Homilia do Bispo de Beja na Vigília Pascal

«Na liturgia solene desta noite santa, tudo nos fala de Jesus, Fonte de Vida para nós» – D. João Marcos

Foto Agência ECCLESIA/HM

HOMILIA NA VIGÍLIA PASCAL

Sé de Beja, 2023

 Excelentíssimos Senhores Cónegos, Reverendos Padres e Diáconos, caros Seminaristas, estimados Religiosos e Religiosas, queridos Fiéis Leigos e Leigas, todos vós que agora sois Eleitos e vos tornareis, em breve, Filhos Adotivos de Deus:

1 – O Senhor ressuscitou e está connosco! Segundo a Sua promessa, onde dois ou três se reunirem em Seu Nome, Ele está no meio deles. Ele está no meio de nós para realizar connosco as mesmas obras que vê o Pai fazer: para nos dar Vida. Está presente, antes de mais, nesta assembleia reunida como Seu Corpo, e naqueles que a presidem. Depois, nesta belíssima Liturgia da Palavra que, percorrendo a História da Salvação desde a Criação até ao Anúncio da Ressurreição do Senhor às mulheres, nos situa na nossa realidade de peregrinos a caminho da Pátria Celeste. O Senhor Jesus Cristo está presente para vos dar, queridos eleitos, os Sacramentos da Iniciação Cristã, para vos batizar, confirmar e para, depois de Se oferecer ao Pai, Se dar em alimento a todos nós, no Pão e no Vinho consagrados. E o Círio Pascal, e o altar, a Mesa Eucarística, não são também presença d’Ele? Na liturgia solene desta noite santa, caríssimos irmãos, tudo nos fala de Jesus, Fonte de Vida para nós.

2 – Convido-vos a rever, ainda que brevemente, e a sublinhar, alguns aspetos mais relevantes destas 9 leituras que acabámos de escutar.

A leitura da Criação mostra-nos o amor de Deus que criou todas as coisas para o homem, e que em Cristo, o novo Adão, recriou o homem e a mulher como novas criaturas, participantes da natureza de Deus. Na segunda leitura, dispondo-se a sacrificar o seu filho Isaac, Abraão, o nosso pai na fé vê o dia de Jesus, pois acreditou que Deus tem o poder de dar vida aos mortos. Na terceira leitura, na passagem do Mar Vermelho, o Senhor liberta o Seu povo da escravidão do faraó, rei do Egito. Nas águas do Batismo, o Senhor liberta toda a humanidade da escravidão do pecado.

Na quarta leitura, o Senhor trata Jerusalém, a Igreja, como Sua esposa bem-amada, e lembra-nos assim que o seguimento de Cristo deve levar-nos a viver um matrimónio espiritual com Ele. Como nosso Esposo, Ele cuida das nossas coisas, e nós cuidamos das coisas d’Ele. Na quinta leitura escutámos aquele convite do Senhor para o banquete grande e gratuito da Sua Palavra, convite a participarmos da Nova e Eterna Aliança, que na sexta leitura se traduz no chamamento a vivermos com Sabedoria. E finalmente, na leitura do Profeta Ezequiel, o Senhor promete-nos que vai derramar sobre nós água pura e arrancar do nosso peito o coração de pedra e substituí-lo por um coração de carne. O Senhor Nosso Deus está cumprindo essa promessa chamando a acreditar n’Ele, os povos de todo o mundo.

E chegámos às duas leituras do novo Testamento: a Carta aos Romanos e o Evangelho segundo São Mateus. Neste texto da Carta aos Romanos, São Paulo diz-nos como estamos unidos a Cristo, no Seu Mistério Pascal, na Sua morte e na Sua ressurreição: considerai-vos mortos para o pecado, e vivos para Deus, em Cristo Jesus. Nesta frase se resume a vida de quem foi batizado, ou seja, mergulhado no amor da Santíssima Trindade. No evangelho de São Mateus escutámos o anúncio do anjo às mulheres: Não tenhais medo! Vós procurais Jesus de Nazaré, o Crucificado: ressuscitou, como tinha anunciado: não está aqui! Ide depressa dizer aos Seus discípulos: Ele ressuscitou dos mortos e vai adiante de vós para a Galileia. Lá O vereis!

