Homilia do arcebispo de Évora na solenidade do Pentecostes

“Mandai Senhor o Vosso Espírito e renovai a Terra”

 

Homilia na Solenidade do Pentecostes
9/06/2019

 

Celebramos neste domingo a efusão do Espírito Santo sobre os Apóstolos de Cristo e sobre Maria, Mãe de Cristo.

O Pentecostes era uma festa dos Judeus que se celebrava 50 dias depois da Páscoa, recordando a chegada do Povo de Israel ao Monte Sinai, onde Moisés recebeu de Deus a sua Lei que devia orientar a vida do Povo eleito.

S. Lucas, autor dos Atos dos Apóstolos, ao referir na 1ª Leitura que a vinda do Espírito Santo se deu neste dia do Pentecostes, quer dizer que a antiga lei vem substituída pela Lei do Espírito de Deus.

A efusão do Espírito Santo dá-se sobe a figura do fogo, que é uma imagem frequente na Bíblia para indicar a força transformadora de Deus. Assim, o medo dos apóstolos converteu-se em coragem.

Contrariamente ao que aconteceu na torre de Babel, em que a diversidade de línguas terminou na confusão geral, no Pentecostes, o Espírito como que foi o tradutor simultâneo do que pregavam os apóstolos, pois caíam na conta de que, sendo todos Galileus, «cada onde de nós os ouve falar na sua própria língua».

Se nos deixarmos conduzir pelo Espírito de Deus, as nossas diversidades não serão obstáculo para vivermos na unidade e colaborarmos pacificamente uns com os outros.

Na comunidade cristã da cidade de Corinto havia divisões por causa dos carismas e dons que, em vez de serem considerados instrumentos de serviço para o bem comum, eram usados como um trunfo pessoal de vanglória.

Assim se compreende que S. Paulo na 2ª leitura exorte à unidade entre todos, pois a diversidade de dons é fruto do mesmo Espírito, que nunca pode inspirar divisões e discórdias. Todas as nossas diferenças de ser e de agir procederão do Espírito de Deus se conduzirem à unidade.

É que, como recorda o apóstolo Paulo, «fomos batizados num só Espírito, para construirmos um só corpo».

S.João no Evangelho, relata-nos uma das aparições de Cristo ressuscitado. A sua presença é fruto de alegria para eles ontem e para todos nós hoje e a todos oferece o dom da paz.

Quando na Eucaristia o Presidente da celebração nos saúda dizendo: «a paz esteja convosco», deveríamos cair na conta de que é o próprio Cristo, vencedor da morte, que nos deseja a paz e que nos envia em missão de paz: «assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós». Eis-nos discípulos Missionários!

A ação de Deus é histórica e progressiva. E, para nós, crentes e cristão, a história não é um caos, um fazer e desfazer sem sentido, fruto da sorte ou do azar ou de um qualquer mecanismo aleatório.

A ação de Deus é criadora e gradual em direção à plenitude do sentido. A evolução do mundo está inscrita no próprio ato criador. A ação criadora de Deus requer a presença contínua do seu Espírito.

Ele está sempre presente. Por isso, não é enganosa, mas bela, a afirmação inicial dos genesis: «o Espírito de Deus movia-se sobre a superfície das águas» (Genesis 1,2). A fé no «Espírito criador» está inscrita no seio do «Credo» católico e é proclamada em várias orações e textos litúrgicos.

Vejamos; a Igreja professa a sua fé dizendo: «Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida»; na Oração Eucarística III do Missal Romano, que, como todas, é dirigida a Deus Pai, reza-se:

«Dais a vida e santificais todas as coisas, por Jesus Cristo, vosso Filho, nosso Senhor, com o poder do Espírito Santo»; outro exemplo está plasmado numa das mais conhecidas orações ao Espírito Santo: «Vinde , Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do Vosso amor, Enviai, Senhor, o Vosso Espírito, e tudo será criado, e renovareis a face da terra». Hoje, como sempre, o Espírito Santo continua a «mover-se» no mundo.

É sua força criativa que «empurra» o mundo, recria-o, renova-o até à plenitude final. O Papa Francisco fala do Espírito Santo como «vento que nos impele para a frente, que nos matem no caminho, que nos faz sentir peregrinos e forasteiros, e não permite que descansemos sobre os nossos próprios louros e que nos tornemos um povo ´sedentário´».

E acrescenta que em relação a toda a criação: «O Espírito Santo alimenta a esperança não só no coração dos humanos, mas também na criação inteira» (Audiência Geral de 31 de maio de 2017)

O Espírito Santo, «pela força do Evangelho», como diz o II Concílio do Vaticano, «rejuvenesce a Igreja e renova-a continuamente» para a levar à «união perfeita» com Jesus Cristo («Lumen Gentium»,4).

