Homilia do Bispo de Santarém na Imaculada Conceição

“O Senhor deu a conhecer a salvação” (Salmo Responsorial)

A solenidade da Imaculada Conceição desperta nos fiéis cristãos grande alegria e intenso louvor. Mãe do amor formoso, glória do povo de Deus, honra da Igreja, modelo dos fiéis, nova Eva que inicia a geração das novas criaturas santificadas pelo Espírito Santo, Nossa Senhora da Imaculada Conceição é profundamente admirada e venerada por todo o povo cristão. Proclamada em 1646 Padroeira do Reino de Portugal, por Dom João IV, é também a padroeira da nossa diocese e de muitas paróquias.

Nossa Senhora, isenta do pecado original desde a sua concepção, é para todo o povo de Deus, um sinal de esperança no percurso para a santidade. Na verdade, na beleza espiritual da Virgem Imaculada, Deus manifesta a salvação que esperamos e preparamos no Advento. Ela coloca diante de nossos olhos, de forma acessível e fascinante, a santidade, a justiça e a paz que Cristo veio trazer ao mundo. Na sua atitude de serviço humilde e confiante, na sua disponibilidade e solidariedade, Maria de Nazaré mostra as maravilhas que Deus realiza em todos os que acolhem a vinda de Jesus. Podemos, portanto, considerar a Imaculada Conceição como um sinal do advento que nos incentiva a desejar e a preparar a vinda de Cristo que celebramos no Natal. Através da formosura espiritual de Nossa Senhora, Deus dá a conhecer a salvação, como cantava o salmo responsorial.

A primeira leitura do livro do Génesis ensina-nos que todas as criaturas necessitam e anseiam pela salvação. Desde as origens, a humanidade experimenta amargamente a força do mal. O pecado torna-se presente logo em Adão e Eva e vicia as relações humanas entre eles e deles com Deus. Adão esconde-se, tem medo do Criador, acusa Eva sua mulher, atribui o mal a outros mas não reconhece o seu. Eva segue a mesma perspectiva. A leitura do Génesis mostra-nos, assim, como desde o início, o pecado condiciona a relação com Deus e com o próximo.

O pecado original acompanha a história da humanidade e multiplica-se, tornando-se uma força que influencia a forma de ver e de agir de todas as pessoas. Manifesta-se no egoísmo, no orgulho, nas divisões, na desconfiança, nos desentendimentos, na violência, na infidelidade, na opressão. Todos pecamos, embora tenhamos dificuldade em descobrir o nosso pecado e sejamos mais prontos a notar as faltas dos outros e da sociedade. A própria distinção entre bem e mal esbate-se na consciência das pessoas e impede o percurso para a santidade.

No entanto, a força do mal não domina o mundo e as pessoas. Na verdade, o texto do Génesis narra-nos a promessa da vitória da santidade e da fidelidade: “A descendência da mulher te esmagará a cabeça e tu a atingirás no calcanhar”. A ferida no calcanhar dificulta o caminho para a Deus mas a humanidade, a descendência da mulher, pela força da salvação de Jesus Cristo, manifestada na Imaculada Conceição de Nossa Senhora, esmagará o poder da iniquidade. A Imaculada Conceição é, por isso, uma garantia da promessa da vitória da humanidade sobre o pecado e um modelo que nos incentiva no caminho da salvação.

No evangelho, Maria é designada a “cheia de graça”. É a identidade de Nossa Senhora. Totalmente moldada pela graça de Deus, não colocou qualquer obstáculo à acção santificadora do Espírito Santo. Torna-se, assim, a imagem perfeita da santidade dos filhos de Deus. Nela resplandece em plenitude a luz de Cristo e através dela irradia no mundo, como a luz do sol se reflecte e irradia através da lua. A perfeição da graça transborda de Nossa Senhora para a Igreja, para os fiéis e para toda a humanidade. Deste modo, a “Cheia de graça” é para nós um modelo e um incentivo para que a luz de Cristo, através o nosso testemunho, resplandeça no mundo: “Brilhe a vossa luz diante dos homens”.

Associada à obra de Cristo, a Imaculada é uma bênção para todo o povo de Deus: “Bendito seja Deus que nos abençoou com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo” ouvimos na segunda leitura, colhida da Carta aos Efésios. A bênção de Deus é a herança espiritual a que todos temos acesso. Garante-nos a benevolência de Deus, a eleição e consagração para sermos “santos e irrepreensíveis em caridade, na Sua presença”. A bênção que, no Antigo Testamento, era um privilégio para poucos eleitos, em Cristo tornou-se um dom concedido a todos.

Maria Imaculada guia-nos no caminho do Advento para esperarmos e prepararmos a salvação. Como os justos e patriarcas do Antigo Testamento esperaram a vinda de Cristo, também nós hoje necessitamos e pedimos a salvação. “Ó nuvens chovei do alto e apareça a salvação que Deus nos traz escondida em humano coração” rezamos num hino do Advento. No coração de Cristo e no coração de Maria torna-se visível e acessível a salvação. Que Nossa Senhora da Imaculada Conceição nos inspire no caminho do Advento para vencermos as forças das trevas e nos elevarmos à santidade dos filhos de Deus.

+ Manuel Pelino Domingues, Bispo de Santarém

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