Iconografia aproxima Maria e Santo António

Homilia de D. António Couto, na Peregrinação Aniversária de Junho ao Santuário de Fátima, na noite do dia 12 12 de JUNHO: Homilia de D. António Couto, Bispo Auxiliar de Braga e Presidente da Peregrinação Aniversária de Junho 2008 «Viver na verdade» (8.º mandamento) «Quem habitará, Senhor, no vosso santuário? O que não usa a língua para levantar calúnias» (Sl 15(14),3). Santo António de Lisboa, Festa (Altar do Recinto, 12 de Junho, 22h30) Sir 39,8-14 = «Adquirirá a rectidão de julgamento» Ap 14,1.4-5 = «Na sua boca nunca se encontrou mentira: são irrepreensíveis» Mt 5,13-19 = «Deve brilhar a vossa luz diante dos homens» 1. Maria aparece muitas vezes, na iconografia, com o Menino nos braços e um olhar de graça suavemente iluminado. O movimento dos braços mostra a ternura maternal de quem embala e segura o Menino Jesus, ou a alegria evangelizadora de quem apresenta e oferece Jesus a este mundo, reclamando de cada um de nós mãos carinhosas e seguras, coração maternal, olhar de graça. 2. É fácil ler, no contexto da iconografia, uma grande cumplicidade entre Maria e Santo António de Lisboa, de Pádua ou de todo o mundo. Vê-se bem que também Santo António aparece com o Menino nos braços: umas vezes, segurando Jesus com os dois braços; outras vezes, com um braço segurando Jesus, e no outro ostentando um livro, o Livro, o Livro da Palavra de Deus, que tão bem viveu e tão bem soube dizer; outras vezes ainda, ostentando Jesus sentado sobre o Livro, Senhor do Livro, como o Anjo de Mateus sentado sobre a pedra do sepulcro (Mt 28,2). Belíssimas figurações de amor e luz. Maria olhando pelo Menino Jesus ou convidando-nos a olhar pelo Menino Jesus. Santo António de Lisboa ostentando o Menino Jesus e o Livro, mostrando bem com que amor soube ler a Escritura, e convidando-nos a acolher o Menino que atravessa em contraluz toda a Escritura, e a ler a Escritura em contraluz acolhendo em cada página, não apenas sons e sílabas e palavras e frases, mas um Rosto e um Nome, JESUS. 3. Maria e Santo António de Lisboa. Os dois com o Menino Jesus nos braços e no coração, nos lábios, na vida. Eles tomaram conta de Jesus com amor, tomaram conta do amor. Ou foi o amor que tomou conta deles? Na verdade, são eles que seguram Jesus, ou é Jesus que os segura a eles? Somos nós que seguramos a Palavra de Deus, ou é a Palavra de Deus que nos segura a nós? Frágil, forte segurança, a segurança-confiança do amor, forte como a morte o amor (Ct 8,6). 4. É por esta imagem de um Menino ao colo de uma Mãe, seguro-confiante na força do amor maternal que cuida dele sempre, que, em termos bíblicos, entramos no caminho da Verdade (J. GOLDSTAIN, Le monde des psaumes, Paris, Source, 1964, p. 391 e 393. Verdade, na Bíblia hebraica, diz-se ’emet, cuja etimologia remete para segurança, firmeza, confiança (’emunah, ’aman, ’amen). Diz então o Livro que Santo António segura no braço com o Menino em cima que o lugar mais verdadeiro do mundo, portanto, a maior fonte de segurança do mundo, são os braços de uma Mãe ou de um Pai que ternamente seguram um bebé. 5. A verdade é, portanto, a verdade do Amor que não engana, o mais puro amor que existe. A analogia do amor materno e paterno abre para Deus, que o mesmo Livro diz que ama com amor perfeito. S. Paulo dirige-se a nós desta maneira, ao escrever as primeiras linhas da primeira página do Novo Testamento: «1,4(…) Irmãos AMADOS por Deus (êgapêménoi hypò [toû] theoû)» (1 Ts 1,4). A locução «AMADOS» apresenta-se no tempo perfeito passivo (êgapêménoi: part. perf. passivo de agapáô), e traduz, portanto, um amor novo, vindo de Deus, que começou a amar e a amar continua ainda hoje, pois é esse o sentido do perfeito grego. 6. É por isso que Deus, amor perfeito e permanente – o mesmo ontem, hoje e sempre (Hb 13,8) –, não mente, não engana, não seduz. Ele é a Sabedoria, Ele é a luz. Ele chama, Ele ama, Ele dá a Sabedoria, Ele alumia. A nossa luz é reflexa, a nossa sabedoria é recebida, recebido é o amor com que amamos. Não o amor da sabedoria. Mas a sabedoria do amor. «Deus governa o mundo com as palmas das suas mãos» (Sir 18,3), em que está tatuado o nosso rosto e o nosso nome (Is 49,16), e tem sempre as suas «mãos abertas sobre nós» (Sl 139,5). Mãos de amor. 7. Como Maria e como Santo António, experimentemos também viver de coração aberto e de mãos abertas para acolher e saborear o dom de Deus (Hb 6,4) e experimentar a beleza da Palavra de Deus (Hb 6,5). Maria e Santo António, com o Livro e o Menino, representam uma nova cultura, não assente na mentira, na esclerose ou dureza do coração, no poder e na violência, mas na ternura, no amor, na suavidade e na verdade. 8. Santo António de Lisboa, Nossa Senhora do Rosário de Fátima, ensinai-nos a viver com o Livro da Palavra de Deus e o Menino nos braços e no coração. Ámen.

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Agência ECCLESIA

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