Homilia do Bispo de Aveiro no Dia da Igreja Diocesana

Servidores do teu amor, Senhor 1. Saúdo-vos, irmãos e irmãs desta Igreja de Aveiro, com as mesmas palavras que Paulo escolheu para iniciar a sua Carta aos cristãos de Roma: “Graça e paz vos sejam dadas da parte de Deus, nosso Pai e de Jesus Cristo, nosso Senhor. A vós e a todos os amados de Deus que estais em Roma.” (Rom. 1, 7). A todos saúdo, recordo e agradeço nesta hora e neste Dia da Igreja Diocesana. Este é um dia feito de muitos dias. A nossa presença é sinal e testemunho de todas as presenças. A nossa comunhão é espelho da nossa unidade. A Eucaristia em cada dia celebrada em todas as comunidades é o centro propulsor da vida espiritual da Igreja de Aveiro. Estamos conscientes de que só em Cristo vivo e ressuscitado, que em cada Eucaristia se vive e celebra, é possível uma vida nova para todos. Uma vida em que se reparte o pão, em que se encontra abrigo, em que se constrói a dignidade, em que se consolida a fraternidade, em que o Evangelho se anuncia, em que Deus se busca e se encontra e em que Jesus Cristo se anuncia, se testemunha e se vive. 2. Celebramos hoje a Solenidade Litúrgica de S. Pedro e de S. Paulo e inicia-se, assim, por vontade expressa do Santo Padre Bento XVI, o Ano Paulino, numa referência aos 2.000 anos do nascimento de S. Paulo. Há uma continuidade perfeita entre o tempo de Cristo e o tempo da Igreja. Esta nasce do Cenáculo, da Páscoa e do Pentecostes. Pedro e Paulo são elo essencial desta continuidade e vínculo apostólico desta unidade da Igreja a Jesus Cristo, vivo e ressuscitado. A noite do êxodo e da Páscoa assim como a noite da prisão de Pedro de que nos falava a primeira leitura do Livro dos Actos dos Apóstolos anunciam-nos manhãs de novos dias onde a promessa se cumpre, a vida ressuscita e a liberdade se reencontra. O Senhor diz à Igreja que está sempre atento, solicito e presente. O mesmo nos diz Paulo: “Combati o bom combate, guardei a fé… O Senhor esteve a meu lado e deu-me força.” (2 Tim. 4,6-8,17). Este sereno e pacífico combate, esta apaixonada e entusiasmante missão de que fala Paulo na Carta a Timóteo, na segunda leitura, consistiram em dar resposta nas viagens e na vida, na pregação e nas Cartas à surpreendente pergunta de Jesus, em Cesareia de Filipe, cidade do Monte Hermon, a 40 quilómetros do Lago de Tiberíades: “E vós quem dizeis que Eu Sou?” (Mt. 16,15). Que outra pergunta nos faz Jesus à Igreja de Aveiro senão esta? E que outra questão nos apresenta o mundo também senão esta: que dizeis vós de Jesus pela coerência da vossa vida e pela verdade da vossa fé? Quer a Igreja de Aveiro ser com Pedro, pedra de alicerce, fundamento sólido, sustento vivo e âncora firme em terras de Aveiro: una na diversidade dos seus carismas e projectos pastorais; santa apesar da nossa fragilidade e limitações; católica na universalidade sem limites nem fronteiras; apostólica na veemência dos desafios imensos da missão; a viver a alegria permanente da comunhão em si mesma e da união ao sucessor de Pedro, o Papa Bento XVI. Quer a Igreja de Aveiro aprender com Paulo a paixão pelo Ressuscitado, o gosto pela sabedoria do Evangelho, a abertura aos novos caminhos da renovação, a determinação para ir ao encontro de todos na imensa vastidão do mundo a evangelizar.. Em Paulo entusiasma-nos e seduz-nos a frontalidade do seu carácter, a verdade do seu viver, o mérito do saber aprendido nas Escolas que frequentou, o mistério do caminho de Damasco, a radicalidade da sua resposta ao chamamento de Jesus, a lucidez das suas propostas de fé, a largueza dos horizontes missionários que abriu à Igreja, o sentido apostólico dos seus caminhos e das suas viagens, o fulgor da sua originalidade evangelizadora, a criatividade e a oportunidade da pedagogia que imprimiu à missão e a simplicidade humilde e obediente da sua vida entregue por amor de Cristo e da sua Igreja. 3. Temos tanto a aprender com estes Apóstolos para não fecharmos o anúncio do Evangelho e a missão da Igreja àqueles que já conhecem Deus e que d’Ele vivem, ou apenas àqueles que nos procuram e que vivem a mesma fé e se alimentam do mesmo Pão da Vida. As viagens de Paulo e a solicitude apostólica de Pedro dizem-nos que o caminho da Igreja se constrói nesta liberdade interior e neste modo apaixonado de amar a Deus, de proclamar Jesus Cristo, vivo e ressuscitado, e de não cercearmos os dons de Espírito que nos enviam a servir os Irmãos. São estes os novos passos a dar. Espera-nos uma sociedade nova a nascer de uma civilização em mudança, onde a procura de Deus é silenciosa e complexa, onde as praças já não têm lugares para o Deus desconhecido mas onde no coração humano continua a haver espaço para o Deus necessário. Esperam-nos muitas crianças sem baptismo, jovens desejosos de encontrar certezas de fé e razões de esperança, famílias que querem ver o seu amor abençoado e os seus filhos a crescer com critérios de dignidade e de valor, idosos a braços com provações trazidas pelo peso da idade, pela doença e pela solidão. Somos enviados também aos que estão mais longe ou mais distantes. Tantos são os que aguardam apenas sinais concretos de acolhimento da Igreja para regressar a uma descoberta esclarecida da luz da fé, a uma escuta atenta da Palavra de Deus, a um esforço lúcido de formação, a uma vivência espiritual há muito desejada, a uma comunhão fraterna e comunitária alimentada pela Eucaristia. Não deixemos que aparentes rupturas culturais ou assumidas recusas do âmbito do religioso fracturem o diálogo a que a Igreja é chamada e limitem em nós um novo ardor e um novo entusiasmo a que o anúncio do Evangelho nos envia. “Ai de mim se não evangelizar”, clamava Paulo desassombradamente. 