Homilia do bispo do Porto na Vigília Pascal

O Filho de Deus

Homilia na Vigília Pascal de 2020

De entre todas estas leituras bíblicas que magistralmente nos fazem redescobrir a história da salvação e nos encaminham, com toda a harmonia, para a manhã da Páscoa, chama-me a atenção o último versículo do Evangelho: “Ide avisar os meus irmãos que partam para a Galileia. Lá Me verão”. Irmãos?  É possível a ousadia de nos imaginarmos da família do Senhor glorioso e redivivo? Como ontem meditávamos a partir do acontecimento da Paixão, que o Senhor assuma as nossas dores e sofrimentos, compreende-se, pois ele é verdadeiro homem: também nas suas veias corre um sangue semelhante ao nosso. Mas que Ele, o Ressuscitado, o Homem celeste, associe a Si a pobreza daqueles que vivem neste mundo a ponto de lhes chamar “irmãos”, já não cabe na estreiteza da nossa inteligência.

Porventura, será por isso que este mesmo Evangelho começa pela conhecida expressão: “Não tenhais medo!”. Esta fórmula de tranquilidade é sempre a palavra que se ouve quando as coisas se tornam superiores à nossa compreensão. E, de facto, como entender a ressurreição do Crucificado e a amabilidade de nos elevar à condição de irmãos?

A abertura do véu dá-se se pensarmos na nossa condição de batizados. No batismo, “fomos sepultados com Cristo na morte para com Ele tomarmos parte na vida nova” (Rom 6, 4), garante-nos S. Paulo. Isto é, Ele une-nos estreitamente ao Seu ser; Ele torna participantes da Sua nova vida aqueles por quem deu a Sua vida. Nós, ainda que neste mundo, de alguma forma, já ressuscitamos n’Ele.

Caros batizados, o Senhor Jesus é o Alfa e o Omega. Ele está ao princípio e ao fim de tudo. A Sua existência não é apenas de ontem, mas é de hoje e de toda a eternidade. É gloriosamente infindável. Este o motivo dos nossos aleluias. Por isso, “corações ao alto”. Ele está connosco como vida em plenitude, vida emocionante. Como escreveu Santo Agostinho, “Neste tempo de nossa peregrinação cantamos Aleluia como viático para nosso conforto; o Aleluia é agora, para nós, canção dos viajantes” (s. 255, 1).

Fiéis em Cristo, particularmente vós os que sofreis e viveis em estado de angústia e depressão, tentai cantar Aleluias porque o Senhor da Vida associou a Si a nossa vida a ponto de nos chamar irmãos. Aleluia. Muita alegria!

+ Manuel Linda

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