Há 730 anos morreu o Papa português João XXI

Completaram-se sete séculos e mais trinta anos sobre a morte do Papa português, Pedro Hispano Portugalense, que tomou o nome de João XXI. Nasceu em Lisboa, provavelmente entre 1205-1210, onde terá frequentado a escola catedralícia. Uma perícope da bula Flumen aquae vivae, dirigida ao bispo de Paris, de 28 de Abril de 1277 – encontrada entre os rascunhos do seu notário –, refere-se ao Estudo parisiense dizendo: «Prende-nos ao mesmo Estudo um afecto, também especial, que de há muito lhe ganhámos. Com efeito, tendo vivido nos seus lares durante muito tempo, desde os tenros anos, aí nos dedicamos com diligência ao estudo das várias ciências e permanecendo por muitos anos do curso do rio provámos as libações saborosíssimas dessas mesmas ciências, tanto quanto o Senhor da Majestade, doador da verdadeira sabedoria, nos concedeu». De aqui se poderá inferir que em Paris começou os estudos superiores. Por falta de elementos, não estão de acordo os biógrafos sobre quais matérias que aí aprendeu, se lá exerceu o magistério e em que ramos. O conhecimento do currículo académico parisiense leva a supor que, havendo ali sido escolar, ao menos como tal teria também exercitado o ensino após a conclusão do curso da Faculdade das Artes, podendo simultaneamente iniciar a frequência em outra Faculdade. A identificação do papa com o filosofo e médico é ainda objecto de controvérsia. A existência de vários personagens com o nome de Pedro Hispano na Europa dos séculos XII e XIII dificulta o esclarecimento da identidade de cada um e o discernimento dos dados biográficos de João XXI, assim como o estabelecimento da autenticidade da atribuição das obras que lhe são consignadas. Quanto à dúvida sobre o autor do Tractatus durante a Idade Média difundido com o título Summulae logicales, compêndio escolar em toda a Europa, exceptuada a Inglaterra, até ao século XVII, que lhe ganhou lugar no Paraíso dantesco (e Pietro Ispano / lo qual giù luce in dodici libelli – XII, 134-135, com alusão às suas doze partes). O erro provém de ter sido identificado com um dominicano. O equívoco já foi largamente explicado. Um Petrus Hispanus aparece em Siena em 1245, 1248 e 1250. Esta última referência a Pedro Hispano regista que, em Junho de 1250, lhe foi pago o vencimento de professor, de aqui se havendo retirado serem provenientes de Siena algumas das suas obras médicas com características de origem no magistério. Em 11 do mesmo mês de Junho, já Pedro Hispano se encontra em Portugal, tomando parte as cortes de Guimarães. Talvez alguma explicação possa descortinar-se para conciliar as duas situações. Tem de concluir-se que são escassos os elementos biográficos seguros anteriores à sua presença nestas cortes, onde em 11 de Junho é referido como “magistrum Petrum Iuliani decanum vlixbonensem et archidiaconum bracarensem”. Acompanhado dos mesmos títulos aparece o seu nome em vários documentos das cortes de Leiria em Março de 1254. Em 12 de Dezembro de 1257, D. Afonso III apresenta- o para prior da Colegiada de Santa Maria de Guimarães. Em vários actos régios do ano seguinte vemos a sua assinatura como testemunha. Em 21 de Janeiro de 1260 está em Itália, em Anagni, perante o Papa Alexandre IV, a quem pede autorização para contrair um empréstimo a fim de custear um pleito com o Mestre-escola Mateus, que alegava ter sido eleito bispo olisiponense e pretendia ocupar aquela sé. Em Outubro de 1263, em Orvieto, protesta junto de Urbano IV por o Arcebispo de Braga lhe impedir a posse do priorado vimaranense. A 24 de Março de 1264, aparece em Perugia um “magister Petrus medicus Yspanus”, envolvido num processo de falsificação de moeda. Em 1273, tendo vagado a sé bracarense, por morte do arcebispo Martinho Geraldes, é para ela eleito, sem chegar a ser provido, pois encontrando- se em Junho a participar no Concílio de Lyon, Gregório X nomeou-o cardeal-bispo de Tusculum (actual Frascati), assim lhe dando entrada na cúria pontifícia. No conclave posterior à morte de Adriano V, foi em 15 de Setembro de 1276 eleito para lhe suceder.Sucumbiu à derrocada dos seus aposentos em Viterbo, a 20 de Maio de 1277. Não pontificou senão por pouco mais de oito meses. Interveio, porém, em acontecimentos eclesiais e até em outros relacionados com a vida política portuguesa, que a história registou. J. M. da Cruz Pontes Prof. da Universidade de Coimbra

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