Homilia do bispo da Guarda na Missa Crismal

Estimados Padres,

Irmãos e irmãs em Cristo:

 

Nós sacerdotes vivemos hoje o nosso dia por excelência, nesta Concelebração da Missa Crismal de Quinta-Feira Santa.

Estamos aqui, diante do Senhor e também uns com os outros, para lembrarmos, mais uma vez, o valor e a beleza do Ministério Sacerdotal que nos está confiado e para, ao mesmo tempo, avivarmos a consciência das nossas responsabilidades sacerdo­tais.

Lembramos o dia da nossa Ordenação, que, por um lado, nos configurou com Cristo, Cabeça e Pastor do seu Povo e, por outro, nos fez entrar na Ordem dos Presbíteros e no nosso Presbitério.

Sacramentalmente passámos, desde o dia da nossa Ordenação, a estar unidos uns aos outros por uma íntima fraternidade sacerdotal, como nos lembra o Concílio Vaticano II, no Decreto Presbyterorum Ordinis, nº 8.

Pela frente, temos a missão de edificar a Igreja, Corpo de Cristo, com a urgência de procurarmos em conjunto os caminhos mais adaptados às circunstâncias atuais.

Isso implica que se transformem em vida da nossa vida os laços especiais de caridade apostólica, de ministério e de fraternidade simbolizados na imposição de mãos que, juntamente com o Bispo Presidente, nós realizamos em cada Ordenação Sacerdotal em que participamos.

Esperamos, no próximo dia 3 de julho, ter oportunidade de repetir esse gesto de imposição de mãos na Ordenação Sacerdotal de mais dois sacerdotes para enriquecer o nosso Presbitério; a Ordenação dos agora diáconos Fábio e Tiago. Por estas duas Ordenação damos, desde já, abundantes graças ao Senhor.

Ao colocarmos diante de nós, no dia de hoje, todo este horizonte de vida em fraternidade e comunhão sacerdotal, não podemos nem queremos ignorar as dificuldades que, de facto, sentimos todos os dias, no exercício do Ministério.

Não somos santos, e digo-o a começar por mim. Por vezes falha­mos, ao não darmos uns aos outros a atenção devida, procurando aceitar-nos, o mais possível, como somos, com as nossas limita­ções e mesmo defeitos.

Não fazemos tudo bem, a começar pelo vosso Bispo, mas quere­mos acertar; e, por isso, aceitamos a ajuda mútua e mesmo a correção fraterna, quer vinda dos outros quer aquela que lhes é devida.

Reconhecemos que temos défice de trabalho em equipa, entre nós sacerdotes e também com os leigos. Felizmente que a caminhada sinodal em que estamos envolvidos se, por um lado, nos revela algum desse défice, por outro, mostra que podemos corrigi-lo e há sinais de abertura para essa mudança.

Uma coisa é certa – sozinhos não podemos progredir na nossa identidade sacerdotal e no cumprimento da missão que lhe é inerente. Precisamos, isso sim, de nos saber ajudar mutuamente e, antes disso, precisamos sobretudo de nos abrir cada vez mais à passagem de Deus e do Seu Espírito pela nossa vida. Precisamos de sentir ao vivo as palavras de Jesus – “Sem mim nada podeis fazer”. De facto, só com uma espiritualidade forte poderemos vencer, isto é, cumprir a missão para que estamos mandatados.

Temos consciência de que as circunstâncias atuais não nos são favoráveis; e isso aumenta ainda mais o peso da solidão, do isola­mento, do excesso de trabalho e também da falta de comunhão com os outros colegas. E, quantas vezes, estas realidades, sendo muito duras, geram em nós insegurança afetiva, instabilidade emocional e até desânimo pastoral.

Mas, no meio de todas as contingências e dificuldades, sentimos o Senhor a segredar-nos ao ouvido e a confortar-nos com estas suas palavras – “O meu jugo é suave e a minha carga é leve”.

