consciência das possibilidades, do que podemos fazer”, assume.

O contexto familiar, com o pai jornalista e a mãe professora, fizeram Inês Espada Vieira crescer com “livros em casa”, facto que sublinha porque hoje, como professora, sabe que há casas onde não existem livros, e que esta possibilidade a ajudou a ir escolhendo caminhos.

Nunca pensei no que queria fazer, mas numa redação do segundo ano, eu falava em ser professora ou lavadeira. Eu fui sendo coisas, nunca escolhi o fim mas os caminhos: a universidade, o curso, uma disciplina. Fui sempre vivendo cada momento, e a minha consciência é que podemos ser felizes com muitas alternativas. Mas é preciso sorte e reconhecer o lugar do privilegiado. Há pessoas com lutas que não imaginamos”.

Na procura de dar resposta ao reconhecimento “do lugar do privilegiado”, e “numa clara resposta ao que o Papa Francisco disse em Lampedusa”, Inês Espada Vieira envolveu-se no acolhimento aos refugiados, tendo sido responsável na paróquia de São Tomás de Aquino, em Lisboa, por esse trabalho, e na Comissão Executiva da Plataforma de Acolhimento aos Refugiados (PAR).

“Acolher ou não acolher refugiados não depende se a pessoa merece ou não. O nosso lado humanitário e a solidariedade não é uma opção. É assim. A experiência de acolhimento de refugiados na paróquia de São Tomás de Aquino foi uma mudança de vida. Há um sofrimento no outro que tentamos apaziguar, consolar, mas há um lugar onde não chegamos. E ficamos nós a sofrer com esta nossa incapacidade, temos de a aceitar”, lamenta.

A professora universitária explica que tem refletido sobre “exilio, desterro, desenraizamento” e afirma que a educação deve ser a chave para entender a dimensão do outro.

O que podemos fazer passa pela educação nas comunidades para o acolhimento, nas pessoas, partilhar experiencias, e exigir do Estado que não seja apenas os braços abertos do início mas que esteja na linha da frente, proporcionando possibilidade de vida, sabendo que ninguém começa a vida se não tiver um chão e um teto, que se chama refúgio”.

Inês Espada Vieira afirma-se ainda uma filha da escola pública, contexto que lhe deu diversidade entre colegas e professores.

“Era um espaço plural e em construção, e que me mostrava – como acho que mostra hoje – as diferenças dos nossos professores. É nesta variedade que deve prosseguir nos dias de hoje. Pais, cidadãos, professores, devemos viver desta riqueza e não ter medo de discordarmos”, sublinha.

A conversa com Inês Espada Vieira pode ser acompanhada esta madrugada, pouco depois da meia-noite, no programa Ecclesia na Antena 1 e escutada, posteriormente, no portal de informação ou em formato podcast.

LS

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