Igreja/Abusos: Secretária da Coordenação Nacional diz que comissões diocesanas querem «acolher» e apoiar vítimas (c/vídeo)

Paula Margarido recorda oferta de ajuda psicológica e psicoterapêutica, convidando a superar «anonimato»

Lisboa, 03 abr 2023 (Ecclesia) – Paula Margarido, secretária da Coordenação Nacional das Comissões Diocesanas de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis, disse à Agência ECCLESIA que estas instituições existem para “receber e acolher” as vítimas, oferecendo-lhes apoio em várias áreas.

“Vamos fazendo algum caminho, porque ainda há vítimas que, efetivamente, têm dificuldade em falar da situação. Às vezes, torna-se mais fácil escrever”, refere a jurista.

Além do acompanhamento das denúncias, as vítimas podem contar com apoio psicológico e psicoterapêutico, por profissionais que as comissões colocam ao seu dispor ou “qualquer outro” que estas indiquem, como da sua confiança.

“Percebo que seja uma grande dor, mas se continuarem no anonimato, mais dificuldades haverá em combater este mal, por parte das comissões diocesanas e da própria Igreja”, apela Paulo Margarido.

A secretária da Coordenação Nacional destes organismos precisa que “qualquer vítima pode e deve dirigir-se às comissões diocesanas”, a quem compete “escutar, averiguar, ler documentos que a pessoa traga, para ver a possibilidade daquela situação ter acontecido”.

“Em face disso, comunica de imediato ao Ministério Público, para que, no seu livre discernimento jurídico, entenda se deve instaurar o respetivo inquérito”, acrescenta.

A situação é também transmitida “de imediato” ao bispo diocesano, para que “desencadeie o respeito processo de investigação prévia”.

Paulo Margarido recorda a necessidade de acompanhamento dos alegados agressores, considerando que estes devem ser “afastados do múnus sacerdotal até que o processo de investigação venha a ser concluído”.

Os bispos portugueses adiantaram, a 14 de março, que estão a “encetar contactos para a criação de um grupo responsável pelo acolhimento e acompanhamento das vítimas”.

“Este grupo operativo, com carácter de autonomia, constituído por pessoas que garantam credibilidade e confiança perante as vítimas, será articulado com a Equipa de Coordenação Nacional e com as Comissões Diocesanas de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis”, precisava uma nota do Conselho Permanente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP).

Paula Margarido destaca a necessidade desta “outra resposta”, dado que algumas vítimas podem ter reservas em dirigir-se a uma estrutura diocesana, em vez de a um organismo nacional.

“A Igreja Católica em Portugal está a fazer este caminho para as vítimas, porque está ao seu lado, ao lado da sua dor”, prossegue.

A Comissão Independente designada pela Conferência Episcopal, para o estudo de abusos sexuais na Igreja em Portugal, apresentou a 13 de fevereiro um relatório, no qual validou 512 testemunhos, apontando a um número de 4815 vítimas, entre 1950 e 2022.

A responsável admite que esta situação gerou “algum descrédito” e exige, no futuro, a criação de uma “política nacional de prevenção”, com os “melhores critérios”.

“Estes são crimes hediondos, praticados por membros do clero e também por leigos, a quem foram confiadas especiais responsabilidades”, e que “falharam redondamente” em determinados momentos do seu percurso, aponta.

A advogada, que também integra a Comissão de Proteção de Menores na Diocese do Funchal, recorda que está em causa o “sofrimento maior” causado à vida de crianças e jovens.

“Isto aconteceu na Igreja. A Comissão Independente teve esse papel, de nos fazer perceber que isso aconteceu, que poderá acontecer; percebendo-se isso, a Igreja tem de discernir, em silêncio, porque há muitas vozes, muito barulho, muita confusão”, observa, em entrevista emitida hoje no Programa ECCLESIA (RTP2).

A entrevistada apela à implementação de boas práticas “em todos os espaços” das comunidades católicas, sabendo colocar-se “no lugar de quem sofreu”.

Isabel Figueiredo, diretora do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais (SNCS), que integra a Comissão de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis do Patriarcado de Lisboa, fala num “caminho da cruz” que as comunidades católicas devem enfrentar.

“Agora, realmente, houve a coragem de o enfrentar, de o pisar”, realça, convidando a acreditar na “seriedade” do trabalho que está a ser desenvolvido.

A responsável fala num tempo que exige “sofrimento” e “determinação”, sem deixar de lado o “silêncio e a contenção, por parte de todos”.

“Estou convencida de que nada vai voltar ao que foi, acredito que vai haver transformação”, sublinha.

A CEP convocou para 20 de abril uma jornada nacional de oração pelas vítimas de “abusos sexuais, de poder e de consciência na Igreja”.

Isabel Figueiredo convida a “alargar o horizonte de todas as pessoas que são vítimas de abusos”, na Igreja e na sociedade.

PR/OC

 

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