Homilia do Bispo de Aveiro na Missa de Ordenação

HOMILIA NA ORDENAÇÃO PRESBITERAL
DE JOSÉ CARLOS DA SILVA LOPES

Sé de Aveiro, 11 de Julho de 2010

 

“Pedro, tu amas-me? Sim, Senhor. Tu sabes que te amo.” (cf Jo 21, 15-18)

1. Hoje é um dia de alegria e de esperança para a Igreja de Aveiro. Vivemos esta hora em Igreja Diocesana como momento marcante de uma longa caminhada, em que o dom da vida, a graça da fé, a voz do chamamento, a presença da família e da paróquia e a formação recebida nos seminários e nas escolas se fizeram companheiros de viagem deste ordinando. A oração e a escuta da voz de Deus guiaram os passos dados pelo Diácono José Carlos da Silva Lopes e abriram horizontes de esperança a todos quantos desde o início acreditaram que este dia havia de chegar.

Ouvimos a Palavra de Deus que ilumina a longa viagem da história da salvação da humanidade e lança luz abundante sobre o acontecimento que aqui nos reúne.

Na primeira leitura, tirada da chamada Aliança de Moab, Moisés diz-nos de forma poética muita bela que Deus é acessível, que a sua lei está ao nosso alcance e que a sua palavra está perto de nós, na nossa boca e no nosso coração, para que a possamos pôr em prática (cf Deut. 30, 10-14).

Na leitura da carta aos cristãos de Colossos, escrita no cativeiro, S. Paulo centra a sua fé em Cristo, imagem do Deus invisível, primogénito de toda a criação. N’Ele reside toda a plenitude da divindade (cf Col 1, 15-20).

É de Jesus Cristo o ensinamento do Evangelho e a resposta dada a uma questão aparentemente incómoda de um doutor da lei. A parábola do bom samaritano ajuda-nos a ver com os olhos do coração e a agir com a ousadia da caridade que vence rupturas e barreiras e desfaz medos e distâncias. (cf Luc 10, 25-37).

 

2. Uma ordenação presbiteral só se compreende e só se pode viver centrados em Cristo. Uma ordenação presbiteral não é uma graça fácil. Exige oração confiante de toda a Igreja e implica uma permanente generosidade daquele que acolhe o chamamento e se decide livremente a seguir Jesus na alegria e na fidelidade. O sacerdócio é um sacramento e não um simples ofício, dizia-nos o Papa Bento XVI, no encerramento do ano sacerdotal.

Jesus iniciou o seu ministério num contexto litúrgico, lendo o anúncio do profeta Isaías: “ O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar a Boa Nova aos pobres”.

A Boa Nova tem de ser proclamada com um sentido de urgência irresistível, com uma profunda confiança em Deus e com uma incontida doação no serviço ao seu povo.

É neste contexto que somos ungidos para pregar, consolar, dar coragem e esperança a quantos estão subjugados pela dura realidade da vida presente. Também nós fomos ungidos para levar a Boa Nova aos pobres, a vista aos cegos, a liberdade aos oprimidos.

É-nos impossível concretizar, sozinhos, esta missão. Na nossa fraqueza e nas nossas limitações, conforta-nos a certeza da audácia de Deus que nos chama a participar do seu sacerdócio e a sermos no meio deste povo sacerdotal portadores de tesouros da graça e do amor de Deus.

Os cristãos nunca viram o sacerdócio como uma invenção humana, mas sim como um dom que torna possível, geração após geração, o ministério de Cristo, Bom Pastor.

Possa Jesus ressuscitado, que se põe a caminho connosco pelas nossas estradas, deixando-se reconhecer, como sucedeu aos discípulos de Emaús, encontrar-nos vigilantes e prontos para reconhecer o seu rosto e correr e levar aos nossos irmãos o grande anúncio: “Vimos o Senhor!”.

Jesus escolheu homens nascidos no interior e nas periferias da cidade voltados para os lados do mar, ou vindos do mundo rural, habituados ao trabalho, e escolheu também homens oriundos dos campos novos do saber e das diversas profissões desse tempo. E foi na escola de Jesus, o Mestre, que estes homens provenientes de origens diferentes se transformaram em pilares sólidos sobre os quais iria construir a Igreja.

 

3. No Evangelho, a entrega do ministério pastoral a Pedro é tomada como modelo da missão: «Pedro, tu amas-me? Sim, Senhor. Tu sabes que te amo» (cf Jo 21, 15-18).

Ouçamos também hoje a pergunta de Jesus a Pedro: «Amas-me?». Foi este o texto inspirador do lema escolhido pelo diácono José Carlos para a sua ordenação e para o seu ministério, segundo nos revelou, em recente e oportuna entrevista, dada ao nosso Jornal diocesano.

Irmãos sacerdotes: Em nome deste irmão diácono que hoje avança, firme e destemido para a ordenação; em nome dos seminaristas e dos jovens que em nós procuram um testemunho a suscitar vocações e em nome de toda a nossa Diocese e dos seus 350 mil habitantes que contam com o nosso ministério e são sustentados pela vossa doação de vida e trabalho pastoral, agradeço o vosso testemunho exemplar e a vossa presença tão expressiva aqui hoje.

É apenas um presbítero a ser ordenado mas tem o sentido da totalidade e o valor de uma vida dada por inteiro e para sempre. É o sangue novo a pulsar no nosso presbitério e a dizer-nos o sentido do caminho a percorrer.

Cada um de nós padres lembra-se bem que no dia da nossa ordenação o bispo celebrante nos apresentou a patena e o cálice e nos disse: “ Aceita do povo santo de Deus os dons que lhe são oferecidos. Considera o que fazes e imita aquilo que celebras: modela a tua vida no mistério da Cruz de Cristo, Senhor”.

 

4. Irmãos e irmãs em Cristo, diáconos, religiosos (as), consagrados (as) e leigos (as): A caminhada da vida, da fé, da vocação e da missão é para todos nós exigente e apaixonante.

Sabemo-nos membros activos da Igreja e somos um dom e uma bênção para o mundo.

Na primeira Jornada Mundial da Juventude em que participou, em Colónia, o Santo Padre Bento XVI reuniu os bispos alemães presentes e falou-lhes da sua terra natal como terra de missão. E isto é verdade para todas as terras do mundo e isto é verdade igualmente para todos os sectores da missão, afirmávamos recentemente, em Carta Pastoral, nós os Bispos de Portugal.

Esta é também uma hora de gratidão para com todos os que estiveram na génese e no percurso da vocação desde novo presbítero: a sua família, a sua comunidade de S. Tiago de Ribeira de Fráguas, os seus párocos, os seminários de Aveiro, Leiria e Coimbra, as comunidades e serviços pastorais onde realizou o seu estágio pastoral, os seus companheiros de caminho e tantos outros que só Deus conhece. Para todos vai a gratidão da Diocese, a dedicação do seu bispo e a certeza da bênção de Deus.

Uma ordenação sacerdotal aliada à missão e ao ministério de cada um de nós tem o poder mobilizador de unir toda a Igreja na mesma missão e de lhe dar o encanto da alegria e o sentido da esperança, através da renovação espiritual, da educação da fé, da formação cristã e da acção solidária a favor da justiça e da caridade.

 

5.Que Maria, a Mãe do Bom Pastor, e Santa Joana Princesa, nossa Padroeira, nos ajudem a assumir esta missão com alegria e confiança para sermos uma Igreja renovada na caridade, educadora da fé e fundamento de esperança para o mundo.

 

+António Francisco dos Santos
Bispo de Aveiro

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