Homilia no início da Missão Jubilar e do Ano da Fé em Aveiro

Caríssimos Diocesanos, Irmãos e Irmãs

 

1.O evangelho, agora proclamado, diz-nos que Jesus escolheu a sua terra para ler a palavra de Isaías, para anunciar a Boa Nova do Reino e para iniciar o Ano de graça do Senhor.

Aquele momento, vivido na Sinagoga de Nazaré, foi para Jesus o dia sonhado pelo Pai, a hora pensada pelo Espirito que O ungiu e o tempo por Ele desejado para ser tempo novo e único, tempo de vida e de salvação da humanidade. “Cumpriu-se, hoje, esta passagem da Escritura que acabais de ouvir”, disse Jesus (Lc 4, 21).

É à voz de Jesus que este texto do profeta, hoje, se proclama, a Boa Nova do evangelho aqui se anuncia e o Ano Jubilar começa na nossa terra.

Em Dia Mundial das Missões, abrem-se, de para em par, as portas da nossa Catedral, para que, em comunhão com o Santo Padre Bento XVI, entremos pela porta da Fé, no limiar do Ano da Fé, e celebremos cinquenta anos do início do Concilio.

Esta é, a partir da igreja-mãe da Diocese, casa e escola da fé e da comunhão do Povo de Deus em Aveiro, verdadeira hora jubilar.

Aqui se ouve a palavra de Isaías, proclamada na primeira leitura: «Levanta-te e resplandece Jerusalém, porque chegou a tua luz e brilha sobre ti a glória do teu Senhor» (Isaías 60, 1).

Daqui vão partir como mensageiros da profecia de Isaías, testemunhas das bem-aventuranças, discípulos de Jesus e missionários em Seu nome, «os pés dos que anunciam o evangelho», como nos lembra Paulo, na segunda leitura (Rom. 10, 14-20). “Compete a cada cristão fazer com que o evangelho de Jesus Cristo se possa tornar lugar de encontro, feito de fascínio e de encanto com o mistério da pessoa e da obra de Cristo, vivo e ressuscitado» (Cf. Carta pastoral dos Bispos de Portugal. Como eu fiz, fazei vós, também, n.º 10).

2. Do tempo vivido como Diocese, desde 1938, guardamos a memória abençoada, hoje feita profecia e missão, recebida de todos os que construíram a Igreja que somos, tornaram belo e missionário o seu rosto e nos ensinaram a «amar a Deus e servir».

A intuição sentida e a decisão firmada de convocar uma Missão Jubilar, por ocasião dos setenta e cinco anos da restauração da nossa Diocese, inspiram-se na certeza de que é o Espirito de Deus que convoca, acompanha e guia a Igreja, no decurso do tempo, e nos oferece horas com oportunidades únicas para olharmos com ousadia evangélica, com renovado entusiasmo e com a força da fé para novos métodos de evangelização e diferentes horizontes de missão.

Guardei esta hora, desde o início do meu ministério em Aveiro, no silêncio do meu coração, para que ela chegasse, sem pressa nem precipitação, no momento e da forma por Deus escolhidos, com o ardor das boas notícias de Deus, com o vigor das graças que a Deus pedimos e com o entusiasmo da fé, semeado e cultivado no coração de todos os sacerdotes, diáconos, seminaristas, consagrados e leigos da nossa Diocese. “Ao homem pertencem os projetos do coração, mas só de Deus vem a resposta” diz-nos o Livro dos Provérbios ( Prov. 16, 1).

 Coloquei, desde logo, a Missão no coração de Deus para que seja Ele a moldar o coração humano, a mobilizar por dentro a vontade dos cristãos, a fazer crescer a consciência eclesial e a dar sentido novo à história da nossa Diocese. Levei esta hora aos pés de Maria, a Mãe de Jesus e nossa Mãe, e do brilho do seu olhar, senti que nunca faltará à Missão Jubilar a ternura do seu coração e o dom do seu amor pela Igreja de Aveiro. Esta é a sua hora também. Hora da Mãe de Jesus e da Mãe da Igreja.

Anunciei aos sacerdotes, em carta escrita, em 2008, no dia da nossa Padroeira, esta decisão, para que Santa Joana Princesa dê à nossa paixão pela Missão o mesmo amor que tem por Aveiro e pelo seu Povo.

E a partir daí foram muitos e belos os passos dados e os caminhos andados, por toda a Diocese, para que aqui estejamos, hoje, em tão elevado número e com tanta alegria.

