Senhores padres, estimados religiosos e religiosas, caros seminaristas, amados fiéis leigos e leigas:
É noite de Páscoa! Alegremo-nos, queridos irmãos e irmãs! O Senhor Jesus Cristo, que por nós morreu crucificado, foi ressuscitado pelo Pai. Apareceu vivo aos apóstolos, deu-lhes a Sua Paz e o Seu perdão e enviou-os por toda a terra para levarem a Boa Notícia de que todos os pecados estão perdoados àqueles que n’Ele creem e confiam. Jesus ressuscitado dos mortos é a prova evidente de que o Pai perdoou aos homens e mulheres todos os pecados, pois ninguém pode ser condenado por ter assassinado alguém que está vivo! Cristo Nosso Senhor ressuscitou e vive para sempre Ele é o Salvador de todos e tornou-Se fonte da vida para toda a Humanidade. Alegria, irmãos: o Senhor ressuscitou verdadeiramente, Aleluia!
É noite de Páscoa! Nesta noite recomeça a vida da Igreja. Não tivemos a celebração da Eucaristia nos dois dias precedentes. Fizemos jejum e assim nos unimos a Cristo Nosso Senhor na sua morte. Com a Vigília pascal em que celebramos a Sua gloriosa Ressurreição, começa a Vida Nova, a Nova Criação. O Rito do Lume novo com o qual iniciámos esta celebração e onde acendemos o Círio Pascal, sinal e presença de Cristo Ressuscitado no meio de nós, e o Anúncio solene da Páscoa introduziram-nos nesta celebração e prepararam-nos para a longa Liturgia da Palavra na qual percorremos a História da Salvação.
Escutámos a primeira página da Sagrada Escritura que nos tornou presente Deus como Criador. Na segunda leitura, também do livro do Génesis, Abraão dispôs-se a imolar o seu filho único, Isaac. Na sua resposta pronta à palavra de Deus, Abraão tornou-se o pai na fé para a sua descendência, não apenas física, mas também espiritual, ou seja, para todos nós. Na terceira leitura que torna presente a Páscoa do povo de Israel quando saiu do Egito e foi salvo da morte pelo Senhor, através das águas do Mar Vermelho, temos uma prefiguração do Batismo.
Criação, vida, fé, Batismo, são os primeiros temas desta grande Vigília que, precisamente, nos leva à Profissão de Fé e à Celebração do Batismo. O facto de as leituras nos levarem a percorrer a História da Salvação é muito eloquente para nós. O que é a Fé cristã, a Fé que a Igreja nos dá, senão esta luz que ilumina a nossa história e nos mostra o amor de Deus manifestado nos acontecimentos da nossa vida? Mais do que um assentimento interior a umas quantas verdades, a fé, diz a carta aos Hebreus, é a garantia de que o Senhor cumprirá as promessas que nos faz.
Na quarta leitura, o Senhor consola o povo de Israel como um marido cheio de ternura, reconciliado com a sua esposa. Depois do Cativeiro de Babilónia, os profetas anunciam uma nova Aliança de Deus com o Seu povo, tendo em vista a conversão dos pagãos e a sua inserção no povo de Israel, por meio do Batismo, da Confirmação e da Eucaristia, os Sacramentos da Iniciação Cristã.
Na primeira leitura do Novo Testamento, tirada da Carta aos Romanos, São Paulo fala-nos do mistério do Batismo, como Morte e Sepultura com Cristo e como Ressurreição, como Vida Nova, libertos do pecado.
Queridos eleitos e eleitas que dentro de momentos recebereis o Santo Batismo depois de terdes renunciado ao demónio e de terdes professado a fé da Igreja Católica como sendo a vossa fé. Fixai bem nos vossos corações estas palavras sublimes que foram proclamadas há momentos e que hoje se cumprirão sacramentalmente em vós:
Todos nós que fomos batizados em Cristo fomos batizados na Sua morte. Fomos sepultados com Ele pelo Batismo na Sua morte para que, assim como Cristo morreu e ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, também nós vivamos uma vida nova. (…) Assim, vós também considerai-vos mortos para o pecado e vivos para Deus, em Cristo Jesus.
