Senhores Cónegos e queridos Padres
Estimados Diáconos, Seminaristas e Consagrados
Irmãos
No início desta celebração, ao dirigir-me a Deus em nome de todos vós, pedi-Lhe a graça de sermos no mundo “testemunhas do Evangelho”.
O Senhor nos ajudará a consegui-lo, sabendo nós que, para isso, é condição essencial manter e evidenciar o valor da unidade. Aqui está ela, espelhada na assembleia que agora constituímos: leigos e consagrados, diáconos e presbíteros, vindos de todas as regiões da Diocese, reunidos com o Bispo em volta da mesa comum que é o altar.
Quero sublinhar esta unidade pensando sobretudo em vós, queridos Padres, que dentro de momentos ides renovar uma vez mais as promessas da vossa ordenação sacerdotal, significando assim o propósito e a alegria de continuardes a entregar a vossa vida à realização daquilo mesmo que Jesus tomou como seu programa: anunciar uma boa nova, proclamar redenção, dar vista a quem está cego porque não pode ou não quer ver, dispensar graças divinas.
Este gesto da renovação das promessas sacerdotais torna-se particularmente significativo ao aproximar-se a vinda de um novo pastor diocesano. Efetivamente, quando dentro de algumas semanas lhe soubermos o nome, não serão os seus dotes ou limites pessoais que primeiramente nos hão de motivar, mas sim o dar graças a Deus que, pela sucessão apostólica, continua a cumprir o que Jesus prometeu: “Eu estarei sempre convosco”.
Decorrem os séculos, sucedem-se os anos, mudam os tempos e as condições de vida. Mas para cada ano que passa esta celebração e o santo Tríduo Pascal que à tarde iniciaremos são luz e são fonte.
Bem precisamos delas, desta luz e desta fonte, neste ano de 2011, marcado pelo desânimo, pela apreensão, pelo sofrimento que muitos irmãos já experimentam na sua carne e na sua família.
Como iremos nós dar realização ao que Deus nos propunha já no primeiro texto escutado: anunciar uma boa nova, curar corações atribulados, levar aos aflitos o óleo da alegria? Importa consegui-lo. Com palavras e com gestos.
De gestos, temos recentemente falado bastante, e a própria recolha de oferta monetária que dentro de momentos vamos fazer também entre nós, sacerdotes, pretende significar o nosso empenhamento em ajudar aqueles com quem desejamos repartir o nosso pão.
Mas será isso suficiente para que a Igreja anuncie à sociedade tempos de mais verdade, justiça, respeito e partilha, em ordem à construção de uma comunidade humana como Deus a quer?
Desanimam alguns ao verificarem que a sociedade parece dispensar os nossos serviços se eles não forem de apoio social. Isto desde a esquematização das escolas, a regularização do casamento, a programação das festas e do lazer, até ao acompanhamento na doença, o estabelecimento em rede da caridade e as próprias cerimónias do funeral…
Que resta à Igreja? – perguntam os desanimados. Será que nos vamos refugiar nos templos, quedando-nos a garantir os atos de culto que o calendário prescreve ou nos são pedidos, lutando também pala subsistência dos nossos centros sociais?
Queridos Padres e irmãos:
É outra a resposta que a Palavra do Senhor proclama nos textos escutados.
A sociedade pode e deve encontrar vias de solução para os problemas com que se depara, mas, sem alma, sem a força do Evangelho, sem a luz e a seiva de Deus, os caminhos da sociedade são veredas perdidas.
Na história da Igreja este é de novo um momento em que urge tomar consciência do essencial. E o essencial é sermos uma comunidade de fé, de esperança, de amor e de graça. O que é urgente é iluminar e fecundar a vida com as riquezas do Evangelho e a graça que Deus nos concede.
“ A graça e a paz vos sejam dadas por Jesus Cristo”, dizia-nos São João na segunda leitura. Dar Cristo à sociedade, nas escolas, no casamento e na família, no lazer e na doença, no viver e no morrer, eis o que nos prescreve esta mesma celebração que realizamos.
Sem Cristo, as nossas campanhas de apoio social, tão necessárias e urgentes, não passariam de filantropia. Mas Ele pede-nos mais: Espera de nós que lavemos os pés uns aos outros.
ENVIO e FONTE, duas palavras que resumem esta manhã. Envio de profetas, a anunciarem a esperança nascida do amor que Deus nos tem e passa por nós. Profetas havemos de ser todos nós, particularmente vós, leigos. Sim, os nossos leigos hão de ser esses profetas enviados por Deus aos meios em que vivem e trabalham. Ajudemo-los nessa missão.
Envio e Fonte.. Sem estas fontes, de onde corre a graça de Deus, a nossa sementeira não dará fruto..
De verdade, Deus não nos envia sem nos acompanhar, nos dar ânimo e até nos preceder. Jesus é a cepa da videira e a seiva é a sua vida em nós.
O óleo do Crisma que vamos consagrar , o óleo dos catecúmenos e o dos enfermos que havemos de benzer, são algumas dessas fontes divinas de onde correrá, pelas nossas mãos, ao longo de todo um ano, a força que é a vida de Deus.
Tudo fazemos dentro da Eucaristia, mistério de entrega, morte e ressurreição. Celebremo-la dando graças a Deus pela unidade que sentimos e vivemos em volta deste altar.
D. Albino Cleto, Bispo de Coimbra