História: Nova documentação sobre pontificado do Papa Pio XII analisada em conferência internacional

Encontro com diferentes especialistas vai dar «nova luz» às relações judaico-cristãs

Cidade do Vaticano, 09 out2023 (Ecclesia) – A Universidade Pontifícia  Gregoriana vai promover entre hoje e quarta-feira uma conferência internacional sobre os ‘Novos documentos do Pontificado do Papa Pio XII e seu significado para as relações judaico-cristãs: Um diálogo entre historiadores e teólogos’.

“A conferência contará com a participação dos principais académicos e pesquisadores internacionais envolvidos nesse setor, tanto no campo histórico quanto no teológico, permitindo o encontro e a comparação entre uma pluralidade de abordagens e visões”, refere um comunicado da instituição, enviado à Agência ECCLESIA.

O encontro, a decorrer em sete sessões na Aula Magna da Universidade, vai abordar “implicações histórico-diplomáticas” mas também “sociais, religiosas e culturais que levaram a uma reformulação irrevogável do relacionamento entre a Igreja Católica e o povo judeu nas décadas seguintes”.

A realização da conferência vai “oferecer uma nova luz sobre as controvérsias históricas e teológicas relativas ao Papa Pio XII e ao Vaticano durante o período do Holocausto”, decorrentes da análise dos arquivos do Vaticano, abertos em março de 2020, e da descoberta de novos documentos que mostram que 150 organizações da Igreja Católica, da cidade de Roma, acolheram mais de 3000 judeus perseguidos pelo nazismo e pelo fascismo durante os últimos anos da II Guerra Mundial.

O Centro Cardeal Bea de Estudos Judaicos da Universidade Pontifícia  Gregoriana assinala “o espaço” novo de estudo e discussão que a descoberta de documentos permite desenvolver sobre “um período histórico complexo e dramático” ao mesmo tempo que possibilita uma “reflexão sobre como os novos dados afetam a teologia das relações entre judeus e cristãos”.

“Essas relações são baseadas na origem do cristianismo a partir do judaísmo e numa herança bíblica amplamente comum, mas também numa história complexa na qual o antijudaísmo cristão desempenhou um papel considerável no estabelecimento do antissemitismo. Os novos documentos devem ser um incentivo para o aprofundamento contínuo da dimensão teológica juntamente com a histórica”, explica o pró-diretor do Centro Cardeal Bea, Massimo Gargiulo.

A primeira sessão pretende analisar “as motivações e decisões do Papa Pio XII diante do fascismo, do nazismo e do comunismo, numa tentativa de equilibrar  papéis, como chefe da Igreja e da Santa Sé”, indica o comunicado.

O segundo dia da conferência quer “explorar” as “as visões sobre nações e religiões que moldaram a resposta de autoridades, prelados e leigos em torno de Pio XII” durante o Holocausto, prometendo a quarta sessão centrar-se sobre as “leis raciais, nascidas na Alemanha nazista e disseminadas por toda a Europa”.

“A quarta sessão, estruturada em dois painéis, será dedicada ao resgate dos judeus, com atenção especial ao 80.º aniversário da prisão em Roma: Quem salvou os judeus e por quê? O que os novos arquivos podem nos dizer sobre esse evento e por que o resgate aconteceu ou não?”, precisa o comunicado.

O dia 11 de outubro inicia com a análise das “reações dos diplomatas e nunciaturas papais” perante “a crise dos refugiados e dos horrores do Holocausto”.

Na sexta sessão vai abordar “momentos particularmente críticos do pós-guerra”, onde será vista a “ajuda aos criminosos de guerra nazistas e do Eixo e os esforços do Vaticano na ajuda aos alemães condenados por crimes de guerra em tribunais militares internacionais”.

A última sessão vai percorrer o caminho “incerto” que conduziu à declaração «Nostra Aetate», de 1965, quando o Concílio Vaticano II rejeita o antissemitismo e destaca a profunda ligação entre o cristianismo e o judaísmo.

O encontro de três dias vai ser precedido por uma “sessão de estudo sobre os documentos encontrados nos arquivos do Pontifício Instituto Bíblico, referentes ao resgate de judeus em paróquias e institutos religiosos romanos”.

O comunicado adianta ainda que estarão presentes na conferência internacional D. Étienne Vető, ex-diretor do Centro de Estudos Judaicos Cardeal Bea, da Pontifícia Universidade Gregoriana, Iael Nidam-Orvieto, diretor do Instituto de investigação internacional do Holocausto, Yad Vashem, em Jerusalém, Suzanne Brown-Fleming, diretora do centro de estudos do Holocausto «Jack, Joseph e Morton», nos Estados Unidos da América, também o cardeal D. Pietro Parolin, Secretário de Estado da Santa Sé e o rabino chefe de Roma, Riccardo Di Segni.

Suzanne Brown-Fleming saúda o interesse tantas instituições acadêmicas e patrocinadores para discutir o trabalho de análise que tem sido realizado nos últimos três anos, mas prevê “décadas de escrutínio e trabalho colaborativo de estudiosos de todas as religiões” até que se possa obter um “quadro completo das profundas questões éticas, teológicas e históricas levantadas pelo Holocausto”.

O diretor do Museu Yad Vashem assinala a criação de “novos espaços de diálogo” e a oportunidade para “pesquisas sérias e meticulosas”, juntando especialistas internacionais, e o rabino David Maayan, assistente no Centro Universitário para Católicos-Judeus Saint Leo, na Flórida, acredita que o diálogo “pode ajudar a esclarecer as questões que estão no centro das relações entre cristãos e judeus de forma mais ampla”.

A organização adianta que a conferência será transmitida ao vivo pelo youtube.com/unigregoriana e que as inscrições estão disponíveis num formulário on-line em www.unigre.it

LS

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