Bispos reúnem-se pela primeira vez depois da visita de Bento XVI
Os desafios deixados pela visita de Bento XVI a Portugal deverão gerar novas respostas da Igreja Católica, face a um modelo de acção que se confronta com uma sociedade em profunda mudança.
Na semana em que a Conferência Episcopal Portuguesa promove as suas Jornadas Pastorais anuais, a Agência ECCLESIA foi ao encontro de um conjunto de responsáveis e especialistas, partindo em particular das interpelações lançadas durante o discurso do Papa aos Bispos do nosso país.
D. António Marcelino, Bispo emérito de Aveiro, lembra que “o pedido do Papa aos bispos para serem promotores de cultura e de espiritualidade, marca um sentido de novidade na acção pastoral, em que se entrelaçam a vida e a fé”.
Relacionando este discurso com aquele que o Papa dirigiu aos Bispos de Portugal em 2007 durante a visita ad Limina, D. António Marcelino refere a urgência da formação e iniciação cristã: “A Igreja viu-se de repente uma comunidade cheia de pagãos baptizados, que a pouco e pouco abandonam a prática sacramental e optam por uma vida à margem do Evangelho”.
“Os bispos portugueses estão conscientes desta realidade e sentem-se interpelados por ela. Estão, porém, dispostos a renovar, a partir daqui, a acção pastoral da Igreja?”, questiona o prelado, no texto escrito para a última edição do semanário Agência ECCLESIA.
Alfredo Teixeira, do Centro de Estudos de Religiões e Culturas da Universidade Católica Portuguesa (UCP), refere à ECCLESIA que a Igreja Católica pensa a sua pastoral na óptica de “uma certa homogeneidade da pertença”, mas nas sociedades actuais “a forma como os indivíduos gerem a sua pertença é muito complexa”.
A percentagem de quase 90% de católicos em Portugal esconde “uma realidade muito diversificada”. “Quando um português diz que é católico, isso pode significar muitas coisas”, alerta.
Para o especialista, há uma “persistência dessa identidade” que é interessante analisar, porque “a construção da identidade religiosa, hoje, já não sofre os constrangimentos e as pressões sociais e culturais que, porventura, existiam em décadas anteriores”.
Para Alfredo Teixeira, em questão está a concepção do “lugar da religião nas sociedades”, que em muitos casos desenvolveram a ideia de que “o espaço público deve ser neutro, em termos religiosos” e não apenas o Estado.
“Não vejo como escapar a essa realidade quando se pensa a organização do espaço público”, atira.
Relativamente à Igreja Católica, o antropólogo fala em “alguma indecisão” quanto à definição do papel dos leigos, sobretudo face à diminuição do número de presbíteros para presidir às comunidades e organizar a vida pastoral.
“A importância do presbítero na identidade católica nas comunidades não diminuiu e, ao tornar-se mais rara, isso trouxe um problema”, ilustra.
Alfredo Teixeira lembra as experiências de “reorganização” do território de pertença, com a introdução de unidades mais amplas do que a “tradicional paróquia”, mas “não tem sido fácil encontrar um modelo organizativo adequado”.
Bento XVI pediu aos Bispos de Portugal que estejam atentos aos padres e aos novos movimentos da Igreja, como pastores que promovem a comunhão entre todos.
A este respeito, D. Ilídio Leandro, Bispo de Viseu, escreve: “Creio firmemente que, enquanto manifestação do Espírito em cada tempo, os Movimentos são indispensáveis à vida da Igreja e têm um lugar insubstituível na Iniciação Cristã de muitos baptizados, levando-os ao encontro pessoal com Jesus Cristo”.
No texto que assina, o vogal da Comissão Episcopal do Laicado e Família admite que “há aspectos na renovação da Igreja e na sinodalidade que se sente urgente incrementar nas Dioceses do nosso País e que são já prática de acção de muitos carismas e de muitas experiências que muitos Movimentos vão fazendo”.
D. António Couto, Bispo Auxiliar de Braga, refere, por seu lado, que “para lá dos conteúdos dos discursos com que nos brindou, o maior realce tem de ser posto, todavia, também para que os discursos sejam verdadeiros, no facto de Bento XVI ter sido no meio de nós testemunha qualificada da acção da Graça de Deus em acção no nosso mundo”.
“Bento XVI voltou a lembrar que os discursos e apelos aos princípios e valores cristãos, ainda que necessários e indispensáveis, não chegam ao mais fundo do coração da pessoa, não tocam a sua liberdade, não mudam a vida”, aponta.