 

3 – Este anúncio da vitória de Jesus chega hoje às nossas vidas! Mas como poderemos nós ver Jesus Cristo Ressuscitado? O Senhor apareceu ressuscitado às mulheres, a Maria Madalena, aos discípulos de Emaús e, pelos séculos fora, a muitos místicos e místicas. Mas para a gente mais comum, como nós, há dois “lugares” onde Ele se torna visível: na comunidade cristã, e na Galileia. Enquanto os discípulos de Emaús contavam aos apóstolos, em Jerusalém, o seu encontro com o Senhor e como O reconheceram ao partir do pão, o próprio Senhor Jesus Se tornou presente no meio deles e os encheu de alegria. A comunidade cristã é o lugar por excelência, onde podemos ver o Senhor Ressuscitado. Por isso, domingo após domingo, os cristãos nos reunimos para escutarmos a Sua Palavra e para celebrarmos a Eucaristia. Não há domingo sem Missa, para nós, que fomos batizados em nome de Jesus. A nossa fidelidade à celebração dominical é um testemunho forte, na Galileia dos gentios onde moramos, de que o Senhor está verdadeiramente ressuscitado. Mas a Evangelização explícita, o anúncio de que Jesus Cristo está ressuscitado e vivo e é para nós a Fonte da Salvação e da Vida, leva-nos a ver como Ele, pelo Seu Espírito, atua e transforma os corações daqueles que acolhem a pregação.

Ir para a Galileia é, assim, como que regressar ao princípio. Foi na Galileia que Jesus começou a Sua vida pública, chamou os Seus discípulos, fez os primeiros milagres, escolheu os apóstolos e enviou-os a pregar a todos os lugares aonde Ele havia de ir. Regressar à Galileia era enviá-los a pregar que a Sua morte e a Sua ressurreição destruíram todos os pecados da humanidade, e que não há outro nome dado aos homens pelo qual possamos ser salvos. Ou seja, todos nós que fomos batizados em Cristo e vivemos n’Ele, temos a necessidade, a obrigação, e a alegria de O anunciar.

4 – Jesus ressuscitado é Espírito Vivificante. É Alguém que passa na vida das pessoas. Não é uma presença estática: aparece e desaparece, e, por isso, precisamos de viver atentos ao Seu dinamismo. Ele, o Senhor, surpreende-nos e fala-nos por meio dos acontecimentos da nossa vida. Porque nos ama, nada nos acontece que não seja por amor, para nosso bem. A nossa vida transforma-se num diálogo de amor com Ele. Não existe o acaso, mas tudo aquilo que o Senhor permite que nos aconteça, as coisas agradáveis e desagradáveis, tudo serve para nós O amarmos, aceitando a Sua vontade. Como Jesus ensinou aos apóstolos, também nós temos um alimento para comer em cada dia: fazer a vontade do Pai. Deixamos de fazer a nossa vontade, deixamos de viver para nós mesmos e vivemos em comunhão com Deus, amando-O com todo o nosso coração, e amando os irmãos como Ele nos ama a nós, dando, por eles, a nossa vida.

5 – A nossa Vigília Pascal, caros irmãos, está chegando ao centro. Depois desta grande celebração da Palavra, vamos realizar a Liturgia da Iniciação Cristã: primeiro o Batismo e a Confirmação, e depois a Eucaristia. Deus cumpre as suas promessas, e realiza aquilo que promete. A Sua Palavra é viva e eficaz, mais penetrante que uma espada de dois gumes. Vivamos lucidamente estes sacramentos. Por meio deles, a Páscoa de Jesus dá-nos a forma de vida dos filhos de Deus, concede-nos o Espírito Santo que nos faz participantes da natureza de Deus.

D. João Marcos
Bispo de Beja

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