Igreja: Cardeal Tolentino Mendonça alerta para risco de «escalada mundial» da guerra por questões ambientais

Responsável envia mensagem a «The Mafra Dialogues 2025», que aborda desafios da paz e segurança no mundo

 

Mafra, 12 mar 2025 (Ecclesia) – O cardeal português D. José Tolentino Mendonça, prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação (Santa Sé), alertou hoje para o risco de uma “escalada mundial” da guerra, por questões ambientais.

“Das muitas causas dos conflitos, há uma que poderá ser brevemente fonte de uma escalada mundial, a ecologia. O risco da falta de recursos naturais, como consequência de um descuido para a casa comum, não só originará uma assimetria social entre consumidores e desfavorecidos, como poderá ser causa de uma disputa bélica por esses bens da criação”, alertou, numa mensagem lida pelo núncio apostólico em Portugal, D. Ivo Scapolo, na sessão de abertura da quinta edição do ‘The Mafra Dialogues’, sob o mote ‘Diplomacia da Paz & Prevenção de Conflitos’.

“Penso que só uma maior consciência ecológica poderá evitar este conflito iminente”, acrescentou.

A iniciativa é organizada pelo Instituto para a Promoção da América Latina e Caraíbas (IPDAL), juntamente com o Centro Internacional de Diálogo – KAICIID e a Câmara Municipal de Mafra, entre hoje e amanhã.

A mensagem de D. José Tolentino Mendonça agradeceu aos participantes por manifestarem “o desejo de construção da paz, evitando que esta seja somente um slogan, mas se torne uma verdadeira tarefa coletiva”.

O colaborador do Papa destacou que, entre as vítimas dos conflitos, “o núcleo mais afetado são infelizmente as famílias mais pobres e as das periferias”.

“A paz não começa somente quando termina o conflito, mas quando todos se restabelecem nas suas condições. Por isso, sem uma rede de apoio social estruturada, a paz, mesmo sem conflito, continua a ser uma quimera, sem real concretude”, apontou.

O prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação defendeu que qualquer discurso sobre o conflito e a paz deveria integrar a palavra “silêncio”.

“Muitas vezes o conflito é antecedido por palavras armadas, comunicações mal-intencionadas ou discursos de ódio. A sabedoria do silêncio permite pensar antes de falar e meditar antes de se reagir”, advertiu.

Não é por acaso que no cristianismo, um dos modos de narrar a identidade do Filho de Deus é descrevê-lo como sendo a Palavra. Por isso, deixemos que o silêncio possa ser o purificador das nossas palavras”.

O cardeal madeirense deixou votos de “um profundo trabalho a todos os participantes neste encontro”

“Que a esperança seja um caminho a ser tido em conta para alcançarmos a paz que todos desejamos”, concluiu.

O evento conta com a participação de diplomatas, ministros e líderes do setor da mediação de conflitos a nível mundial.

António de Almeida Ribeiro, secretário-geral Interino do KAICIID, desejou que o encontro promova “soluções construtivas ao alcance de todos, para atingir a paz”, que possam ser apresentadas aos líderes políticos.

“O tema deste ano ressoa profundamente à medida que enfrentamos os desafios crescentes ao património cultural e religioso”, indicou o embaixador português.

Para o diplomata, a destruição de locais sagrados e património cultural “continua a agravar o sofrimento humano”.

Hugo Moreira Luís, presidente da Câmara Municipal de Mafra, convidou a refletir sobre o impacto dos conflitos, assinalando que “preservar o património é preservar a identidade, a memória e a esperança”.

Os painéis dos próximos dias vão abordar temas como o aumento das tensões no Mar do Sul da China, os conflitos em curso na Ucrânia e no Médio Oriente, bem como o papel da preservação do património cultural na manutenção da paz.

OC

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