Igreja/Abusos: Cardeal-patriarca de Lisboa reiterou «pedido de perdão» e «solidariedade total» com as vítimas

«Não podemos deixar de viver esta Quaresma sem um sentimento misto de tristeza e, apesar de tudo, esperança» – D. Manuel Clemente

Foto: Patriarcado de Lisboa

Lisboa, 23 fev 2023 (Ecclesia) – O cardeal-patriarca de Lisboa afirmou que os católicos, “abalados” pelo relatório sobre abusos sexuais de menores na Igreja, divulgado a 13 de fevereiro, não podem deixar de viver a Quaresma “sem um sentimento misto de tristeza e, apesar de tudo, esperança”.

“Tristeza, por nós e sobretudo por quem sofreu o que nunca devia ter sofrido, e muito menos da parte de quem sofreu e onde sofreu. Tristeza, vergonha e arrependimento não podem faltar neste momento, mesmo quando mais institucional do que pessoalmente, para quem não cometeu tais crimes nem com eles compactuou”, disse D. Manuel Clemente, na mensagem e homilia de Quarta-feira de Cinzas, durante a Missa a que presidiu na Sé de Lisboa.

O cardeal-patriarca acrescentou que “nada disto relativiza o pedido de perdão”, mas corresponsabiliza a todos para emendar “o que tem de ser emendado e aliviar o que possa ser aliviado a quem sofreu na altura e ainda sofra depois”.

A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica em Portugal, designada pela Conferência Episcopal Portuguesa, apresentou o seu relatório final, no qual validou 512 testemunhos, apontando a um número de 4815 vítimas, entre 1950 e 2022.

Abalados como fomos pelo relatório sobre abusos sexuais de menores na Igreja, de 1950 em diante, não podemos deixar de viver esta Quaresma sem um sentimento misto de tristeza e, apesar de tudo, esperança”.

Segundo D. Manuel Clemente, como a Igreja Católica em Portugal teve a iniciativa de constituir uma CI também têm agora a “disposição firme de continuar atentos e ativos neste campo”, onde não podem “falhar de modo algum”.

“Reiteramos o pedido de perdão a quem sofreu, com a nossa solidariedade total e o compromisso de tudo fazer para ajudar no presente e prevenir o futuro. Quando houver algo a ser julgado e sancionado, sê-lo-á certamente, segundo a lei civil, canónica e evangélica – sendo que esta última não nos deixa desistir da conversão de ninguém”, desenvolveu.

A Quaresma é um tempo litúrgico, de 40 dias (a contagem exclui os domingos), que teve início esta quarta-feira, com a celebração de Cinzas, marcado por apelos ao jejum, partilha e penitência; serve de preparação para a Páscoa, a principal festa do calendário cristão (este ano a 9 de abril).

“Temos uma Quaresma de conversão, temos uma Páscoa a cumprir. Mesmo a indignação que ouvimos da parte de outros pode provir da nossa contradição, por vezes grave, com o Evangelho que pregamos mas nem sempre seguimos. Sigamo-lo agora, mais decididamente ainda”, referiu D. Manuel Clemente, na Sé de Lisboa.

O cardeal-patriarca, que depois da celebração participou na vigília de silêncio promovida por grupos de católicos, em Lisboa no Mosteiro dos Jerónimos, concluiu a homilia de Quarta-feira de Cinzas e mensagem quaresmal com uma última palavra aos sacerdotes e diáconos, que têm “sofrido particularmente neste tempo, em que a inegável dedicação pastoral da generalidade é afetada por notícias da infidelidade de alguns, provada ou alegada que seja”.

O Patriarcado de Lisboa vai destinar a sua renúncia quaresmal à construção de “uma casa de acolhimento a adolescentes e jovens” em Laleia (Diocese de Baucau – Timor Leste), gerida pelas Franciscanas Missionárias de Nossa Senhora, e à Comunidade Vida e Paz, para “reforçar o apoio às pessoas em situação de sem-abrigo”.

Em 2022, a contribuição desta diocese na Quaresma totalizou 140 mil euros, destinados ao trabalho da Cáritas Diocesana de Lisboa no apoio às “necessidades do povo ucraniano”, e para o hospital da Diocese de Palai (Índia) que “atende especialmente a população mais pobre”.

CB/OC

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