João Luís Fontes assinala que a pandemia, guerra, «exploração desenfreada dos recursos», o aumentar das desigualdades, «possivelmente justifica um olhar mais atualizado, alargado e aprofundado» sobre os problemas
Lisboa, 31 ago 2023 (Ecclesia) – A Associação R3C – Rede Cuidar da Casa Comum destaca que o anúncio de uma segunda parte da encíclica papal ‘Laudato Si’, “de atualiza-la”, “é importante” desde logo porque significa que o tema da “ecologia integral veio para ficar”.
“O Papa assumiu claramente o assunto como premente, no modo com vivemos a nossa fé como cristãos e como por isso nos relacionamos uns com os outros e com o mundo. No fundo, como construímos um mundo mais fraterno. E, desde logo, pondo a acentuação de que a ecologia não é apenas a relação com a natureza, mas que é preciso escutar os dois gritos: o grito da terra e o grito dos pobres”, disse João Luís Fontes, da comissão coordenadora da Rede Cuidar da Casa Comum, em declarações à Agência ECCLESIA.
O Papa Francisco anunciou, esta quarta-feira, que quer publicar uma segunda parte da encíclica ‘Laudato Si’, onde atualiza as questões sobre o cuidado com a criação, no dia 4 de outubro, festa de São Francisco de Assis e encerramento da iniciativa ecuménica ‘Tempo da Criação’.
“O anúncio de fazer uma segunda parte da ‘Laudato Si’, de atualiza-la nalgumas das suas consequências, é importante a vários níveis, desde logo significa que esta questão da ecologia integral veio para ficar”, realçou.
Segundo João Luís Fontes, este assunto da ecologia integral veio para ficar e o Papa “assume-o e desenvolve-o noutros documentos”, ao mesmo tempo que diz que a ‘Laudato Si’ “não é um documento fechado”, e significa que Francisco também “fez essa escuta do modo como a encíclica foi recebida, foi refletida, o que a partir dai se retirou”.
“Com a questão pandémica, com o tornar cada vez mais evidente as consequências nefastas, por exemplo ao nível climático de uma exploração desenfreada dos recursos, a juntar à guerra, ao aumentar das desigualdades, possivelmente justifica um olhar mais atualizado, mais alargado e aprofundado, não digo um ‘refresh’, sobre os problemas que decorrem deste esforço por uma ecologia integral.”
Para o entrevistado, da comissão coordenadora da Associação R3C – Rede Cuidar da Casa Comum, é também “um desafio” para não se ficar fechado “só nos horizontes” que esta encíclica do Papa aponta, mas perceber que “os princípios que ela define obrigam permanentemente a uma interrogação hoje, no concreto, que cada pessoa, cada comunidade, cada Igreja vive”.
O Papa Francisco publicou a sua encíclica ‘Laudato si’, um documento social e ecológico, em 2015; cinco anos depois (18 junho 2020), o Vaticano apresentou um “manual” de aplicação deste documento, com mais de 200 recomendações em defesa do ambiente e da vida humana.
João Luís Fontes lembra que foram criadas diversas entidades dentro da Igreja, movimentos, instituições, organizações, como a ‘Rede Cuidar da Casa Comum’, que “desenvolveram e aprofundaram os princípios da Laudato Si”, e existiu também “um esforço da própria Igreja de auscultar estas organizações e movimentos”, para perceber o que é que estavam a fazer e quais eram os principais problemas.
A Rede Cuidar da Casa Comum, constituída juridicamente como Associação R3C, a 8 de julho de 2022, nasceu na sequência da Encíclica Laudato Si’, após reflexão, promovida por um conjunto de instituições e movimentos da Igreja Católica e de outras Igrejas cristãs em Portugal, para sensibilizar a população para os problemas ecológicos.
CB
![]() A partir desta sexta-feira, dia 1 de setembro, Igrejas e comunidades cristãs de todo o mundo vão unir-se para uma nova edição do ‘Tempo da Criação’, este ano com o tema ‘Que a Justiça e a Paz Fluam’, inspirado no livro bíblico do profeta Amós: ‘Que o direito corra como a água e a justiça como um rio perene’. João Luís Fontes contextualiza que este período, que começou com um Dia da Criação, e que foi alargado por um ‘Tempo da Criação’, que se estendeu até à festa de São Francisco de Assis, “mostrou um acolhimento pleno de uma iniciativa que até nem nasceu do lado católico mas “do lado ortodoxo e de uma sensibilidade ecológica que vinha muito do campo do Conselho Mundial das Igrejas e das Igrejas Protestantes”, e há fazia caminho nos documentos ecuménicos europeus. Esta celebração ecuménica anual de oração e ação ecológica, que começa com uma celebração ecuménica, vai terminar na festa de São Francisco de Assis, dia 4 de outubro. “Foi plenamente acolhimento pela Igreja Católica, de tal modo que se propôs que se alargasse durante um mês, para chegar a uma figura muito cara ao Papa; um santo acolhido amplamente e querido por outros espetros do mundo cristão, que concilia diversas dimensões da ecologia integral”. “Concilia a pobreza, o despojamento, a humildade, e solidariedade profunda com os mais simples, os mais pobres, e o facto de em Francisco, a partir do ‘Cântico das Criaturas’, se ter descoberto toda uma apologia de uma relação pacífica, não-violenta, de não posse em relação à criação”, acrescentou.
João Luís Fontes adianta que também têm previsto o visionamento do documentário ‘A Carta’, e várias intervenções, propostas para as escolas e outros públicos. Para o próximo ano pastoral – 2023/2024 – a Associação R3C continua empenhada na “colaboração ecuménica ‘Eco Igrejas’ e a “ultimar” um instrumento que “ajudará as comunidades, em função de um conjunto de princípios, a medir o desempenho ecológico e dar pistas para a conversão ecológica, conversão de comportamentos de hábitos e opções construtivas de uso dos espaços e recursos”.
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