Igreja: Capela do Rato promove nova vigília, 50 anos depois, para rezar e refletir sobre a paz (c/vídeo)

Padre António Martins destaca herança de 1972, que é preciso «reinventar com novas gerações, com novas pessoas, em novos contextos sociais, culturais, políticos»

Lisboa, 29 dez 2022 (Ecclesia) – O capelão da Capela do Rato, em Lisboa, afirmou que “a paz hoje tem outros desafios”, evocando a vigília que, nos últimos dias de 1972, mobilizou católicos e outros cidadãos contra a guerra colonial.

“Falar da paz e rezar pela paz não é apenas o contexto da guerra colonial de há 50 anos, que era um tabu e era uma ferida escandalosa, que era necessário falar e resolver. A paz hoje tem outros desafios, tem outras implicações e suscita uma leitura profética, corajosa”, disse o padre António Martins à Agência ECCLESIA.

O capelão afirma que “são tantos os lugares, o desencontro entre povos, a falta de reconciliação”, no mundo, e na reflexão desta comunidade vem à memória as “situações dolorosas de conflito, do horror da guerra”, na Ucrânia, que é, atualmente, a “situação mais chocante, e que mais imediatamente fere” pela sua proximidade, mas também “situações de feridas, de chagas, que permanecem por resolver”, na Palestina, no Iémen, na Argélia, no Bangladesch, em países africanos e da Ásia.

Segundo o padre António Martins, esta comunidade também quer lembrar “a problemática da paz envolvente”, isto é, a violência em espaço doméstico, “tão oculto e tão grave”, a violência na periferia das grandes cidades, “com todas as dificuldades de segregação social, de exclusão, de criminalidade”.

Esta sexta-feira, a partir das 21h00, a comunidade do Patriarcado de Lisboa convida crentes e não crentes, homens e mulheres de boa vontade, cristãos de várias comunidades eclesiais, organizações da sociedade civil, para uma vigília de oração pela paz, onde vai evocar e atualizar “a vigília pela paz e contra a guerra colonial” realizada há 50 anos.

“A causa da paz não tem fronteiras, se os cristãos têm este compromisso de que o Evangelho seja vida, também aqui todas as pessoas têm lugar para desejar a paz e num espírito de nos unirmos”, disse Cecília Vaz Pinto, da comunidade da Capela do Rato, adiantando que uma das reflexões da mensagem do Papa “vai ser feita por um não crente”.

Na passagem do ano de 1972 para 1973, um grupo de católicos, inspirado pela mensagem do Papa Paulo VI, ‘A paz é possível’, organizou uma “vigília de oração e jejum pela paz e contra a guerra colonial que Portugal trava em África, com vítimas para ambos os lados”, que “uniu crentes e não crentes” e levou à intervenção das forças policiais que “ocuparam a Capela e fizeram vários presos”.

“Esta memória é importante adaptá-la ao contexto de hoje. Não temos felizmente a guerra no nosso território, mas temos situações de conflito, temos situações de violência, e temos a guerra no mundo, como o Papa diz temos uma terceira guerra aos bocados. E temos de olhar e temos de sentir responsáveis pela paz”, desenvolve Cecília Vaz Pinto, numa entrevista que é emitida hoje no Programa ECCLESIA (RTP2, 15h00).

A Vigília de Oração pela Paz, com transmissão online nas redes sociais da Capela do Rato e da Agência ECCLESIA, vai ser constituída por uma celebração com uma parte de liturgia da Palavra, outra para “rezar pela paz nas várias regiões do mundo”, com a participação da Comunidade de Santo Egídio, e vão “dar voz à comunidade”, seis pessoas vão partilhar reflexões “sobre o que é a paz”, a partir de textos do Papa Francisco.

O padre António Martins considera que celebrar a memória dos 50 anos da vigília de 1972/1973 é também celebrar “a memória da herança conciliar e de todo o contributo da Doutrina Social da Igreja”, que o Concílio Vaticano II lançou com a constituição ‘Gaudium et Spes’.

HM/CB/OC

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Agência ECCLESIA

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