Bispo da Guarda lamentou «realidade do sofrimento» que não tem justificação fácil»
Guarda, 07 abr 2023 (Ecclesia) – O bispo da Guarda afirmou hoje a “urgência de enfrentar, com responsabilidade”, os erros e pecados, “como também todas as suas consequências”, apontando a importância de “recuperar, em dignidade” a pessoa humana “na construção do bem de todos”.
“As culpas temos de as levar sempre a sério, em todas a situações, principalmente quando geram consequências de sofrimento, sobretudo para os inocentes. Para bem de todos a culpa não pode nunca morrer solteira, porque as consequências dos erros e males praticados pedem reparação até ao limite do possível”, afirmou D. Manuel Felício na homilia da celebração de Sexta-Feira Santa, Paixão e Morte do Senhor.
A reparação, prosseguiu, é pedida “aos tribunais, cujas sentenças têm de pretender, mais do que aplicar castigos, recuperar as pessoas para o caminho do bem”, mas reconheceu a importância de recuperar quem comete erros.
“Recuperá-lo, na sua dignidade inalienável de pessoa humana, passando a ter condições para assumir responsabilidades na construção do bem de todos é ainda muitíssimo mais importante e louvável. E é isso o que todos temos de pretender, em vez de colocar no seu rosto a o estigma da condenação sem mais, que pode trazer a morte antes do tempo”, acrescentou.
D. Manuel Felício, na celebração na Sé da Guarda, quis entregar a “realidade do sofrimento” que “é de todos e não têm justificação fácil”.
“Olhamos para o mal que faz sofrer, sobretudo tantos inocentes; para os erros cometidos por todos, mas principalmente pelos que têm especiais responsabilidades na condução da vida pública, em diferentes níveis. Olhamos para as culpas derivadas dos erros cometidos, umas vezes assumidas por quem os praticou e outras não. Olhamos para os inocentes que sofrem e pagam por erros que não cometeram, vítimas de calúnias e perseguições, quantas vezes a coberto das leis e sujeitos aos interesses de quem tem o poder. E perguntamo-nos naturalmente sobre quem deve pagar pelos prejuízos causados em consequência dos erros praticados”, indagou.
O bispo da Guarda quis ainda lembrar a situação da guerra na Ucrânia, “que, há mais de um ano, atinge neste momento não só os dois países mais diretamente envolvidos, mas também toda a Europa e o mundo”, obrigando a pensar nas “consequências na vida das pessoas e dos povos”.
“Estamos a constatar realidades que fazem parte da existência diária dos cidadãos e com consequências desastrosas para a vida das pessoas, das comunidades e da própria natureza. Nesta hora de crise por que passa o mundo e a Igreja que faz parte deste mundo, reconhecemos os muitos erros praticados que estão a provocá-la e estamos dispostos a reparar as suas consequências, quanto de nós depende, onde quer que elas se verifiquem”, indicou.
D. Manuel Felício quis recordar o bem que é feito “por pessoas e instituições” que “não pode ficar inútil” e “impedido de oferecer à sociedade de hoje e do futuro”.
“O caminho que nos aponta é o de não responder à violência com violência, mas sim o da obediência no sofrimento, o que implica sofrer com todos os que sofrem e carregar com as consequências dos pecados e outros males praticados, mesmo sem culpa própria”, afirmou.
O responsável destacou ainda que a vida deve ser “partilhada” para o bem comum, “e com a vontade decidida de partilhar as situações difíceis de todos”.
LS