Salvação e luz
Homilia na Vigília Pascal de 2019
Começamos esta solene Vigília em ambiente de trevas. Gradualmente, esta Catedral foi-se iluminando até se cantar o louvor do círio pascal, expressão do que aqui celebramos: a ressurreição do Senhor.
Mas a maior iluminação não foi a do espaço exterior: dentre de nós, surgiu um especial estado de alma, descrito como alegria, que não pudemos calar e exprimimos com uma luz acesa na nossa mão. E demos por nós a cantar um aleluia festivo, genuíno e emotivo! Sim, passamos das trevas à luz, da tristeza à alegria incontida!
Não fomos nós os primeiros a fazer esta experiência. Há dois mil anos, as mulheres que foram ao sepulcro, viveram idêntica experiência: iam cheias de dor, como quem vai a um cemitério e, na visão dos dois homens ou anjos “de vestes resplandecentes”, sentiram fazer-se luz no seu interior ao recordar a garantia de Jesus de que três dias depois de morto havia de ressuscitar, e atingiram a plenitude da alegria absoluta no encontro com o Cristo vivo.
Mas, como sabemos, o acontecimento não termina aqui. Entra uma outra parte, porventura tão importante como esta: as mulheres são enviadas a comunicar o facto a Pedro e aos outros discípulos. E é este dado que faz com que a ressurreição do Senhor deixe de ser uma experiência privada, pessoal, sujeita à ilusão, e se torne um acontecimento de toda a Igreja e vivido como celebração e festa coletiva.
Assim tem de acontecer hoje. Páscoa não rima com experiência individual. Tem de ser facto difundido e comunicado a todos. E no ato de se comunicar, de falar dele, de lhe pronunciar o significado, verifica-se a dupla vertente da fé: a transmissão a quem, porventura, andará mais esquecido e o aumento em quem a anuncia. Se pensarmos bem, damo-nos conta de que, quase sempre, na nossa vida, aconteceu uma situação que nos gerou fé ou, pelo menos, nos «prendeu» à fé. Agora, coloquemo-nos na situação dos outros: uma comunicação da nossa experiência de fé não poderia gerar neles uma interrogação e consequente adesão à fé? Então, porque não anunciamos aos outros alguma manifestação do Senhor nas nossas vidas? A nossa fé na ressurreição obriga-me a comunica-la, tal como às mulheres de que fala o Evangelho?
Caro cristãos, repito-vos as palavras dos anjos a estas mulheres: “Não tenhais medo”! Não tenhais medo do anúncio. Para isso não são precisas palavras convincentes: chega o testemunho pessoal. Quanto mais simples, melhor. Nesta Páscoa, ide dizer a todos que, por amor de Deus, “não busquem entre os mortos Aquele que está vivo”.
+ Manuel Linda