Igreja Católica nega divisões em Nampula

Arcebispo, religiosos e religiosas continuam empenhados na denúncia dos casos de tráfico de crianças e de órgãos A Igreja Católica em Nampula emitiu ontem um comunicado onde repudia “todas as notícias caluniosas” que alguma imprensa tem publicado, “nomeadamente desprestigiando todo o trabalho credível das irmãs do Mosteiro Master Dei”. O texto foi lido na Catedral local, no dia em que pouco mais de meia centena de pessoas percorreram as avenidas da cidade de Nampula, empunhando cartazes que acusavam Elilda Santos, a missionária brasileira que tem encabeçado as denúncias sobre eventual tráfico de pessoas e de órgãos, de ser “boateira”. Um missionário no local, contactado pela Agência ECCLESIA, revela que estas manifestações “de gente que se diz católica” são consideradas pela Igreja como manobras para dificultar as investigações actualmente em curso. “O comunicado de ontem foi assinado pelo Arcebispo de Nampula e por representantes das congregações religiosas masculinas e femininas na região, precisamente para mostrar que estamos todos unidos e que vamos continuar a denunciar os casos que surgirem”, explicou. “Exigimos que as investigações continuem e cheguem à conclusão de forma exaustiva, transparente, coerente e incondicional”, frisava, precisamente, o comunicado da Igreja Católica. O Arcebispo de Nampula, D. Tomé Makhweliha, quis assim declarar como “falsas” todas as afirmações que tendem a mostrar uma Igreja dividida. O missionário em Nampula informou ainda que a marcha pacífica na cidade, programada para o próximo dia 21, foi adiada devido “a uma viagem de D. Tomé a Maputo”. A manifestação a exigir “respeito pela dignidade humana” vai mesmo ir para a rua, apesar deste adiamento, e contar com a presença do líder da Igreja Católica local, em data ainda por definir. A recusa das autoridades em aprovar esta manifestação não a irá impedir, mas o comunicado de ontem lança algumas suspeitas sobre as intenções do poder local, ao criticar “todos os mecanismos que têm sido utilizados para silenciar ou desviar todo o trabalho que a Igreja Católica, em Nampula, tem desenvolvido na denúncia do tráfico de menores, raptos, assassinatos e mutilações de cadáveres”. AS ACUSAÇÕES DA IGREJA No início deste mês, Agência ECCLESIA divulgou o documento onde as Conferências dos Religiosos e Religiosas de Moçambique (CIRM-CONFEREMO) abordam as denúncias de tráfico de crianças e órgãos humanos em Nampula, confirmando a existência desta prática. O documento de sete páginas apoia a denúncia feita pelas missionárias de Nampula, referindo que “é inegável a existência de uma rede de tráfico de órgãos a actuar na África do Sul, para ficarmos apenas na nossa vizinhança”. O comunicado indica também o nome de um casal a agir em Nampula, que já tinha sido apontado pelos missionários no local e consideram-nos elementos colocados no tráfico de crianças. Os religiosos denunciam um “estranho movimento nocturno de viaturas e aeronaves de pequeno porte, no aeroporto de Nampula, que tem limites com a propriedade do casal em questão e com o mosteiro Mater Dei”. Para os oitos responsáveis católicos que assinam o documento, o Estado não está a fazer uma investigação séria sobre os casos que foram denunciados desde o dia 2 de Outubro de 2002, criticando “negação apressada, pura e simples das denúncias” e “a tentativa de desacreditar as denúncias e de modo particular uma das denunciantes, Maria Elilda dos Santos”.

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