Respeito pelo país de acolhimento fez refrear a festa pintada de verde e vermelho
Luxemburgo, 18 nov 2019 (Ecclesia) – Os emigrantes portugueses no Luxemburgo vibraram este domingo com a vitória por 0-2 da seleção de Portugal, no estádio Josy Barthel, celebrando, em torno de “um símbolo, de um ícone”, a união ao seu país de origem.
“Hoje um cidadão emigrante é um homem e mulher de várias pertenças, ama várias terras e estilos de música, várias comidas e várias equipas e esse é o caminho certo para uma sociedade integrada”, conta hoje à Agência ECCLESIA o Padre Rui Pedro, missionário scalabriniano, a residir no Luxemburgo, manifestando o coração dividido de alguns portugueses perante o jogo que apurou a seleção portuguesa para a fase final do Europeu de 2020.
O missionário português, atualmente na missão católica de Esch-sur-Alzette, na fronteira entre a França, Bélgica e Luxemburgo, no sul do país, sendo a segunda cidade do país, dá conta de lotação esgotada no estádio Josy Barthel, “dias antes da partida” e das bandeiras verdes e vermelhas que desfilaram até ao estádio.
“Nos cafés e nas ruas já se falava neste jogo; para nós foi uma honra receber a seleção portuguesa, que é constituída por emigrantes”, sublinha o sacerdote.
“Recebemos os nossos heróis, aqueles em que acreditamos, que podem levar bem alto o nome de Portugal e podem fazer com que este hino possa ser ecoado, ressoado em todo o lado. Para os emigrantes que estão longe, estes símbolos fazem-nos reviver boas memórias, fazem reviver a terra de origem, amiga”, explica o padre Rui Pedro.
Em torno da seleção portuguesa percebe-se na comunidade emigrante uma “atitude de exultação, de reviver uma identidade, de afirmar em público a identidade de um povo, pelo menos a origem”.
A população luxemburguesa é composta por emigrantes: 49% são estrangeiros, com uma presença portuguesa que ronda os 15%.
Com um carisma vocacionado para acompanhar as migrações, o sacerdote scalabriniano dá conta das alterações que a pessoa emigrante tem sofrido: “O emigrante é hoje um homem de múltiplas pertenças e o desporto pode até dividir, uma vez que a descendência pode torcer pelo Luxemburgo e os pais mantêm-se fies à seleção do seu país de origem”.
O Luxemburgo é para muitos a terra que os acolheu, “a terra que criou os filhos e lhes deu trabalho, onde casaram” e onde tencionam permanecer, apesar da primeira geração apresentar fluxos “pendulares”: “dois meses cá, dois meses em Portugal”.
Mas o desporto rei é ainda uma forma de união e até de integração, explica o missionário.
“Há 50 anos os emigrantes portugueses como não podiam jogar no campeonato nacional por não terem nacionalidade luxemburguesa, criaram um torneio paralelo, porque o seu amor ao desporto era muito forte. Dali saíram muitos bons atletas que vieram a engrossar as equipas do Luxemburgo”, conta o sacerdote.
Sobre a seleção o padre Rui Pedro salienta ainda a participação do selecionador Fernando Santos na missa em Bonnevoie, na capital luxemburguesa.
“Este bonito exemplo de um homem que, com grandes compromissos e de grandes responsabilidades, no meio de tudo, sabe manter a sua vida espiritual e seja onde for, lá esteve ele, no meio da assembleia a participar para dar um complemento à sua atividade desportiva e à sua fé cristã. Para nós, comunidade cristã, este é um gesto de grande valor”, sublinhou o missionário.
LS