Responsável pelo setor em Portugal realça desafio de renovar métodos e linguagens
Lisboa, 08 mai 2019 (Ecclesia) – A Semana de Oração pelas Vocações, que a Igreja Católica em Portugal promove até este domingo, foi o mote para uma conversa com o presidente da Comissão Episcopal Vocações e Ministérios (CEVM), sobre os desafios atuais do setor.
Em entrevista hoje à Agência ECCLESIA, D. António Augusto Azevedo destaca as interpelações trazidas pelo mais recente Sínodo dos Bispos, no Vaticano, dedicado aos jovens, e pela exortação pós-sinodal ‘Christus Vivit’, onde o Papa Francisco aborda também a questão da vocação.
Para o presidente da CEVM, são sobretudo duas as interpelações que se apresentam à Igreja Católica neste tempo, no que diz respeito à pastoral vocacional.
Renovar métodos e linguagens, de modo a comunicar de forma mais efetiva com as culturas de hoje; e alargar o raio de ação na sociedade, indo além dos âmbitos mais tradicionais.
“A linguagem da pastoral vocacional deve ser mais aberta e atrativa, para que a própria palavra não assuste. Deve ser uma palavra ampla, que abra horizontes, que leve jovens e adultos a refletir e a pensar”, defende D. António Augusto Azevedo.
Para aquele responsável, é essencial que a Igreja Católica consiga “semear” a proposta vocacional “com alegria”, potenciando os “testemunhos” dos que vivem essa realidade de forma “feliz”, não só “na vida consagrada” mas “no matrimónio, numa determinada profissão e até junto de pessoas solteiras, outra dimensão muito referida no Sínodo”.
“Culmina tudo com o assumir da vida, na variedade das vocações, como um dom e como um compromisso, que é também uma dificuldade grande hoje e sempre, que é depois assumir esse compromisso”, reconhece o presidente da CEVM.
Sobre o âmbito da proposta vocacional, D. António Augusto Azevedo assume o objetivo de favorecer um trabalho mais em rede na Igreja Católica, ligando a pastoral vocacional à pastoral juvenil, à pastoral familiar, a todas as áreas de atuação eclesial.
“A primeira coisa que tem de mudar, e que me parece que está a mudar, é a atitude. Não numa perspetiva isolada, de cada um por si, mas numa perspetiva de colaboração, de interação”, adianta o também bispo auxiliar do Porto, que alerta para o facto de a família não ser já o único berço de florescimento de vocações.
“Cada vez mais pessoas fazem essas escolhas a partir de outros âmbitos, da escola, da universidade, de grupos e movimentos de jovens, por outras vias. A família continua a ser um âmbito essencial, mas cada vez mais é nestes outros âmbitos que a questão vocacional cresce e se desenvolve, o que é também um dado novo que vale a pena ter presente”, diz D. António Augusto Azevedo.
No horizonte da Igreja Católica em Portugal está a próxima Jornada Mundial da Juventude, que terá lugar no nosso país em 2022, e que é encarada pela Pastoral Vocacional como um evento propício para o desenvolvimento de mais iniciativas e projetos.
“Um dado que foi comentado no Sínodo é que em todos os locais onde a JMJ se realizou, esse acontecimento teve sempre um impacto, um reflexo em termos de vocações, em todos os âmbitos e também no do ministério ordenado”, assinalou o presidente da CEVM.
O presidente da CEVM acredita que, “para Portugal e para as dioceses portuguesas, a JMJ será uma ocasião para os jovens olharem a vida e a vida cristã na perspetiva da vocação”.
“Estou convencido que terá também um grande impacto desse ponto de vista”, observou.
Outro ingrediente crucial para a renovação da pastoral vocacional, no entender de D. António Augusto Azevedo, será o reforço da “formação” de todos quantos podem ter intervenção neste setor.
“Pais, catequistas, animadores, professores, todas estas pessoas têm de ser preparadas para serem bons acompanhadores dos mais jovens, nas suas decisões de cariz vocacional, para que sejam decisões com condições para serem bem-sucedidas. Formar pessoas para esse trabalho de acompanhamento parece-me uma prioridade”, salienta o presidente da CEVM.
Sobre a Semana de Oração pelas Vocações, que está a decorrer até este domingo, subordinada ao tema ‘A coragem de arriscar pela promessa de Deus’, D. António Augusto Azevedo diz que “estas semanas são sempre necessárias, porque dão mais “visibilidade” a este setor e “colocam as comunidades a rezar e a refletir”.
O bispo aproveita a ocasião para “agradecer a todas as pessoas” que participam neste esforço e “a todos quanto ao longo do ano também se preocupam e sobretudo ajudam e vão acompanhando os mais jovens, nas várias iniciativas da Pastoral das Vocações e em outros setores”.
No entanto, por muito importantes que estas iniciativas sejam, elas serão sempre “insuficientes” se não tiverem depois “continuidade e eco ao longo do ano”.
“Esta temática muitas vezes um pouco esquecida vem à superfície durante estes dias e é importante que tenha um lugar próprio, presente em todos os âmbitos e preocupações da vida da Igreja”, reforçou.
JCP