Igreja debate projectos pastorais com os ciganos

Os directores nacionais da Pastoral para os Ciganos iniciaram no dia 11 uma reunião de dois dias em Roma, para aprofundar o documento “Orientações para uma Pastoral dos Ciganos”, com o objectivo da promoção efectiva da pastoral da população cigana. , Segundo um comunicado do Cardeal Martino, promotor do encontro, foram convidados para a reunião os directores nacionais de todos os países onde existe uma pastoral específica em favor dos ciganos: os países europeus, Estados Unidos, México, Brasil e Índia. Pela primeira vez, participam no encontro representantes de Bangladesh, Chile, Filipinas e Indonésia. Os ciganos, conhecidos por distintos nomes – rom, sinti, manouches, kalé, yeniches, zíngaros, etc. – são um grupo étnico específico que provavelmente teve sua origem na zona ocidental da Índia, e cujo número só na Europa oscila entre os 9 e 12 milhões, com concentração no Leste europeu. Na Itália, os ciganos são 0,16% da população nacional. No mundo contam-se 36 milhões, na sua maioria na Índia (18 milhões). “Orientações para uma Pastoral dos Ciganos” é o primeiro documento da Igreja, na sua dimensão universal, dedicado aos ciganos. Foi publicado pelo Conselho Pontifício da Pastoral para os Migrantes e os Itinerantes, no dia 8 de Dezembro de 2005. «A Igreja está presente entre os ciganos com sacerdotes, religiosos e religiosas, ajudados por agentes pastorais, na sua maioria leigos», que «desempenham o seu serviço adaptando-se às exigências destas pessoas», pode ler-se no comunicado Entre as principais dificuldades enfrentadas, está o escasso conhecimento da «identidade e cultura peculiares», que estão na base de «acções discriminatórias e agressivas para com a população cigana». «Outro problema sobre o qual a Igreja não pode calar é a violação, no caso desta população, dos direitos fundamentais à moradia, à escolarização das crianças, ao trabalho e à assistência médica». O comunicado sublinha também que «se deve ter em conta que o empenho dos agentes pastorais tornou-se difícil por atitudes negativas assumidas pelos próprios ciganos e também pela imagem menos positiva que os meios de comunicação social oferecem». «A Igreja compromete-se a renovar a sua acção pastoral específica para evitar o refúgio nas ‘seitas’, a dispersão de seu património religioso ou o isolamento. A base disso é uma reflexão bíblica, à luz da qual o ambiente nómada encontra uma compreensão cristã», acrescenta o comunicado. Assim, no início ao encontro, o Cardeal Martino reafirmou ser “necessário reconhecer os valores da cultura dos ciganos, proteger sua dignidade e respeitar sua identidade, encorajando iniciativas de promoção e defesa de seus direitos”. Ressaltou a importância de responder às expectativas dos ciganos na sua busca de Deus, orientando os seus passos segundo o ensinamento de Cristo e recordou ainda, que a pastoral para os nómadas exorta todo o povo cristão a uma conversão de pensamento e de atitudes, a fim de instaurar com os ciganos uma relação positiva. “Apesar do seu contributo na história dos países e na cultura dos mesmos, nem sempre a vida dos ciganos tem sido tranquila”, prosseguiu o Cardeal Martino referindo-se à descriminalização e marginalização de que são alvo. “Vários organismos empenham-se em programas de ajuda, assegurando às comunidades ciganas os valores fundamentais da democracia e da igualdade, sobretudo ao nível da saúde, trabalho, alojamento e acesso aos estudos”, referiu. “Sendo a Igreja sinal do amor de Deus pelos homens e da vocação de todo o género humano a encontrar unidade em Cristo, ela não pode nem deve aceitar situações de marginalização na qual vivem inteiras populações” considerou o Cardeal Martini. Especialistas e estudiosos estão encarregues de expor o documento «Orientações» nas suas dimensões antropológica, sociológica, teológica e eclesial, sem esquecer os aspectos histórico e jurídico-legislativo. Os trabalhos do encontro debruçaram-se sobre a espiritualidade do agente pastoral, animado no serviço pela «reciprocidade do amor», como evidencia Bento XVI na sua encíclica «Deus caritas est». O documento trata em especial das questões que interpelam a Igreja: «a situação de marginalização e de pobreza na qual ainda vivem muitíssimos, e os preconceitos e as discriminações de que são objecto». A Igreja «reconhece o direito de ‘viver juntos’ e apoia iniciativas de sensibilização, com vistas a uma maior justiça, no respeito recíproco das culturas e das leis». A Santa Sé presta uma atenção pastoral especial aos ciganos desde 1965, após a I Peregrinação Internacional dos Ciganos a Roma, que deu origem ao Secretariado Nacional de Apostolado Cigano. Em 1998, João Paulo II criou o Conselho Pontifício para a Pastoral dos Imigrantes e Itinerantes, confiando-lhe, através da constituição apostólica «Pastor Bônus», a tarefa de «se empenhar para que nas Igrejas locais se ofereça uma eficaz e apropriada assistência espiritual.» A 4 de Maio de 1997, os ciganos assistiram à beatificação do mártir espanhol Ceferino Jiménez Malla, primeiro cigano elevado à honra dos altares. (Com Zenit e Rádio Vaticano)

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