Homilia do Bispo do Porto na Missa Crismal

Jesus Cristo, a “Testemunha fiel” (Apoc. 1, 5), foi um dia a Nazaré e, entrando na sinagoga no sábado, foi convidado a proclamar a escritura para os conterrâneos. Era o profeta Isaías que escrevera: “o espírito do Senhor está sobre mim, porque o Senhor me ungiu. Enviou-me a anunciar a Boa Nova aos infelizes… Enviou-me a consolar os que andam amargurados…” (Is. 61, 1-3). Depois de fechado o livro e, criada natural curiosidade e expectativa, disse: “Cumpriu-se hoje mesmo este passo da Escritura que acabais de ouvir” (Lc. 4, 21). Unção e missão constituem duas dimensões características e essenciais do Sacerdócio e da Eucaristia. Neste Ano da Eucaristia, a Missa crismal que celebramos é de modo muito especial um indicativo do dia da Eucaristia e do dia do nosso Sacerdócio, como recordava o Santo Padre na mensagem para esta Quinta-Feira Santa, assinada na Policlínica Gemelli em Roma, no passado dia 13 de Março. De facto, o Ano da Eucaristia veio coroar a fé irradiante e o calor pastoral do Papa, manifestado em sucessivos documentos de conteúdo doutrinal e de orientação pastoral. Na Carta Encíclica “Ecclesia de Eucharistia” (2003) lê-se logo no inicio: “A Igreja vive da Eucaristia. Esta verdade não exprime apenas uma experiência diária de fé, mas contém em síntese o próprio núcleo do mistério da Igreja” (n.º 1). E, porque a Igreja nasce do mistério pascal, a Eucaristia, que é sacramento por excelência do mistério pascal, está colocada no centro da vida eclesial (cf. n.º 2). A constituição “Lumen Gentium” já dizia que o sacrifício eucarístico é “fonte e centro de toda a vida cristã” (n.º 11). Uma das notas e exigências mais fortes da Eucaristia é a comunhão, doutrinal, disciplinar, pastoral e mesmo afectiva. A doutrina insistentemente repetida por parte do magistério a respeito da Eucaristia, da sua celebração e do seu sentido, é precisamente a comunhão: “Cada celebração eucarística é feita em união não só com o próprio Bispo mas também com o Papa, com a Ordem Episcopal, com todo o clero e com todo o povo. Toda a celebração válida da Eucaristia exprime esta comunhão universal com Pedro e com toda a Igreja ou, como no caso das igrejas cristãs separadas de Roma, assim a reclama objectivamente” ( Da Congregação para a Doutrina da Fé, cit. em Eccl. de Eucharistia, nº 39). Sendo expressão da Comunhão, a Eucaristia “cria comunhão e educa para a comunhão” (Eccl. de Euch., n.º 40). Se criasse rupturas e provocasse divisões, a Eucaristia seria atingida na sua própria essência e contraditória nos efeitos ou consequências. Na Carta Apostólica “Mane nobiscum Domine” o Papa diz: “ Fonte da unidade eclesial, a Eucaristia é também a sua máxima manifestação. A Eucaristia é epifania de comunhão” (n.º 21). Esta epifania ou manifestação será sem dúvida uma meta a não perder de vista em todos os momentos de celebração ou de testemunho de eclesialidade. E por isso esta Missa crismal deve tender para a realização cada vez mais significativa de “Missa estacional”, “quando o Bispo celebra na catedral com os seus presbíteros e diáconos e com a participação do povo de Deus em todas as suas componentes” (MND, n.º 22). Cumpre-me mais uma vez congratular-me com os fiéis da Diocese, ministros ordenados e fiéis leigos, pela compreensão cada vez mais perfeita e consequente de que esta Eucaristia é uma oportunidade para exercermos o nosso sacerdócio respectivo, como Povo sacerdotal em unidade e comunhão. Na Sinagoga de Nazaré, Cristo explicou-nos, a partir do profeta Isaías, que a unção se destina à missão. Ele, o Ungido, o Messias, realizou a missão que o Pai Lhe confiou. Nós, ungidos no Baptismo, confirmados no Sacramento do Crisma ou ungidos pelo sacramento da Ordem, temos uma missão ou tarefa comum, resultante, com as diferenças respectivas, do único Sacerdócio de Cristo, pelas graças ou dons que o Espírito nos concede. Tudo assenta, porém, na unidade e comunhão sem a qual não pode haver eficácia e verdade de missão, nem autenticidade de vocação. Quando o profeta Isaías antecipa e descreve o âmbito da missão de Cristo desafia-nos a descobrir e organizar o projecto que a Eucaristia nos oferece, os valores que exprime, as atitudes que inspira, os propósitos de vida que suscita (cf. MND, nº25). Neste sentido, “a Eucaristia