Em Fajão, muitas pedras são memória do artista e as vozes que por lá se ouvem recordam as férias do sacerdote da Diocese de Coimbra na aldeia
Lisboa, 21 ago (Ecclesia) – Monsenhor Nunes Pereira é um artista de “alma serrana”, imortalizou o património da sua aldeia na sua obra e “projetou Fajão para o mundo”.
Natural da Mata, na freguesia de Fajão, Pampilhosa da Serra, Nunes Pereira nasceu a 3 de Dezembro de 1906, foi ordenado padre em 1929 e desde cedo estampou em criações artísticas o quotidiano da serra, que foi o seu “berço”, sobretudo através da xilogravura em madeira e em pedra.
Monsenhor Nunes Pereira faleceu aos 94 anos, em Coimbra, onde se pode visitar um Museu com parte das suas obras de arte, no Seminário Maior, que se disseminaram por muitas geografias a partir da sua terra natal, onde um núcleo museológico mostra não só a sua criação artística, mas também o ambiente serrano em que ela nasceu.
O programa 70×7 deste domingo (RTP2, 17h57) mostra as imagens da serra que revelam a alma e as obras do artista e dá voz aos habitantes da região que recordam as férias de monsenhor Nunes Pereira, em Fajão.
“Foi um homem que lidou muito com as gentes de Fajão! Vinha cá passar férias sempre no mês de Agosto e era um homem excecional”, diz o atual presidente da Junta de Freguesia de Fajão-Vidual.
Carlos Simão refere que as obras de arte de monsenhor Nunes Pereira “saíam-lhe das mãos” naturalmente, como testemunhou em cada verão que o sacerdote passava em Fajão e deixava gravadas nas pedras das paredes da residencial ou do restaurante locais cenas do quotidiano, que lá permanecem.
Para o pároco de Fajão, “a alma serrana este sempre presente na sua vida” e, a partir dela, “convidava a olhar o mundo”.
O padre Manuel Simões recorda que conheceu monsenhor Nunes Pereira há 40 anos, a “primeira imagem” que guardou dele, de “um homem austero, rude, um homem voltado para si mesmo, enfiado dentro do seu gorro e do seu casacão”, e sobretudo o realismo da pessoa que depois se descobre: “um homem muito simples, muito sábio, cheio de humor e com frases muito curtas, mas cheio de vida, de sabedoria”.
“Não queria fazer arte pela arte. Ajudava-nos a ler o divino na realidade simples da vida, sobretudo da vida simples serrana, na vida difícil das pessoas”, acrescenta.
Cidália Santos, responsável pelo Museu Nunes Pereira do Seminário Maior de Coimbra considera que olhar para as obras de Nunes pereira “é olhar para uma pessoa que dedicou toda a sua vida à arte e se deixou guiar pelo dom de Deus, porque sempre soube aliar muito bem a arte com a fé”.
Marisa Carvalho, estudiosa de monsenhor Nunes Pereira, valoriza a arte produzida pelo artista de Fajão, sobretudo a defesa do património material e imaterial da região.
“Recolheu os Contos de Fajão, publicados por ele e imortalizados nas gravuras dele”, recorda.
O padre Orlando Henrique, que foi pároco em Fajão durante oito anos, sublinhou o facto de monsenhor Nunes Pereira ter “projetado” a região para o mundo, “pondo por escrito os Contos de Fajão, que circulavam na oralidade”.
“Para ele não conta o tempo que demora a fazer as coisas, conta se estão belas, se estão perfeitas”, acrescentou o padre Orlando Henrique.
O programa 70×7 deste domingo (RTP2, 17h57) mostra a personalidade e a criação artística de monsenhor Nunes Pereira através das imagens serranas da região, das suas obras de arte e dos testemunhos de quem conviveu com o sacerdote da Dicoese de Coimbra.
LFS/PR