O nosso empenho em promover a «renovação inadiável» não pode esquecer o papel decisivo do Espírito Santo. Precisamos de aprender a invocá-lo constantemente. Não apenas sobre nós ou sobre uma atividade, mas simplesmente invocar a sua presença.

A vida cristã exprime-se num estado permanente de «Pentecostes»: abertura à força criativa do Espírito. Este desejo se torne, hoje, visível na nossa vida, cristãos do século XXI. O cristão vive do Espírito Santo!

Hans Urs von Balthasar, teólogo católico, escreveu: «Os nossos atos mais íntimos de fé, de amor e de esperança, as nossas disposições de alma, e sentimentos, as nossas resoluções mais pessoais e livres; todas estas realidades inconfundíveis que nós somos, são de tal modo percorridas pelo seu hálito, que o último sujeito – no fundo da nossa subjetividade – é Ele, o Espírito Santo.

A oração pessoal e comunitária própria duma vida espiritual saudável precisa da força criativa do Espírito Santo. Esta é a maior necessidade dos cristãos.

Afirmou Paulo VI: «devemos dizê-lo […] vós, o sabeis: o Espírito, o Espírito Santo, animador e santificador da Igreja, o seu alento divino, o vento das suas velas, o seu princípio unificador, a sua fonte interior de luz e de força, o seu apoio e consolação, a sua fonte de carismas e de cânticos, a sua paz e a sua alegria, o seu penhor e prelúdio de vida bem-aventurada e eterna». (Audiência Geral de 29 de novembro de 1972).

É preciso que nós, os cristãos católicos, valorizemos mais a celebração do Pentecostes. Há-de ser muito mais do que um dia, muito mais do que o último dia do tempo de Páscoa!

Ao ler o livro dos Atos dos apóstolos percebemos que o protagonista é o Espírito Santo. Há quem afirme, por isso, que se pode designar o livro dos Atos como o «Evangelho do Espírito Santo».

O Pentecostes é a vida da Igreja. É a vida do cristão. O Pentecostes resulta da Páscoa, como o verão da primavera, como o fruto da flor. «Vós sabeis que o Espírito Santo constitui a alma, a linfa vital da Igreja e de cada cristão: é o amor de Deus que faz do nosso coração a sua morada e entra em comunhão com cada um de nós.

O Espírito Santo está sempre connosco, em nós, no nosso coração» (Francisco, Audiência Geral de 9 de abril de 2014). Sábias são as palavras de Serafim de Sarov: «O verdadeiro fim da vida cristã é conseguir o Espírito Santo».

Diz Atenágoras: «Sem o Espírito Santo, Deus está ausente, Cristo permanece no passado, o Evangelho é letra morta, a Igreja uma simples organização, a autoridade um poder, a missão uma propaganda, o culto um arcaísmo e a moral uma ação de escravos.

Mas, com o Espírito Santo, o cosmos é enobrecido pela geração do Reino, Cristo Ressuscitado faz-se presente, o Evangelho torna-se força do Reino, a Igreja realiza a comunhão trinitária, a autoridade transforma-se em serviço, a liturgia é memorial e ação humana deifica-se».

Caros Catecúmenos e Crismandos, o dom do Espírito Santo, que ides receber, vai marcar-vos com um sinal espiritual que vos tornará mais conformes com Cristo e mais perfeitamente membros da sua Igreja.

O próprio Cristo, ungido pelo Espírito Santo no Batismo, que recebeu de João, foi enviado a realizar a obra do seu ministério de difundir sobre a terra o fogo do Espírito.

Vós, que já fostes batizados, ides receber agora a força do Espírito de Cristo, e sereis marcados na fronte com o sinal da sua cruz.

Devereis, por isso, ser diante dos homens testemunhas da sua paixão e ressurreição, de tal modo que a vossa vida, como diz o Apóstolo, difunda, por toda a parte, o bom odor de Cristo.

O seu Corpo Místico, que é a Igreja, povo de Deus, recebe dele os diversos dons que o Espírito Santo distribui a cada um para que este corpo vá crescendo na unidade e na caridade.

Sede, pois, membros vivos desta Igreja, e, guiados pelo Espírito Santo, procurai dedicar-vos ao serviço de todos os homens, como Cristo, que veio não para ser servido, mas para servir.

ORAÇÃO
Ó Espírito Santo,
Alma da minha alma, eu Te adoro!
Esclarece-me, guia-me,
fortalece-me, consola-me.
Diz-me o que devo fazer, dá-me as Tuas ordens.
Prometo submeter-me
a tudo o que desejares de mim
e aceitar tudo o que permitires.
Concede-me, apenas, conhecer
a tua vontade.

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