Homilia de D. António Francisco Santos na Solenidade de Santa Joana Princesa

Sé de Aveiro, 12 de Maio de 2007. 1.A diocese de Aveiro celebra hoje solenemente Santa Joana Princesa de Portugal, nossa Padroeira. A nossa cidade sempre reconheceu santa Joana como sua protectora. Damos graças a Deus por tão fiel e dedicada protecção. Agradecemos ao Santo Padre Paulo VI que em 1965 no-la deu como Padroeira e louvamos o carinho que a cidade e a diocese lhe manifestam em formas tão belas e em iniciativas tão nobres. A presença de tão numerosa assembleia é a expressão desta dimensão espiritual que nos identifica e caracteriza numa matriz cultural cristã, fonte de valores que assumimos, herdeiros de caminhos percorridos e continuadores de pessoas, iniciativas e instituições que modelaram a alma da cidade que somos. A celebração da solenidade litúrgica de Santa Joana, Padroeira da cidade e da diocese, convida-nos a fazermos uma peregrinação às raízes da nossa história, tão próxima está esta soberana princesa do nosso itinerário como povo, mas ajuda-nos sobretudo a descobrir que são os caminhos do amor a Deus e do serviço à cidade e ao seu povo que mais frutos produzem e que mais perduram no tempo. Com Santa Joana descobrimos que são sempre os caminhos da santidade os que alimentam a alma de um povo e definem o rumo do futuro de uma cidade. Tem todo o sentido recordar o lema da nossa diocese, aprendido na vida e no exemplo de Santa Joana: “Amar a Deus é servir”. 2. A Solenidade de Santa Joana centrada na Eucaristia, celebrada nesta Sé Catedral, aqui tão perto do convento que ela escolheu para viver, trocando o fausto do palácio real pela simplicidade livre de uma vida disponível para fazer o bem, ajuda-nos a reflectir sobre a nossa missão de cristãos ao serviço da cidade. A Igreja faz parte da cidade e não se pode dispensar de se interrogar em permanência sobre a sua missão na cidade. Esta missão consiste essencialmente em estabelecer um diálogo de acolhimento solidário e fraterno e um compromisso de nova e contínua evangelização. A harmonia de uma sã convivência social, o esforço conjunto de um progresso justo e sustentado, o respeito sagrado pela vida e pela dignidade humana, a paz e a segurança com que cruzamos as nossas ruas, a preparação de um futuro feliz para as crianças e jovens, o sentido de gratidão para os que construíram a cidade que somos, o sentido do divino e do transcendente, o lugar de Deus na cidade dos homens passam necessariamente por aqui. O contributo dos santos de que Santa Joana é para Aveiro um exemplo paradigmático foi sempre este: revelar os valores do Evangelho e a alegria de ser Igreja. É este também o contributo que vos quero dar como bispo da Igreja e em comunhão e unidade com todos os cristãos: sacerdotes, diáconos, consagrados(as) e leigos(as). O exemplo de Santa Joana ensina-nos o que o evangelho sempre nos disse: a missão da Igreja nunca foi dominar mas sim humanizar e servir, com particular e fraterno afecto aos mais pobres, esquecidos ou desamparados pela vida e pela sorte. Neste dia solene, o primeiro que vivo convosco, nesta Igreja que o Espírito de Deus me enviou a servir, sinto o dever de dizer aos pobres e aos que sofrem que não receiem bater à porta da Igreja de Aveiro neste limiar do século XXI como o faziam à porta do Convento de Jesus no tempo de Santa Joana. A Igreja, a exemplo de Jesus, o seu mestre e fundador, nunca esgotou a ousadia da caridade, da justiça, do amor e da compaixão. 3.O nascimento de Santa Joana em Lisboa a 6 de Fevereiro de 1452 causou grande entusiasmo e alegria, pois D. Afonso V, seu pai e rei de Portugal não tinha sucessor. Reuniram as Cortes para lhe darem o direito de sucessão e assim ela fora jurada princesa herdeira do reino, o que pela primeira vez acontecia entre nós. Foi-lhe dada educação cristã e nem a morte da Rainha, sua Mãe, D. Isabel, quando ela tinha apenas 4 anos a impediu de continuar a sua formação cristã. Neste ano pastoral dedicado à família gostaria de realçar o valor da vida, o acolhimento sagrado que toda a vida merece e exige, a importância do despertar religioso no seio da família, a educação cristã dos filhos, o ambiente de harmonia e de respeito que consolide o amor fiel e abençoado e o espaço de liberdade para a opção vocacional dos jovens. Santa Joana é modelo desta decisão de liberdade, vencendo constrangimentos, projectos diferentes ou sonhos ambiciosos que outros para ela iam delineando. Foi a sua decisão reflectida, ponderada e corajosa que prevaleceu. Deixou-se guiar pela voz de Deus, sem se perturbar pelos ruídos do mundo nem pelas seduções