4. Evangelizar significou na Igrea de Aveiro ao longo deste Ano Pastoral, sem esquecer outros âmbitos essenciais da sua missão, servir os pobres com uma solicitude permanente. Certos de que o imperativo da caridade não se esgota nunca, sentimos que o trabalho pastoral ao longo do ano realizado deve ampliar-se, alargar-se e consolidar-se. A sociedade actual precisa desta cultura da caridade que nasce no coração de Comunidades reunidas para celebrar a Eucaristia, Sacramento da caridade e dom de Deus para a vida do mundo. Vamos continuar este esforço pastoral numa nova perspectiva como quem encontra “no serviço da caridade” a chave que nos abre o horizonte de uma nova pedagogia pastoral que nos vai mobilizar ao longo dos próximos cinco anos. Vamos valorizar a experiência sinodal e dinamizar toda a Igreja Diocesana para a celebração do Jubileu da Diocese e para a Missão Jubilar Diocesana. Todos somos chamados e convocados para a missão: bispo,,presbíteros, diáconos, consagrados(as) e leigos(as). A prioridade dada à pastoral vocacional, o ano vivido à volta da pastoral familiar, a dinâmica da pastoral juvenil, a solicitude permanente pelos pobres, a reestruturação do Seminário e Pré-Seminário, a atenção à formação permanente do Clero, o lugar dado ao testemunho da radicalidade da vida consagrada, a abertura aos novos ministérios como dons do Espírito, que é alma da Igreja,a exigência da formação consequente dos leigos, a escuta da Palavra de Deus, a redescoberta do valor essencial da oração, a centralidade da Eucaristia e a procura da graça em cada sacramento afirmam a urgência de uma evangelização onde se arreiguem todos estes dinamismos pastorais. 5. São sinal vivo e belo de que esta missão é necessária e possível, e está ao nosso alcance a presença de todos nós e a verdade interior que aqui nos trouxe. Alegro-me com a vossa presença e com a vossa disponibilidade para a missão. Merecem-me uma particular palavra de dedicação aqueles para quem este ano marcou uma etapa decisiva no seu ser Igreja em Aveiro: os sacerdotes recebidos na Diocese, as irmãs religiosas aqui regressadas ou acolhidas pela primeira vez, os seminaristas que iniciaram ou consolidaram a sua caminhada para o sacerdócio, os novos diocesanos aqui chegados ao longo do ano, as famílias que celebraram o seu matrimónio ou o baptismo dos filhos, as crianças que receberam a primeira Comunhão, os jovens e s adultos recentemente crismados e quantos vivem neste ano datas jubilares. São sinal novo e exemplar de presença significativa as paróquias da Murtosa e de Estarreja onde estive em Visita Pastoral. A vossa presença afirma a urgência e o imperativo desta presença próxima e demorada do Bispo diocesano para que a comunhão seja visível e a unidade com a Igreja Diocesana seja explícita. Estão connosco numa forma de presença diferente os doentes e os que sofrem e quantos a eles abnegadamente se dedicam. Não os esquecemos na nossa oração. Deles recebemos continuamente a sua bênção redentora. 6. Daqui partem hoje, enviados em missão, membros da nossa Igreja Diocesana para a Jornada Mundial da Juventude em Sydney, para várias iniciativas de Voluntariado Missionário, para a peregrinação a Taizé e para um agir consequente e disponível nas várias frentes da missão evangelizadora ao longo deste tempo de verão e do novo ano pastoral que aqui começa. Olhando o horizonte pastoral que daqui se vislumbra penso e rezo com as palavras de um belo texto de D. Óscar Romero: “O Reino não só está mais além dos nossos esforços, mas também mais além da nossa visão. Nada do que fazemos está acabado, o que significa que o Reino de Deus está sempre ante de nós. Isto é o que tentamos fazer: plantamos sementes que um dia crescerão; regamos sementes já plantadas, sabendo que são promessas de futuro. Pode ser que seja incompleto o que fazemos, mas é um princípio, um passo no caminho, uma ocasião para que entre a graça do Senhor e faça o resto.” 7. Ensina-nos e ajuda-nos ó Mãe de Jesus, Senhora de Vagos, a ser profetas do futuro, semeadores na nossa Diocese da alegria do Evangelho e servidores do amor de Deus nosso Pai esculpido no rosto de cada um dos nossos irmãos. Ámen. † António Francisco dos Santos, Bispo de Aveiro

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top