Homilia do bispo de Viseu no Domingo de Páscoa

«O Ressuscitado é Cristo, o Vivente»

Foto Jornal A Guarda/Francisco Barbeira, D. António Luciano

Cristo Ressuscitado é a luz do mundo, que veio para iluminar a nossa vida interior e destruir as densas trevas, que se abateram sobre a humanidade e a Igreja.

A noite da Ressurreição iluminada por Cristo, deixou-nos a esperança e a certeza de que a Luz nascida da Páscoa não se pode apagar. Cristo está vivo para sempre e a sua Luz ilumina a terra inteira.

 Na Vigília Pascal acendeu-se o Lume novo, no qual depois da bênção foi aceso o Círio Pascal. Depois acendemos as nossas velas e assim brilhou a Luz nova da Páscoa, no meio do seu povo. Jesus o Ressuscitado, o nosso irmão, amigo e companheiro é cantado no Precónio Pascal, Luz que brilhou para destruir as nuvens sombrias que pairam sobre a humanidade e a Igreja.

Que brilhe sobre nós a única Luz, que ilumina o primeiro, de todos os dias. Alegremo-nos porque Cristo Ressuscitou e está vivo no meio de nós. Eis o Dia que fez o Senhor, nele exultemos e nos alegremos. Aleluia! Aleluia!

O mistério Pascal celebra a morte e a ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, pedra angular do Cristianismo, critério fundamental para conhecer a verdadeira cristandade. A celebração da Páscoa é também uma oportunidade para nascer de novo, como disse Jesus no diálogo que teve com Nicodemos: “É preciso nascer de novo”.

É à luz da Palavra de Deus, que acabámos de escutar nas leituras deste Domingo de Páscoa, que os cristãos devem dar os seguintes passos:

  1. Realizar um encontro pessoal com a pessoa de Jesus Ressuscitado, diante da contemplação do túmulo vazio. Cristo é a Ressurreição e a vida.
  2. Aspirar às coisas do alto, isto é, chamados a viver a essência da vocação à santidade. “Se ressuscitastes com Cristo, aspirai às coisas do alto (…). “Afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra” (Col 3, 1-2).
  3. Sermos testemunhas de Cristo Ressuscitado acreditando n` Ele.
  4. Os cristãos devemos servir Jesus com alegria e esperança pascal.

“A fé na Ressurreição tem por objeto este acontecimento, ao mesmo tempo historicamente testemunhado pelos discípulos (que realmente encontraram o Ressuscitado) e misteriosamente transcendente, enquanto entrada da humanidade de Cristo na glória de Deus” (CIC 656).

A Ressurreição de Jesus é o ponto alto no qual culmina toda a certeza de que Ele veio para dar a vida em abundância. “A ressurreição de Cristo não é uma reanimação, uma revivificação de um cadáver e o seu retorno a este mundo, uma espécie de happy end espetacular da Páscoa. A ressurreição não é um voltar ao que se era, mas sim uma transformação radical. Não esqueçamos a narrativa dos Evangelhos segundo a qual nem os mais próximos reconheceram o ressuscitado. O Ressuscitado veio e continua a vir como um estrangeiro desconhecido” (Tomás Hallík)

O testemunho da fé em Cristo Ressuscitado, dado por Maria Madalena, que foi ao sepulcro e viu a pedra retirada, correu a levar a notícia a Pedro e a João, o discípulo que Jesus amava e disse-lhes: “Levaram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde o puseram”. Pedro acompanhado com o outro discípulo caminham ambos para o sepulcro, mas João chegou primeiro, “viu as ligaduras no chão” e esperou por Pedro. Quando chegou Simão Pedro entrou no sepulcro e “viu as ligaduras no chão e o sudário que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não com as ligaduras, mas enrolado à parte”. Viram e acreditaram e começaram a entender as palavras da Escritura, “segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos”.

O relato dos evangelistas ao anunciarem que Jesus tinha ressuscitado e o sepulcro estava vazio, mostram-nos as primeiras testemunhas da Ressurreição. Maria Madalena, as mulheres e os discípulos, foram as primeiras pessoas a receber a notícia de que o Ressuscitado estava vivo e agora eram chamados a proclamar  o anúncio pascal como fonte de vida e plenitude de paz.

A transmissão da fé às novas gerações é hoje uma das grandes dificuldades e preocupações da Igreja. As famílias e os adultos têm muita dificuldade em transmitir a fé às crianças e aos jovens.

As dificuldades maiores dos jovens tem a ver com a sua inserção na vida da Igreja, nas comunidades paroquiais, em participar na Eucaristia do domingo e  noutras celebrações importantes na vida e missão da Igreja.

A Jornada Mundial da Juventude é uma oportunidade, um desafio pascal e eclesial, daí o empenhamento dos jovens em todo este percurso pastoral muito importante. Que nenhuma comunidade paroquial, fique de fora deste projeto JMJ rumo a Lisboa. Como estamos nós a acompanhar os nossos jovens nesta caminhada JMJ?

A Páscoa é a festa da vida nova, dos verdadeiros desafios que desafiam a Igreja. Jesus ao terceiro dia, ressuscitou dos mortos, não podemos ficar a olhar com tristeza o túmulo vazio. Temos que escrever no nosso coração e na nossa vida os desejos da Páscoa, na esperança, e na paz que só o Ressuscitado pode dar ao mundo.

O futuro da vida da Igreja e dos discípulos de Cristo, assenta na escuta da Palavra de Deus, no diálogo, na busca da luz, guiados pela ação do Espírito Santo e vivificados pela graça dos sacramentos, como testemunhas de Cristo Ressuscitado ao longo da nossa vida.

A construção do mundo novo e de uma Igreja renovada, nascida da Páscoa, purificada e lavada no Sangue de Cristo, o Cordeiro Pascal, é sempre um mistério conduzido pelo Espírito Santo.

A herança da transmissão da fé, obra do Espírito Santo e o testemunho de Cristo Ressuscitado, vivido por cada cristão no seu dia-a-dia é importante para a vitalidade da Igreja no presente e no futuro.

Preocupa-me o fenómeno daqueles que abandonam a fé, ou se tornaram indiferentes. O que estamos a fazer a nível do crescimento da fé, da evangelização, da catequese, da nossa conversão pessoal e pela renovação da Igreja, enquanto povo de batizados nascidos da Páscoa.

 A renovação da vida cristã dos fiéis, o testemunho e a  transmissão da fé como herança pascal para as novas gerações deve ser fermento novo do qual depende o futuro das nossas paróquias e instituições.

É preciso passar de uma Igreja de sexta feira-santa, de pedras mortas, para uma Igreja de pedras vivas nascida na Vigília da Páscoa. A palavra Páscoa, quer dizer passagem da morte à vida. Passar de uma Igreja pecadora, para uma Igreja de santidade, eis a marca do caminho de cada cristão. Na celebração da Páscoa entreguemos a nossa vida a Jesus Cristo, o Cordeiro Pascal que foi imolado.

Desejo a todos vós, votos de Santas Festas Pascais em Cristo, O Ressuscitado, na esperança, na alegria e na paz do dom pascal, que não tem fim.

Viseu, 9 de março de 2023

+ António Luciano, Bispo de Viseu

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