«Estamos aqui com elas e por elas», afirmou D. Manuel Clemente, que participou na iniciativa que decorreu em Lisboa
Lisboa, 22 fev 2023 (Ecclesia) – O cardeal-patriarca de Lisboa afirmou hoje a sua “inteira solidariedade, inteira comunhão e inteira proximidade” para com as vítimas de abusos sexuais na Igreja, na vigília de silêncio promovida por grupos de católicos, em várias localidades do país.
“Estamos aqui por elas e com elas”, disse D. Manuel Clemente em declarações aos jornalistas no fim da vigília que decorreu diante do Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa.
Vários grupos de leigos católicos tomaram a iniciativa de promover, na noite de Quarta-feira de Cinzas, vigílias de oração, em silêncio, como sinal de solidariedade com as vítimas de abusos sexuais na Igreja, diante da principal igreja da sua localidade, das 21h00 às 22h00.
“Este silêncio é muito preenchido sobretudo por duas realidades: em primeiro lugar pela solidariedade, pela comunhão com todos quantos sofreram onde nunca deveriam ter sofrido, concretamente em espaços eclesiais; e um segundo sentimento, que para nós crentes é muito forte, é que, quando as feridas são assim tão profundas, só se resolvem com Deus, porque estão acima daquilo que são as nossas capacidades e boas-vontades”, afirmou o cardeal-patriarca de Lisboa.
D. Manuel Clemente lembrou as mudanças nas respostas da Igreja Católica aos casos de abusos sexuais de menores a partir da reunião que o Papa Francisco promoveu, em fevereiro de 2019, com os presidentes das conferências episcopais de todo o mundo e valorizou a mudança de “mentalidade” na sociedade sobre esta problemática.
O cardeal-patriarca de Lisboa disse que o drama dos abusos sobre menores tem de ser erradicado de toda a sociedade, “porque tem de ser resolvido no seu todo, como disse a própria Comissão Independente”.
Por iniciativa da Conferência Episcopal Portuguesa, foi criada uma comissão de independente para estudar os casos de abuso sexual de menores na Igreja Católica em Portugal desde 1950 que, após um ano de trabalho, validou 512 testemunhos e aponta para um número “mínimo” de 4815 vítimas.
“Quando criámos a Comissão Independente, isto começou a ficar mais claro e mais insistente e mais notório, mesmo em termos mediáticos e de opinião pública. É natural que as pessoas se expressassem mais. E isso vai continuar agora com as Comissões Diocesanas e a coordenação nacional”, afirmou D. Manuel Clemente em declarações à comunicação social.
Para João Cordovil, presidente da Conferência Nacional das Associações de Apostolado dos Leigos (CNAL), a iniciativa de promover uma vigília de silêncio pelas vítimas de abuso de menores na Igreja no início da Quaresma é positiva por ser um “tempo de perdão, tempo de penitência”.
“Todos nós, na Igreja, temos de interiorizar a situação que se passou, rezar pelas vítimas, rezar pelos agressores e dar graças a Deus por todos os outros padres e religiosos dentro daquilo que é esperado”, afirmou.
Para o presidente da CNAL, cada católico tem de “encarar como um sofrimento próprio” a problemática dos abusos na Igreja e o facto de não ter sido “tratada como deveria ter sido desde o início só pode fomentar a união da Igreja”.
A vigília de oração pelas vítimas de abusos sobre menores na Igreja Católica decorreu em várias localidades do país, por iniciativa dos leigos católicos, que convidaram à oração, em silêncio, diante principal igreja da localidade, na noite do primeiro dia da Quaresma.
De acordo com os promotores da iniciativa, decorreram 13 vigílias em 11 dioceses do país; D. Nuno Brás, bispo do Funchal, esteve presente na que decorreu em frente à Igreja do Colégio.
PR