Igreja/África: Informar e ajudar são os apelos do padre que fugiu do genocídio no Ruanda e das guerras no Congo e na República Centro-Africana

Padre Gaetan Kabasha está em Portugal a convite da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, em alerta contra perseguição aos cristãos

Agência Ecclesia/MC

Lisboa, 27 nov 2019 (Ecclesia) – O padre Gaetan Kabasha, ruandês, disse hoje à Agência ECCLESIA que tem vivido de “conflito em conflito”, após ter fugido do genocídio de 1994 e passar por guerras na República Democrática do Congo e República Centro-Africana.

O sacerdote, atualmente a estudar em Espanha, está em Portugal a convite da Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) para associar-se à chamada ‘Red Wednesday’ (quarta-feira vermelha), na qual a fundação pontifícia ilumina com luzes vermelhas vários monumentos públicos, alertando para a perseguição aos cristãos.

“Temos problemas de conflitos, muitas vezes relacionados com questões económicas, matérias-primas, geopolítica. Aí, cola-se o tema religioso, inicialmente como tema secundário, que pouco a pouco se vai tornando fundamental”, refere o padre Gaetan Kabasha.

O sacerdote destaca que “os cristãos sofrem, no meio disto”.

“Neste tipo de perseguições, há um conflito subjacente, que deveria ser solucionado, porque é este que leva à perseguição religiosa”, apela.

Questionado sobre o que podem fazer os europeus face a esta situação, o padre Gaetan Kabasha diz que, em primeiro lugar, é preciso “saber o que se está a passar em cada país”.

“Muitas vezes tenho a sensação que se sabe muito pouco, na Europa. Costumam caricaturar os conflitos, dividindo entre bons e maus, sem mais, sem olhar a fundo, para ver realmente o que está por baixo”, lamentou.

Cada um, onde se encontra, tem de ver o que pode fazer, desde ajudar organizações como a AIS, até ir como voluntário ou recorrer aos media para informar as pessoas”.

Testemunha do genocídio do Ruanda, em 1994, o padre Gaetan Kabasha viveu como refugiado, sem documentos e sem saber da sua família, que reencontrou 19 anos depois.

“Vivi muitos conflitos, pessoalmente, a minha vida em África sempre foi uma vida de conflito em conflito”, relata.

Esta experiência, assinala, teve impacto na vida de fé, na oração, “abrindo os olhos sobre como a fé pode sustentar as pessoas nas dificuldades”.

“Posso assegurar que a minha fé cresceu muito em momentos de dificuldades”, adianta o sacerdote.

O capelão do hospital San Carlos de Madrid está a ultimar uma tese de doutoramento em filosofia, sobre violência e conflito, sendo responsável por uma página de comentário sobre a atualidade africana, http://afroanalisis.blogspot.com.es/.

Num dos seus últimos textos, o padre Gaetan Kabasha alerta para o crescimento do Estado Islâmico na África, com riscos de desaparecimento da presença cristã no Burquina Faso, entre outros.

O sacerdote vai falar hoje, em conferências da AIS marcadas para o Santuário de Cristo Rei (Almada) e na Paróquia do Campo Grande (Lisboa).

No Relatório sobre a Liberdade Religiosa, produzido pela Ajuda à Igreja que Sofre, estima-se que mais de 300 milhões de cristãos vivam em países onde há perseguição ou discriminação com base nas questões da fé.

“Apesar da dimensão trágica que estes dados revelam, existe uma enorme insensibilidade ou mesmo desinteresse na maioria dos países ocidentais para esta questão”, considera a fundação pontifícia.

OC

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