 

Hoje é dia para fazermos, mais ao vivo, a experiência do confor­to que nos vem do nosso Mestre e Guia.

Jesus foi à sua terra, diz o Evangelho, e apresentou-se como sendo o Messias anunciado pelo Profeta Isaías e lembrou bem qual era a sua missão.

E nós hoje também aqui estamos para relembrar a nossa identida­de e qual a missão de pastores que o Senhor nos confia, desde o dia da nossa Ordenação Sacerdotal.

No centro dessa nossa identidade e missão está Pessoa de Jesus, que se faz presente através de cada um de nós como Pastor e Guia do seu Povo.

Ele é a testemunha fiel de que hoje nos fala o Apocalipse e que faz de nós também testemunha fiéis do seu amor e do seu Reino, já presente no meio do nosso mundo, tão cheio de perturbações e contradições.

Ao renovarmos hoje as promessas que fizemos no dia da nossa Ordenação Sacerdotal, queremos apresentar ao Senhor Jesus a nossa vontade decidida de começar de novo, todos os dias.

Pedimos-lhe, nesta hora, a graça de um sincero discernimento e a coragem para seguirmos sempre em frente, sejam quais forem as dificuldades que nos possam surpreender.

 

Hoje é também dia para darmos graças pelos sacerdotes do nosso Presbitério que cumprem jubileus sacerdotais. Há cinco que completam, este ano, 60 anos de vida sacerdotal e um 75 anos; este o Rev.do Padre Bernardo Terreiro do Nascimento, o qual, no próximo mês, por graça de Deus, faz a bonita idade de 101 anos.

Assim, fazem 60 anos de vida sacerdotal os Rev.do Padres Delmar da Silva Barreiros, João Carvalho Nunes, Joaquim Pires Sequeira, Júlio Martins Pedroso e Octávio Gil Morgadinho.

Foram todos ordenados pelo Sr. D. Policarpo da Costa Vaz; os três últimos no mesmo dia, 19 de agosto, em Trancoso. Os primeiros dois em dias diferentes dos meses de março e abril.

Os Rev.dos Padres Delmar e Octávio Gil Morgadinho, depois de exercerem o Ministério na Diocese, durante alguns anos, foram nomeados para o serviço de capelães militares; e, no regresso, ficaram ao serviço do Patriarcado de Lisboa, até hoje.

O Rev.do Padre João carvalho Nunes, depois de 24 anos de Pároco nesta Diocese, foi para Lisboa, onde prestou serviço, no Patriarcado, até ao ano de 2007.

O Rev.do Padre Joaquim Pires Sequeira, aos 8 anos de Padre, foi nomeado capelão militar, funções que exerceu durante dois anos e depois regressou à Diocese, retomando o serviço paroquial. Foi acumulando outras funções como as de Arcipreste, professor de educação moral nas escolas públicas ou membro do Colégio de Consultores da Diocese.

O Rev.do Padre Júlio Martins Pedroso foi pároco no Arciprestado de Trancoso durante 19 anos e depois continuou as mesmas funções nos Arciprestados de Rochoso e Almeida.

 

O Rev.do Padre Bernardo Terreiro do Nascimento foi ordenado pelo Venerável Servo de Deus Sr. D. João de Oliveira Matos, em setembro de 1947. E estes seus 75 anos de vida sacerdotal foram preenchidos sobretudo com o serviço de professor nos Seminários Diocesanos e no Colégio de S. José. É facto que o seu génio, especialmente voltado para a música, deixou marcas muito visíveis em pessoas e instituições da cidade da Guarda e não só.

 

Louvemos o Senhor por todo o bem que Ele distribuiu e continua a distribuir à Igreja, mas também a toda a sociedade, através do Ministério conferido a estes sacerdotes e a eles também manifes­tamos, neste momento, o nosso reconhecimento pelos serviços prestados, com tanta dedicação e generosidade.

D. Manuel da Rocha Felício, Bispo da Guarda

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Agência ECCLESIA

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