Homilia da eucaristia de envio dos jovens para as comunidades religiosas

Eucaristia na Semana de Oração pelas Vocações Consagradas – Memória de S. José Operário Não é Ele o filho do carpinteiro? Assim perguntavam, naquele tempo, aqueles que conheceram Jesus na Infância e Juventude e O viram depois a pregar um Evangelho novo, desconhecido e exigente: Não é ele o filho de José, o carpinteiro? O filho do carpinteiro tornou-se a Pedra angular de um edifício vasto que percorre o mundo: a igreja de Jesus. E, como naquele tempo, Ele continua a atrair as multidões e a chamar individualmente homens e mulheres, jovens e adultos para a Vinha que precisa de Operários qualificados. Caríssimos Jovens e meus Irmãos: Um dia, na Infância ou na Juventude, alguns de nós descobriram uma Via de realização e felicidade fora do comum dos mortais. Encontraram Deus e o seu Cristo por formas diversas. Entregaram-lhe a vida toda. Em cada ano, por esta altura, querem fazer chegar essa chama a outros, vindos de variados pontos da diocese do Porto. São muitas as vielas e ruas que vão dar à mesma Estrada Larga da Vocação Consagrada. A cada um compete descobrir como se chega lá, se for o caso. Mas sozinho(a) é mais difícil de acertar com a Porta de entrada. E a Porta é Cristo. Nós somos um povo, o Povo de Deus. Como tal estamos intrincados uns nos outros, sem ofensa da liberdade de ninguém. Devemos viver em comunhão e partilha. Por isso precisamos de confrontar os nossos projectos com os projectos de Deus a nosso respeito: Vinde vós também para a minha vinha e pagar-vos-ei o que for justo! Celebrando hoje a Memória de S. José Operário, a Liturgia recorda que Deus é Criador. Criou o homem à sua imagem e semelhança e chamou-o a ser o primeiro em dignidade entre todas as criaturas. Chamou Adão e Eva a serem os guardiães do Paraíso. E Deus viu que era bom o que tinha feito. No decurso da história da salvação, Deus chamou homens e mulheres, como Cooperadores na obra da redenção da humanidade decaída. Escolheu alguns para serem os chefes do seu Povo, desde Abraão a Moisés, desde os Profetas e Reis até à tribo dos Sacerdotes da velha aliança. No princípio dos novos tempos, também Deus chamou Maria e chamou José. Chamou João Baptista e chamou o seu próprio Filho à Encarnação como Filho do Homem. Depois chamou Doze e mais tarde 72, e por aí fora até aos nossos dias. A Festa de S. José Operário, nestes dias de crise de emprego, é uma chamada de atenção sobre o valor do trabalho e o dever que todos temos de ajudar à sobrevivência digna de quantos passam horas difíceis. S. José foi operário e também o Filho de Deus quis experimentar a dureza e a beleza do trabalho humano. O trabalho é colaboração humana na obra da criação de Deus. São variadas as formas de trabalhar pela instauração do reino de Deus. Todas se inserem na história humana de cada tempo e respondem a necessidades concretas de que o Povo de Deus carece. A nossa missão é fazer desta terra um mundo cada vez melhor. Para indicar aos homens o caminho para Deus, o Senhor do universo continua a chamar hoje jovens, rapazes e raparigas, para uma vida de mais íntima união com ele. Destina-os a serem cooperadores privilegiados da redenção da humanidade. Daí o dia Mundial de Oração pelas Vocações consagradas. É que Deus continua a chamar, mas os ouvidos de muitos estão cerrados à sua voz. Nós não criamos as condições de silêncio, ambiente de escuta, calor humano e de acolhimento junto da nossa juventude e não damos aos mais novos oportunidade de experimentar o que é viver em comunhão, trabalhar com os demais, assumir responsabilidades. Se lhes mostramos uma religião apenas de renúncia, tristeza e afastamento do real, não encontram aí chamariz de felicidade e dizem, por palavras ou com atitudes: Isso, eu não quero! Jesus viveu trinta anos na Casa de Nazaré sem dar nas vistas. Mas, quando chegou a sua hora, fez-se ouvir a voz do Pai e o sinal do Espírito que o chamavam à missão. Há um tempo na vida em que muitos jovens e mesmo adultos sentem um clique que vem do Alto e bate forte junto ao coração. Foi assim com o jovem Samuel que, de noite, ouviu uma voz: Samuel, Samuel! Não sabia de quem era a voz e dirigiu-se ao lugar onde estava o Sacerdote Heli. Foi assim com o jovem do evangelho que interrogou Jesus sobre o que devia fazer para alcançar a Vida eterna. Vai, vende o que tens, dá aos pobres, terás um tesouro nos céus. Depois, vem e segue-me. Foi assim com cada um dos Apóstolos: Mestre, onde moras? Vinde ver. Foram e ficaram com Ele aquele dia. São assim todas as vocações: Um clique, um baque no estômago e na alma e uma descoberta de um novo caminho que é cheio de luz e atractivo e nos faz decidir com a ajuda de alguém mais experiente. Mas o caminho não é todo feito de rosas. Alguns quiseram experimentar uma vocação de eflúvios, toda ela exaltação e consolo e desiludiram-se quando encontraram os espinhos da rosa. Meus caros amigos: A Igreja do Vaticano II precisa de “descentralizar-se”, Descentralizar-se significa entregar responsabilidades e confiar nas pessoas. Foi assim que fez Jesus Cristo: confiou em Judas, confiou em Pedro, confiou em Zaqueu, confiou na Samaritana, confiou em Maria, confiou em José, confiou em mim… Assumir responsabilidades em Igreja não é um favor, mas um direito e um dever que nasce no baptismo. Aí nos constituímos, por graça de Deus, cidadãos dentro do seu Povo. Os jovens, sobretudo, reagem ao tipo de Igreja que nós somos: Se religião é isto: vai-te confessar, és um pecador, tens de cumprir os mandamentos…, então – dizem -como vós não queremos ser! Autonomia, liberdade de filhos de Deus, responsabilidade comunitária, eis o que é preciso cultivar nas nossas comunidades paroquiais e religiosas. Outra dimensão que nos escapa muitas vezes é o mundo em que vivemos. A nossa tentação é diabolizá-lo, asseverando que é mau, pecador e lugar de perdição. Esquecemos as palavras do Senhor no evangelho: O Verbo fez-se carne. Veio ao mundo que é seu. Eu não sou do mundo, como vós não sois do mundo. Mas, Pai, não os tires do mundo, livra-os do mal. O mundo é criatura de Deus. O Verbo eterno não teve medo de descer ao tempo dos homens. Assumiu a nossa natureza em todas as dimensões, menos no pecado. O mundo não é a perdição dos jovens. O que eles e nós todos precisamos de ter e não perder é a identidade cristã. O jovem candidato tem necessidade de experimentar Deus na vida. Mais do que dizer-lhe: Tens de acreditar em Deus, ele precisa de ouvir: Vê que Deus acredita em ti. Mas depois é necessário que ele experimente que também nós acreditamos nele. O Pai e a Mãe, o Educador e o Padre, o Religioso e a Religiosa, todos os Consagrados devem acreditar na juventude como Deus acredita em cada um de nós. Por nós deu a vida…E ama-nos até ao infinito. Acreditemos no AMOR e seremos salvos. E as vocações aparecerão…

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top