Organização católica promove campanha de solidariedade em Portugal, após ter ajudado a adquirir kits de alimentação e higiene
Lisboa, 25 mar 2019 (Ecclesia) – O secretário-geral da Cáritas de Moçambique disse hoje que ainda há “muita gente desaparecida” após a passagem do ciclone Idai no país, mas sublinhou que a situação tende a “normalizar-se”, sendo já possível ligar Maputo à Beira.
“A situação está a normalizar-se, mas em certas zonas continua o processo de resgate”, assinalou Santos Gotine, em ligação desde Moçambique, numa conferência de imprensa promovida pela Cáritas Portuguesa, em Lisboa.
O responsável destacou as famílias procuram “sobreviver e recuperar aquilo que perderam”, perante o risco da fome e de epidemias, como a cólera ou a malária.
Com a ajuda de Portugal, a Cáritas adquiriu no terreno um conjunto de kits alimentares (1930) e de higiene (3960), que visam responder às necessidades imediatas das famílias e começaram a ser distribuídos hoje.
“Preferimos que a ajuda seja, em primeiro plano, em apoio financeiro, porque nós temos o nosso mercado, que está a precisar de recuperação”, disse Santos Gotine.
É importante pensar que devemos lutar, conjugar esforços para recuperar a Economia do povo moçambicano”.
O secretário-geral da Cáritas de Moçambique explicou a preferência por “adquirir produtos a nível nacional” ou na África do Sul.
“Quando recebemos contentores e diversos outros produtos de fora, como apoio, a logística torna-se muito complicada”, observou.
Além das dificuldades criadas pela burocracia na Alfândega, existem despesas ligadas ao transporte dos produtos, que podem levar “muito tempo a chegar ao país”.
“Aconselhamos que os apoios sejam enviados, em primeiro lugar, de forma monetária”, insistiu.
Santos Gotine admite que existe zonas que foram “completamente destruídas” e que a distribuição de alimentos e água “ainda é um desafio”, em particular nos centros de acomodação.
O responsável declarou que as vias de acesso a muitas zonas afetadas estão “cortadas” e que os recursos que estão a ser usados por várias organizações para a deslocação de muitos técnicos, “podiam servir para o apoio direto aos irmãos afetados”.
Com os jornalistas, na sede da Conferência Episcopal Portuguesa, esteve D. José Traquina, presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana, que deixou uma mensagem de solidariedade ao povo moçambicano.
“Moçambique vai necessitar não de uma resposta imediata, para alimentar as pessoas, mas de muito apoio continuado”, para que as pessoas regressem a sua vida normal, destacou o bispo do Santarém.
O responsável destacou a experiência da Cáritas em situações de emergência e catástrofes, com o “financiamento de projetos de reconstrução” e de “desenvolvimento das comunidades”.
O presidente da Cáritas Portuguesa, Eugénio Fonseca, indicou que 10 mil famílias das 20 mil que já estavam desalojadas por causas das cheias, antes do ciclone, estavam a ser apoiadas pelas Cáritas, com 25 mil euros.
Após a passagem do Idai, foram investidos 61 mil euros, com a ajuda de um fundo de emergência internacional e donativos particulares, para a aquisição de kits de alimentação e de higiene.
O objetivo imediato é apoiar entre 4 a 5 mil agregados familiares, o que depende do sucesso da campanha ‘Cáritas ajuda Moçambique’, já que neste momento o saldo é de 284,57 euros.
“Aquilo que tínhamos, já entregamos”, disse Eugénio Fonseca.
O responsável explicou que a Cáritas não recolhe géneros (roupa, medicamentos ou medicamentos), para não sobrecarregar a operação logística, “que tem custos”.
“Todo o dinheiro que for angariado será diretamente para as pessoas”, apontou, precisando que a ajuda é para “todos os moçambicanos”, independentemente de convicções “religiosas ou políticas”.
Após a resposta de emergência, a prioridade será dada à recuperação de habitações, escolas e centros de saúde na recuperação a médio prazo.
Para isso, Eugénio Fonseca conta com o apoio do “setor empresarial” em Portugal
O ‘padrinho’ da campanha de solidariedade da Cáritas é o selecionador nacional de futebol, Fernando Santos
“Acredito que é possível restaurar a esperança em Moçambique”, refere o treinador.
Segundo o balanço mais recente, a passagem do ciclone Idai por Moçambique, Maláui e Zimbabué, na noite de 14 de março, provocou a morte a pelo menos 761 pessoas, 446 das quais em Moçambique.
OC