Homilia da Eucaristia na abertura da Sé de Aveiro

O Louvor, a Gratidão e a Bênção 1.“Bendito seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo” respondíamos todos com alegria à saudação, tanto ao jeito de S. Paulo, que vos dirigi no início desta celebração festiva. Este é o dia, há meses esperado, de abertura da Sé Catedral após o tempo necessário para as obras agora realizadas. Demos graças a Deus, testemunhemos a alegria que aqui nos reúne e reconheçamos a generosidade que nestas obras se espelha. Este é um dia de louvor, de gratidão e de bênção. Convido-vos, irmãos e irmãs, a contemplarmos os dons de Deus que nos abrem para estes sentimentos de louvor, de acção de graças, de alegria, de esperança e de bênção. A Igreja de Aveiro preocupar-se-á em ter sempre esta linguagem marcada pelo valor da esperança cristã, da sabedoria da fé e da ousadia criativa da caridade. Renovar o templo material desta Igreja Catedral diz-nos também que o cuidado pastoral com o edifício espiritual de pedras vivas anuncia um redobrado trabalho de evangelização e de renovação da nossa Comunidade e da nossa Diocese. Evangelizar é ser sinal de bênção e de esperança no mundo e no coração desta bela e acolhedora cidade de Aveiro. O acolhimento aqui oferecido, os mistérios de Deus e os sacramentos da Igreja celebrados, a fé transmitida, a palavra proclamada e partilhada, a oração e a adoração contemplativa de tantos que diariamente por aqui passam, assim como as iniciativas pastorais com uma permanente atitude missionária, que daqui partem para toda a Diocese, devem ser imperativo evangelizador que todos assumimos. Hoje junta-se a nossa fé, nesta hora de alegria e de bênção, à história de um templo que nos foi dado em herança como Sé Catedral por vontade do Santo Padre Pio XI, que restaurou a nossa Diocese há precisamente setenta anos. É esta a Igreja Mãe da Diocese que queremos cuidar com particular carinho e desvelo, certos de que Deus se revela na beleza que se desprende deste templo santo, na dignidade da liturgia que aqui se celebra e na oração assídua de tantos que encontram nesta Igreja Catedral um espaço de oração de celebração da Eucaristia e um oásis espiritual de silêncio, de paz, de reconciliação sacramental e de sinais permanentes presença de Deus. 2. A primeira leitura de hoje falava-nos de Salomão, a quem se deve o templo de Jerusalém e que instado a pedir a Deus aquilo que mais útil julgasse e necessário sentisse, pede-lhe simplesmente a sabedoria do coração. Salomão implora de Deus um coração sábio para governar o seu povo. Preocupa-se com a missão e com aqueles que Deus lhe confia. É o horizonte da missão que o ocupa e preocupa. Sou muito novo, sentia Salomão! Que a bondade e a sabedoria realizem por mim o que me falta em experiência e em idade, condições habitualmente indicadas como fonte de autoridade e de clarividência, pensava este sábio rei, como pensamos naturalmente todos quantos na família, na comunidade, no trabalho, na vida social e na comunidade cristã somos chamados a missões de particular e exigente responsabilidade. Deus não falta, também hoje, com a sabedoria de coração àqueles que lha suplicam. A sabedoria é um inigualável tesouro ou uma pérola de raro valor, usando a bela linguagem da parábola do Evangelho. Um tesouro que justifica tudo deixar para adquirir o campo onde ele se encontra, mesmo que isso nos obrigue a desprendermo-nos de outras coisas porventura válidas mas secundárias. A propósito lembro Francisco Xavier que da Índia escrevia a Inácio de Loyola dizendo-lhe que frequentemente se lembrava da sua Universidade de Paris e sentia vontade de ali regressar para dizer aos que se dedicavam ao estudo quão importante era encontrar o tesouro escondido de um serviço evangelizador junto dos que ainda não conheciam Cristo ou d’Ele se afastaram. É de Cristo que nos fala S. Paulo na segunda leitura: Deus conhece-nos, olha-nos com amor, predestina-nos para sermos conformes à imagem do seu Filho, Jesus Cristo. Chama-nos pelo nosso nome, justifica-nos e glorifica-nos. E S. Paulo acrescenta que Deus concorre em tudo para o bem daqueles que o amam. Esta bela e incisiva síntese paulina dá-nos serenidade, confiança e paz. Também disso precisamos. Dom saboroso de Deus para as pessoas, para as famílias e para os povos, o dom da paz! Os templos erguidos no coração das cidades e de todas as terras devem ser sinais de bênção e de paz. Que as pessoas que escolhem a nossa cidade, a ria e o mar, neste tempo de férias, os que aqui estudam nas Escolas e na Universidade, os que aqui vivem e trabalham descubram nesta Sé Catedral um sinal visível de Deus e que de cada um de nós recebam gestos, palavras e testemunhos de bênção e de paz. 3. Regressemos ao Evangelho. Jesus compara o Reino dos Céus a uma rede de pesca lançada ao mar. Tem particular sentido esta mensagem numa terra voltada para a faina da pesca e atraída pelo fascínio da ria e do mar. Sintamo-nos sustentados por esta rede do amor de Deus. Na vida humana e social modernas, as redes possibilitam a criatividade e a eficácia. Que as nossas redes não sejam tecidas por fios de ambição, de egoísmo ou de artificialidade. Que sejam redes trabalhadas por Deus com fios seguros e firmes do seu amor. A confiança e o serviço solidário da caridade cristã alargam e consolidam as redes das relações humanas e cristãs que diariamente tecemos. Ajudar a tecer a rede de Deus traz mil vezes mais bênçãos, ouvia-se no Congresso da Nova Evangelização, em Lisboa. Oxalá se viva e realize esta bênção também nesta nossa Cidade e Diocese de Aveiro que olha com esperança o horizonte da evangelização e se prepara para viver com este espírito a Missão Jubilar Diocesana. 4. Estes domingos são para a Igreja em Portugal oportunidade escolhida para as ordenações de presbíteros. Hoje precisamente são ordenados quatro sacerdotes em Viana do Castelo e três no Funchal. Demos graças a Deus. Anuncio-vos que também nesta Catedral restaurada, sóbria, digna e bela, será ordenado presbítero, membro da Associação dos Silenciosos Operários da Cruz, no próximo dia 17 de Agosto, o diácono Johony Loureiro Freire, natural de S. Pedro da Palhaça, na Diocese de Aveiro. Outras ordenações se seguirão, querendo Deus, para o presbitério diocesano, para que não faltem trabalhadores para a messe na imensa vastidão do mundo a evangelizar e da cultura do nosso tempo a permeabilizar de valores cristãos. 5. Que Nossa Senhora da Glória, Padroeira desta Igreja Catedral, e Santa Joana Princesa, Padroeira da nossa Diocese, abençoem, protejam e recompensem todos quantos, com fé e generosidade, muitas vezes sacrificada e heróica, tudo fazem para que o templo santo do Senhor se edifique e restaure e as pessoas se sintam pedras vivas desta construção nova que é o reino de Deus plantado no coração da Cidade. + António Francisco dos Santos Bispo de Aveiro Aveiro, 27 de Julho de 2008

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top