da Corte. Urge aprender com Santa Joana esta cultura vocacional. Ela anima-nos neste esforço determinado e neste dinamismo corajoso que a Igreja de Aveiro quer imprimir pastoralmente em todos os sectores e a todos os níveis da vida eclesial. Precisamos da sua bênção e sabemos que contamos com a sua protecção. Até porque sabemos que o chamamento de Deus implica uma profunda experiência de fé, uma capacidade de renúncia a si mesmo e transcende os sonhos e os projectos individuais. As vocações surgem ao ritmo da densidade da fé vivida, celebrada, testemunhada e proclamada. A fé alimenta-se da Palavra de Deus e dos sacramentos, sobretudo da Eucaristia. Os dados biográficos de Santa Joana dizem-nos a beleza e a autenticidade da sua fé, falam-nos do tempo dado à oração e da alegria e verdade com que vivia a sua consagração. Ninguém estranha por isso que as pessoas a ela recorressem para sentirem a necessária ajuda de Deus e força e consolação nas dificuldades. 4.Compreendemos, assim, a importância da palavra do Evangelho, hoje proclamado, que Santa Joana assumiu como lema, orientação e sentido de vida e de consagração: “Se alguém quiser seguir-me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga – Me”(Mt.16,25). Também ela poderia dizer com S. Paulo: “Considero todas as coisas como prejuízo comparando-as com o bem supremo, que é conhecer Jesus Cristo, Nosso Senhor”(Fil.3,8). Mas faz-nos bem ouvir e meditar as palavras do Apocalipse que pela voz de S. João nos diz: ”Eis a morada de Deus no meio dos Homens”(Ap.21,3). Celebrar a Padroeira da nossa cidade e diocese é afirmar com a certeza da fé que nos anima, que Deus estabeleceu morada no meio do seu povo e lhe dá a sua bênção e protecção. Procurarei que os cristãos sejam este rosto de bênção e esta certeza de protecção, através da coerência de vida, da coragem com que defendem e promovem os valores cristãos, da presença discreta mas eficaz na vanguarda das grandes decisões e empreendimentos, da experiência fecunda da oração, do exemplo de famílias sólidas e felizes e da disponibilidade permanente diante das causas do bem. Não esqueçamos que por entre todos estes propósitos sobressai o contributo dado pela Igreja através das comunidades que diária ou pelo menos semanalmente se reúnem para rezar e para celebrar a fé como fermento de renovação e certeza de redenção para a humanidade. “A oração é um força silenciosa de humanização da cidade”. Vamos, por isso, incrementar espaços de oração, promover a abertura ao culto, à oração e à visita as nossas Igrejas e templos cristãos durante mais tempo, garantindo segurança mas oferecendo simultaneamente verdadeiros oásis de espiritualidade onde a fé se alimente e se rejuvenesça. Para que mesmo onde nos parece que escasseiam forças humanas para fazer face a tantas necessidades e resolver complexos empreendimentos não nos falte nunca a confiança que na oração se encontra e reparte. 5. Merecem uma particular referência neste dia em que celebramos uma santa religiosa dominicana, lembrar e agradecer a presença de todas as Comunidades e Institutos de vida religiosa e consagrada da diocese. Eles são a expressão mais próxima da vida e da consagração de Santa Joana que a Igreja nos deu como Padroeira. Que Santa Joana desperte nos jovens de hoje a alegria de descobrir a beleza e o encanto da vocação para a vida consagrada. 6. As atenções do mundo cristão voltam-se, hoje, para o Brasil onde se encontra o Santo Padre Bento XVI, na grande cidade de S. Paulo e no Santuário de Nossa Senhora da Aparecida e os caminhos de Portugal são chão sagrado de peregrinos de Fátima. Queremos viver com todos em comunhão de Igreja esta nossa celebração que assim alarga os seus horizontes à dimensão do mundo e à comunhão da Igreja. Permiti-me que recordando a carta que um dos meus predecessores escreveu em nome de Santa Joana aos jovens vos dirija a vós jovens uma particular saudação com as palavras que o Santo Padre Bento XVI ontem dirigiu aos jovens no Brasil: “Jovens, vivei intensamente a vossa juventude: Consagrai-a aos elevados ideais da fé e da solidariedade humana. Vós jovens não sois apenas o futuro da Igreja. Vós sois o rosto jovem da Igreja e da Humanidade. A Igreja precisa de vós, como jovens, para mostrar o rosto de Jesus Cristo”. 7. Senhor, concede-nos a graça de celebrar dignamente a festa de Santa Joana nossa Padroeira e de descobrir no seu exemplo a fortaleza da fé, a alegria da vocação, o amor a Deus e o desejo de servir generosamente Aveiro e os aveirenses. D. António Francisco dos Santos, Bispo de Aveiro

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