Missa do dia 25 de dezembro na Sé pelo bispo da diocese
Irmãos
A Liturgia do Natal é rica em convites à alegria. A motivação dessa exortação feita pelo profeta Isaías, reside na iniciativa de Deus em resgatar o seu povo e a sua cidade, das desgraças e abandonos a que têm estado sujeitos. Até as sentinelas da cidade são exortadas à alegria.
É a salvação do nosso Deus que é reconhecida pelos “confins da terra”, como cantávamos no refrão do Salmo.
Também o autor da Carta aos Hebreus testemunha que Deus se tornou presente no meio de nós, no passado, pela palavra dos profetas, agora, pela presença do seu próprio Filho, “a quem fez herdeiro de todas as coisas e pelo qual também criou o universo”. Filho que, entretanto, “depois de ter realizado a purificação dos pecados, sentou-se à direita da Majestade no alto dos Céus”.
Por sua vez, o Apóstolo São João, oferece-nos no prólogo do seu Evangelho (cf. Jo 1,1-18), conforme escutámos, uma reflexão que bem pode ser o centro da contemplação do Mistério do Natal. Apesar de não relatar o que se passou em Belém, é um texto que bem pode ser escutado, tendo os nossos olhos e a nossa mente centrados no presépio.
“No princípio era o Verbo … que estava com Deus. (…) sem Ele nada foi feito”.
O Verbo de Deus é a Palavra por excelência, palavra criadora, que agora aparece em Pessoa humana. Aqui estamos, nesta contemplação de Deus,que nunca ninguém viu, que resolve vir assim mesmo no Menino de Belém, Jesus, o Salvador! Este movimento do Céu à terra, é o mistério da encarnação; encarnação da Palavra!
Contemplamos Jesus, Palavra Viva de Deus, inteiramente ao serviço da vontade de Deus, pelas palavras, pelas ações, pela dedicação aos outros e pela vida pessoal. Jesus tem a missão de revelar o Amor do Pai.
“Veio para o que era seu e os seus não o receberam”. Esta é situação de desencanto: veio para o seu povo, e o seu povo (de Israel) não o recebeu. “Mas, àqueles que O receberam e acreditaram no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem Filhos de Deus”. Esta é a graça: somos Filhos de Deus porque acreditámos em Jesus; foi Ele que nos consagrou como seusirmãos e irmãs.
“A Deus nunca ninguém O viu. O Filho Unigénito, que está no seio do Pai, é que O deu a conhecer”. Jesus vem revelar-nos o Pai e inaugura,connosco, a graça do ‘Homem novo’, onde a pessoa humana pode ser morada de Deus. Jesus vai ser fiel, vai entregar-se na Cruz, ao Pai e a nós.Na sua vinda e sempre, Ele é o Deus-connosco: “Eu estarei convosco até ao fim dos tempos” (Mt 28,20).
Voltemo-nos para o Presépio. “No Presépio – escreveu o Papa Francisco – os pobres e os simples lembram-nos que Deus se faz homem para aqueles que mais sentem necessidade do seu amor e pedem a sua proximidade. Jesus ‘manso e humilde de coração’ (Mt 11,29), nasceu pobre, levou uma vida simples, para nos ensinar a identificar e a viver o essencial”. (…) Do Presépio, com meiga força, Jesus proclama o apelo à partilha com os últimos, como estrada para um mundo mais humano e fraterno, onde ninguém seja excluído e marginalizado”(AS 8).
Irmãos caríssimos, a celebração do Natal do Senhor, é um sinal do Amor e da ternura de Deus pela humanidade. Por toda a humanidade. O Natal abre-nos ao respeito pela dignidade da pessoa humana, ao valor da Família como espaço privilegiado de vida e de amor, ao respeito pelas crianças, pelas pessoas com deficiência, pessoas idosas e estrangeiros. Quero, pois, manifestar reconhecimento e gratidão pelos muitos sinais de Natal,promovidos ao longo do ano na atenção aos que mais necessitam de apoio e atenção. Nas famílias e nas diversas instâncias sociais, instituições, grupos e movimentos.
Continuemos a promover sinais de edificação da sociedade onde ninguém fique de fora. É necessário passar dos sinais exteriores de Natal, para os sinais mais discretos da ação amorosa na atenção às pessoas.
Celebremos com renovada esperança o Natal do nosso Salvador, rogando as graças necessárias para correspondermos aos desafios da missão.
+ José Traquina