Homilia no dia da Igreja diocesana de Aveiro

"Evangelizar é semear a esperança no coração do mundo"

1 .A Igreja de Aveiro celebra hoje a Eucaristia no santuário de Nossa Senhora de Vagos. Este lugar sagrado afirma a fé e a devoção de gerações de pessoas e de múltiplas comunidades e famílias, guiadas pela mão protectora da Mãe de Deus e nossa Mãe.

Desde a restauração da Diocese, este lugar permanece aberto e atento a milhares de peregrinos que vemos, com alegria, em cada dia aumentar. E sem perder esta dimensão de universalidade, este espaço sagrado, situado entre a ria e o mar, transformou-se em santuário diocesano.

Hoje, Dia da Igreja Diocesana, o santuário de Nossa Senhora de Vagos acolhe-nos com este doce olhar materno de Maria, Mãe da Igreja. Aqui reunidos manifestamos uma das expressões mais belas da Igreja que somos.

É Dia da Igreja Diocesana. Sede bem-vindos.

A nossa diocese iniciou o projecto pastoral deste ano sob a bênção da Mãe de Deus, no passado dia 8 de Dezembro, Solenidade da Imaculada Conceição.

Queremos prosseguir esse caminho. Maria, a Senhora de Vagos e Estrela da Esperança, conduzir-nos-á, solícita e atenta, até à Missão Jubilar Diocesana na celebração dos 75 anos de restauração da Diocese. Com Maria, queremos ser Igreja renovada na caridade para ser esperança no mundo.

2. A primeira etapa do Plano Diocesano de Pastoral é dedicada ao serviço dos mais pobres. Com eles e na acção sócio-caritativa e solidária da Igreja ao seu serviço desejamos tornar presente a esperança de Cristo ressuscitado.

Só o conseguiremos se formos capazes de criar dinamismos necessários para que todos os cristãos adquiram consciência de que a caridade é o sinal maior da vida pessoal e manifesta a autenticidade e a verdade da vida cristã das comunidades.

Foram muitas as iniciativas pessoais, paroquiais, arciprestais e diocesanas que nos despertaram e fizeram experimentar no concreto da vida diária este serviço aos mais pobres.

Preocupou-nos igualmente ao longo deste ano, como nos preocupará sempre e em tudo, o necessário esforço de coordenação e o desejo permanente de potenciar os recursos humanos e materiais da Igreja no serviço efectivo dos mais pobres.

A nossa primeira missão é evangelizar. Estamos conscientes de que evangelizar é anunciar o amor de Deus e sentir a alegria do serviço.

Digamo-lo com o lema da nossa Igreja Diocesana: "amar a Deus é servir".

Toda a missão, em Igreja, se resume a anunciar o amor infinito com que Deus nos ama. Este amor exprime-se de forma plena e radical no amor com que Jesus Cristo nos amou, ao dar a sua vida por nós.

O mundo precisa de ver em nós o rosto deste amor de Deus. O mundo precisa de descobrir em nós a esperança tornada compromisso na construção da fraternidade. O mundo precisa de humanismo talhado na caridade que a vida de Deus revelada em Jesus Cristo e presente em nós pelo Espírito Santo tornam efectiva e operante.

O Plano Diocesano de Pastoral sócio-caritativa que desde o início foi prometido como um dos objectivos deste ano pastoral e agora é reflectido, constitui um passo importante para tornarmos a caridade mais afirmada e visível nas pessoas, nas comunidades cristãs, nos movimentos apostólicos e nas estruturas da Igreja diocesana.

3. Queremos celebrar o caminho feito ao ritmo da experiência e do testemunho de S. Paulo.

Fomos convidados ao longo deste ano a ler S. Paulo, porventura com novo olhar. Sobretudo com um coração aberto e com o desejo renovado de nos encantarmos com o seu entusiasmo pelo evangelho e de nos deixarmos seduzir pela sua paixão por Cristo. Paulo dava prioridade absoluta a Jesus Cristo. Ele amava a Igreja na sua totalidade, dava-se por inteiro às comunidades cristãs e abria o seu coração aos horizontes da nova evangelização, alargando a dimensão da fé a novos espaços, culturas e povos. Paulo centra-nos no essencial, que é Cristo.

Esta é certamente a grande descoberta do que lemos e aprendemos de Paulo, do que escrevemos e vivemos com e como Paulo ao longo deste ano.

Lembro os itinerários espirituais e catequéticos; as jornadas de formação do clero e de tantos grupos, movimentos e comunidades; as vivências, iniciativas e actividades pastorais.

O homem novo, de que nos fala Paulo, nasce da salvação em Jesus Cristo, vivo e ressuscitado, que nos vem da fé, da esperança e da caridade. Este é o caminho que ultrapassa tudo. Agora subsistem as três: fé, esperança e caridade. Mas a maior de todas, o dom perfeito é a caridade. (cf. 1 Cor 13).

4.Iniciou-se, há uma semana, por vontade expressa do Santo Padre, Bento XVI, o Ano sacerdotal. Relembremos as próprias palavras do Papa no seu discurso à Assembleia plenária da Congregação para o Clero: "Para favorecer esta tensão dos sacerdotes para a perfeição espiritual, da qual depende a eficácia do seu ministério, decidi proclamar um especial Ano sacerdotal".