Sois cristãos desde que começastes a caminhada para o Batismo, quando fizestes o Rito de Admissão ao Catecumenado, e a vossa vida começou a mudar, de acordo com os Mandamentos da Lei de Deus e da Igreja. As catequeses sobre o Credo e sobre o Pai-nosso alargaram o horizonte da vossa vida. Hoje, sabeis quem sois, de onde vindes e para onde caminhais. O vosso percurso até hoje enxertou em vós a Fé, a Esperança e a Caridade, e agora precisais de continuar a cultivar esta Vida Divina. Sabeis, certamente, que os Sacramentos da Iniciação Cristã, pelos quais passamos da escravidão do pecado para a liberdade de filhos adotivos de Deus, são a base de toda a vida do cristão, também daquilo que podemos chamar Maturidade Cristã, alimentada pelos Sacramentos da Eucaristia, da Ordem e do Matrimónio. Nos Sacramentos da Iniciação Cristã recebemos a Vida; nos da Maturidade Cristã damos a nossa vida. A Eucaristia do domingo, a Missa dominical, é a celebração da Páscoa em cada semana. Nela, domingo após domingo, escutamos a Palavra de Deus e alimentamo-nos com o Corpo do Senhor Jesus.
Sede fiéis! O maior pecado que podeis cometer é abandonar a Igreja. Na travessia do deserto que é a vida de cada um de nós só poderá chegar à Terra Prometida, que é o Céu, quem permanecer caminhando com os irmãos. Não é fácil, mas o Senhor é fiel e permanece fiel mesmo quando nós não conseguimos sê-lo. O Batismo e o Crisma só se recebem uma vez. Mas a Igreja nossa Mãe dispõe do Sacramento da Penitência no qual se renova a graça do Batismo, e que podemos receber sempre que for necessário.
Ouvimos há momentos, caros irmãos, esta palavra do Apóstolo São Paulo: Considerai-vos mortos para o pecado e vivos para Deus. Certamente já visitastes algum cemitério. Ali, lado a lado, estão os restos mortais de muitas pessoas, algumas das quais foram inimigas e se odiaram quando estavam vivas. Alguma vez os vistes a discutir e a ofenderem-se uns aos outros, lá no cemitério? Não. Estão mortos! E quem morreu está livre do pecado! Os mortos não roubam, não cometem adultério, não mentem e não ofendem ninguém. Repito para todos vós esta palavra: considerai-vos mortos para o pecado, e vivos para Deus.
Não vivais para vós mesmos, irmãos e irmãs! Cristo morreu e ressuscitou para que os vivos deixem de viver para si mesmos, deixem de ser egoístas, e vivam para Cristo. E por amor a Ele e por obediência a Ele, amamo-nos uns aos outros, dando por eles a nossa vida.
Finalmente, caros irmãos e irmãs repito para todos, para mim também, as palavras que as mulheres escutaram dos anjos quando procuraram no túmulo, o corpo de Jesus: Não busqueis entre os mortos Aquele que está vivo! Não procureis no pecado a felicidade que só o Senhor vos pode oferecer.
A Ressurreição de Jesus começou por ser anunciada pelos anjos primeiro às mulheres e depois aos apóstolos. Porque a fé vem de escutar. Alguns, como os apóstolos e muitos outros tiveram a experiência de se encontrarem com o Senhor ressuscitado. Queridos irmãos e irmãs: se realmente estais conscientes daquilo que o Senhor está hoje realizando convosco, também vós podereis afirmar como São Paulo, que o Senhor vos apareceu a vós. Quando escutáveis as catequeses que mexeram convosco, foi o Senhor. Por meio dos catequistas, certamente, por meio da Igreja que é o Seu Corpo, sem dúvida, mas foi o Senhor que vos chamou das trevas para a Sua Luz admirável e é Ele quem hoje vos agrega à Sua Igreja e vos envia a testemunhar a vida nova dos filhos de Deus.
Convido-vos irmãos e irmãs a amar o Senhor Jesus Cristo. Ele é o nosso Salvador que nos ama até ao fim. É amando-O a Ele que podemos amar os nossos irmãos, também aqueles que estão escravos do mal e não podem amar ninguém. Renunciando publicamente ao demónio e ao pecado e professando depois a nossa fé, a fé da Igreja, sereis agregados à Santa Igreja Católica como membros vivos, como soldados dispostos a combater o bom combate da fé. Mas antes de serdes batizados vamos invocar a assembleia do céu e benzer a água. Logo a seguir ao Sacramento do Crisma, todos nós, já batizados, vamos renovar as promessas do nosso Batismo.
A celebração continuará com o Banquete da Eucaristia, a primeira depois de termos proclamado a Ressurreição do Senhor.
Irmãos e irmãs: Alegremo-nos no Senhor que venceu a nossa morte. Vivamos como mortos para o pecado, vivamos, unidos ao Senhor Jesus Cristo pelo Seu Espírito, caminhando para o Pai como filhos muito amados. Vivamos como Ressuscitados com Cristo da morte, em nome do Pai e do Filho, e do Espírito Santo, em cujo nome sereis batizados.
Sé de Beja, 16 de abril de 2022
D. João Marcos, bispo de Beja