«Carta aberta» aos responsáveis comunitários alerta para riscos das divisões internas
Bruxelas, 09 mai 2024 (Ecclesia) – O presidente da Comissão dos Episcopados Católicos da União Europeia (COMECE) lamentou o regresso da guerra ao continente e pediu que se recuperem os ideais de paz que criaram o projeto comunitário, após a II Guerra Mundial (1939-1945).
“Depois de um período tão longo de paz, pensamos que uma guerra em solo europeu seria agora impossível. Em vez disso, os últimos dois anos mostram-nos que o que parecia impensável está de volta”, refere D. Mariano Crociata, numa carta aberta à União Europeia, divulgada por ocasião do Dia da Europa, que celebra hoje, e na perspetiva das próximas eleições europeias (09 de junho, em Portugal).
O texto é ainda assinado pelo cardeal Matteo Maria Zuppi, presidente da Conferência Episcopal Italiana (CEI) e enviado especial do Papa para as missões de paz em favor da Ucrânia.
“Queremos que possas ter um impacto e que apresentes a tua vontade de paz, os instrumentos da tua diplomacia, os teus valores”, referem, numa carta escrita em tom de diálogo, dirigida aos responsáveis comunitários.
As divisões internas não permitem assumir o papel que seria de esperar da tua estatura histórica e cultural. Não vês o risco de as tuas divisões internas enfraquecerem não só o teu peso internacional mas também a tua capacidade de responder às expectativas dos teus povos?”
Os presidentes da COMECE e da CEI sublinham a dificuldade em “manter vivo o espírito dos primórdios” do projeto comunitário, convidando a “construir novos pactos de paz”.
O documento pede ações para que “a guerra contra a Ucrânia termine, tal como a guerra em curso no Médio Oriente, que eclodiu na sequência do ataque terrorista a Israel em 7 de outubro [2023]”, alertando ainda para o ressurgimento do antissemitismo.
Numa reflexão sobre os desafios colocados pela chegada em massa de migrantes, D. Mariano Crociata e o cardeal Matteo Maria Zuppi lamentam que a Itália seja “muitas vezes deixada sozinha, como se fosse um problema só seu ou de alguns”.
“Mais cedo ou mais tarde, aprenderemos que as responsabilidades, incluindo as dos imigrantes, só podem ser partilhadas, para enfrentar e resolver problemas que são de facto problemas comuns”, acrescentam.
A carta destaca o papel dos valores cristãos e da fé para a construção da Europa.
“As diretivas e os regulamentos, por si só, não reforçam a coesão. É preciso uma alma!”, assinalam os responsáveis católicos.
O texto deixa uma referência às próximas eleições europeias, deixando votos de que seja “uma oportunidade de revitalização, um despertar do entusiasmo por um caminho comum que já contém, em si mesmo e na visão que projeta, um vivo sentimento de esperança”.
OC
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