A actualidade pastoral desta iniciativa do Santo Padre, anunciada na continuidade do Ano Paulino, consiste em compreender e fazer compreender cada vez mais a importância da vida e da missão dos sacerdotes na Igreja e na sociedade contemporânea.

Aprofundemos a esta luz o mistério da Igreja que somos. Em cada Eucaristia encontramos o povo sacerdotal e os seus sacerdotes. Ajudar-nos-á neste caminho a vida do Santo Cura d'Ars, assim como a vida, o testemunho e o exemplo dos sacerdotes por Deus dados à Igreja de Aveiro. Sois vós, caríssimos sacerdotes, o sinal maior do amor de Jesus Cristo por esta Igreja. A todos agradeço e por todos rezo. Lembro com particular afecto e acrescida preocupação os nossos irmãos sacerdotes doentes.

Anuncio-vos com alegria a ordenação, no próximo dia 12 de Julho na Sé Catedral, de um novo presbítero. Que ele constitua uma primeira bênção deste Ano Sacerdotal e que anuncie tempos novos de esperança.

Tempo de esperança é sempre tempo de fidelidade renovada, de autenticidade generosa e de santidade testemunhada que a partir da nossa vida de sacerdotes ilumina os caminhos daqueles a quem servimos como pastores.

Serão ordenados nessa mesma celebração seis novos diáconos permanentes.

5.O dom do sacerdócio é certamente um dos mais significativos gestos do amor de Deus que nos criou para a vida, como nos diz o Livro da Sabedoria, na primeira leitura, e que nos deu riquezas, bens e valores espirituais, como nos lembra S. Paulo: "Conhecemos a generosidade de Cristo para connosco. Sejamos também nós generosos em justiça e caridade. Procuremos esta generosidade aprendida com Cristo que era rico e fez-se pobre para que nos tornássemos ricos pela sua pobreza" (2 Cor 8,9).

É tão sincero este gesto de Paulo que o leva a recorrer à generosidade da comunidade de Corinto fazendo uma colecta a favor da comunidade de Jerusalém que Pedro servia e que vivia momentos de provação. Ele pode concluir desta maneira tão bela:" A quem tinha muito não sobejou e a quem tinha pouco não faltou" (2 Cor 8,15).

6. Voltemo-nos para o Evangelho e encontremo-nos com Cristo que atravessa o lago para a outra margem. Reuniu-se junto d'Ele grande multidão.

Uma multidão não é uma soma de números. É um conjunto de pessoas. Saber estar com as multidões não impede, pelo contrário implica, que se dê atenção a cada pessoa. Jesus Cristo apercebe-se de quem d'Ele se aproxima e acolhe quem O procura. É a dignidade de cada um e a sua realidade concreta que devem encontrar hoje na Igreja e no coração dos cristãos, sacerdotes, diáconos, consagrados (as), leigos (as) a mesma atenção e igual solicitude à de Cristo.

 Esta é a pedagogia que diariamente a Igreja deve aprender e exercitar. Aqui e na vanguarda da missão, aonde vos conduz, caríssimos irmãos e irmãs, o amor de Deus e dos irmãos.

Convoco-vos de novo para a Missão. Que esta missão nos leve ao encontro das multidões e nos faça atender cada pessoa, família, grupo, comunidade e movimento apostólico e dar conta de tantos que vivem distantes, estão afastados, andam dispersos ou se encontram em busca de caminhos de verdade, de bem, de vida e de fé.

Durante este ano pastoral demos alguns passos significativos neste caminho. Estão criadas condições e envolvidas pessoas e estruturas para prosseguirmos. Avancemos sem medo, com novo ardor, novo entusiasmo, novos métodos no horizonte da Missão. O ardor missionário é a página mais gloriosa do povo português. Que seja também o momento mais belo da Igreja de Aveiro e o nosso itinerário de todos os dias.

No horizonte mais próximo viveremos com a mesma alegria e com igual sentido missionário o Festival Jota, de 24 a 26 de Julho, em S. Jacinto, e o XVII.º Acampamento Regional do Escutismo, de 31 de Julho a 6 de Agosto, na Vagueira. Aí estarei convosco, caríssimos jovens e escuteiros, nesses dias.

A Diocese acompanha, com o encanto das primeiras horas de evangelização, o grupo de voluntários missionários que daqui partem em missão, enviados por esta Igreja diocesana de Aveiro.

É com fraterno espírito de acolhimento e assumida consciência da importância cultural e social da mobilidade humana e da afirmação cristã das comunidades portuguesas dispersas pelo mundo que privilegiarei na pastoral do verão deste ano a presença nas comunidades da Diocese com mais emigrantes em tempo de férias.

7. Confiemos estes nossos propósitos e compromissos; confiemos a nossa Igreja Diocesana; confiemos os sacerdotes, diáconos, seminaristas, consagrados (as) e leigos(as); consagremos as crianças, os jovens, as famílias, os idosos e os doentes, à Mãe de Deus e nossa Mãe, que aqui e sempre invocamos como Nossa Senhora de Vagos.

28 de Junho de 2009
+António Francisco dos Santos
Bispo de Aveiro

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