não é expressão de comunhão apenas na vida da Igreja; é também projecto de solidariedade em prol da humanidade inteira” (nº27). Fonte de solidariedade universal e escola de paz, a Eucaristia e o Sacerdócio são na Igreja as grandes coordenadas da espiritualidade sacerdotal, que deve por isso assumir uma “forma eucarística” (Mensagem do Papa, nº1) A solidariedade que resulta da Eucaristia e do Sacerdócio como dom oferecido em benefício da sociedade em geral é felizmente uma característica e um privilégio experimentado no interior da Igreja, no interior e no espaço da nossa Igreja, no interior e no espaço da nossa igreja diocesana. Não fere nem contraria a humildade, a referência que fazemos ou ouvimos a propósito desta solidariedade, tão necessária e tão verdadeira entre os sacerdotes de idades muito diferentes, nas áreas de maior rarefacção de sacerdotes ou nas condições de carências para as quais não foi possível encontrar as soluções ou respostas que entretanto continuam a ser buscadas com alguma fantasia e ideal e muita ansiedade. Esta mesma solidariedade tem sido assumida como tarefa pastoral comum no programa e conjunto das prioridades que fixamos no início deste Terceiro Milénio da era cristã, quer no interesse e compromisso do conselho Pastoral Diocesano quer nas preocupações das vigararias episcopais, zonas vicariais e paróquias da Diocese. Neste Ano da Eucaristia anotamos o espírito de unidade e d disponibilidade pastoral da generalidade da Diocese, no sentido de se renovar eucaristicamente mesmo antes de sugerirmos o programa que nos pareceu mais adequado e determinarmos o que pareceu conveniente, sobretudo como recuperação da imagem e história da secular devoção ao Santíssimo Sacramento. Iniciativas tomadas e actividades já concretizadas são raízes da nossa esperança colectiva. Neste sentido e espírito de congratulação, no dia do Sacerdócio e da Eucaristia, apraz-me felicitar-me, felicitar-vos e felicitar os sacerdotes que neste ano de 2005 celebram os seus respectivos jubileus de ordenação sacerdotal e que se mantêm ao serviço desta diocese: Bodas de Ouro Sacerdotais em 2005 Pe. António da Fonseca Soares (C.M.) (20/Mar/1955) Pe. Domingos Taveira (C.F.M.) (01/Mai/1955) Pe. Acácio Ribeiro de Freitas (31/Jul/1955) Mons. Dr. Gabriel da Costa Maia (31/Jul/1955) Pe. José Alves Pereira do Couto (31/Jul/1955) Pe. Dr. Manuel Valente da Silva (31/Jul/1955) Cón. Orlando Mota e Costa (31/Jul/1955) Pe. Albino Ribeiro da Costa (C.S.Sp.) (29/Set/1955) Bodas de Prata Sacerdotais em 2005 Cón. Dr. João da Silva Peixoto (29/Jun/1980) Pe. Mário Fernando Mendes Costa Pinto (27/Jul/1980) Pe. Dr. Albertino Gonçalves (CM) (27/Jul/1980) Esta é também a oportunidade para manifestarmos a nossa alegria em acção de graças e formularmos os melhores votos de fecundo Apostolado ao Senhor D. Carlos Alberto de Pinho Moreira Azevedo, membro do Presbitério do Porto que o Santo Padre nomeou auxiliar do Patriarcado de Lisboa. Ainda no espírito de solidariedade institucional, a Diocese do Porto, através do seu Bispo, assinou um acordo com a Sociedade Missionária da Boa Nova, mediante o seu Superior Geral, Pe. Doutor António José da Rocha Couto. “Considerando que a Igreja é, por sua natureza, missionária, e a igreja particular é chamada a explicitar cada vez mais a sua dimensão missionária (AG, 2; RM, 62)”; e considerando que “A Sociedade Missionária da Boa Nova é um meio de realização da vocação missionária dos sacerdotes diocesanos que Deus chama para realizar a missão universal, que incumbe aos presbíteros, como cooperadores dos Bispos”, a Diocese do Porto aceitou e apoia que o Pe. Dr. Joaquim Domingos da Cunha Areais se entregue ao apostolado missionário por um período de cinco anos. Este acordo comum foi assinado em 30 de Setembro de 2004. Senhores Bispos, meus caros sacerdotes e fieis leigos: neste momento que é de transformações, provação, e de esperança como é próprio da Igreja de Cristo e do Espírito, procuremos viver a Páscoa de 2005 em acção de graças, em Eucaristia, preparados para na fidelidade e em comunhão sermos arautos firmes do Evangelho, por esta Igreja que constituímos e que está no mundo para anunciar a Salvação e ser meio de Salvação para todos, de harmonia com a vontade de Deus.

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