 A Missão Jubilar é dom de Deus traduzido para todos nós em tesouro de fé a dar sentido e luz à vida de tantas pessoas. É farol de esperança para quantos procuram razões de viver e âncora de caridade a dar firmeza aos pés vacilantes dos que mais sofrem, neste momento difícil de crise e de provação para tantas famílias. A sociedade precisa de pessoas livres e felizes trabalhados pelas bem-aventuranças do evangelho.

3.”Vive esta hora”, irmão e irmã, com sabor a tempo novo e a novo ardor, na terra que Deus nos deu para habitar e para transformar e no campo aberto e livre do coração humano e das novas realidades do mundo.

 Hora de levantar as amarras deste Barco que é a Igreja, que queremos renovada na caridade, educadora da fé, Igreja orante, família de famílias, rosto de esperança para o mundo, para que saibamos colocar Deus nos novos mares da família, da escola, da profissão, da vida pública e da cultura e em tantos espaços humanos desertos, sem vida, sem fé, sem esperança e sem amor.

Hora para erguer e alargar a tenda de Deus, nas areias das nossas praias, nas planícies dos nossos campos, nas colinas das montanhas da nossa terra, nesta nova geografia da missão e neste tempo único da evangelização, uma tenda onde Deus envolva a nossa humanidade e aconchegue as feridas de tantas dores e as ânsias causadas por todos os medos.

Hora de mensagem levada às crianças e aos jovens, que lhes fale, em linguagem, por eles entendida, e em exemplos de vida, de que estão ávidos, da alegria de acreditar e do testemunho feliz da vocação que se refletem na beleza do nosso ministério, na diversidade dos carismas da vida consagrada e no amor das famílias.

Hora de oração, de celebração e de formação da fé, de vivência em comunidade cristã e em movimentos apostólicos, de abertura a novas compreensões do mundo e de diálogo com os não crentes, neste território comum de procura de sentido, onde a fé se faça companheira da vida e do futuro da humanidade.

Esta é a hora para edificar um santuário de gratidão aos sacerdotes, ali bem perto do Seminário, coração da Diocese, para que à esperança acrescida de novas vocações, que já vemos surgir, se alie o testemunho abençoado de tantas vidas dadas a Deus nesta Igreja de Aveiro.

4.Vamos levar a cada família e deixar em cada casa, mês a mês, o eco da Palavra de Deus e da voz da Igreja, que abre a porta da fé e do coração e nos ensina o caminho da confiança, da proximidade, da relação fraterna e da ajuda solidária. A rua vai ser nossa casa comum, percorrida pelos «pés dos que anunciam o evangelho». Vamos escutar, nos novos átrios da evangelização, silêncios e repartir palavras, aprendendo novas linguagens para falar de Deus e acolher os anseios do coração humano.

Vamos aprender de Jesus a revestirmo-nos desta identidade feliz que nos vem do batismo e a vestirmos a alma desta pureza de vida que investe e faz a diferença, sempre que proclama e vive as bem-aventuranças.

Vamos fazer tudo para que, pela fé e pelas obras dos cristãos, brilhe, na nossa terra, «a alegria e o encanto do nosso encontro com Cristo», (Bento XVI).

5.Estamos em Missão, Irmãos e Irmãs. Trabalhemos, como se tudo dependesse do nosso ânimo, do nosso entusiasmo e da nossa entrega. Rezemos, porque a Deus devemos a inspiração, d’Ele esperamos a força e n’Ele reside a eficácia da Missão Jubilar, para que aqui nasça um imenso património de esperança e daqui se anteveja e antecipe este viver renovado da Igreja do futuro:

“Senhor, nosso Deus, nós te confiamos a Igreja de Aveiro e a nossa Missão Jubilar.

De Ti, Senhor, recebemos o convite e partimos para anunciar o evangelho das bem-aventuranças e ser Teu rosto vivo junto de cada pessoa.

Que a Missão Jubilar seja momento de renovação para a Igreja, aurora de alento para o Mundo e certeza de Páscoa perene para a Humanidade.

A Maria, nossa Mãe, pedimos a força da fé e a alegria da confiança para amar a Deus e servir os nossos irmãos.

Que Santa Joana, nossa Padroeira, nos proteja e ajude a «viver esta hora» de Missão Jubilar. Ámen.

Se de Aveiro, 21 de outubro de 2012

D. António Francisco dos Santos, bispo de Aveiro

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