Greve: Motivar a participação da sociedade

Carvalho da Silva analisa situação social, apresenta motivos para a greve geral e fala do contributo da Igreja

O secretário-geral da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP), Carvalho da Silva, considera fundamental trazer “a sociedade à participação, quer do ponto de vista individual quer do ponto de vista colectivo dos cidadãos”.

Depois de anunciado um novo conjunto de medidas de austeridade, os líderes da CGTP e da UGT marcaram uma greve geral, para 24 de Novembro.

“Existem diversas rupturas de coesão na sociedade”, alerta Carvalho da Silva, o qual destaca o papel e a atenção que deve ser dada às novas gerações. “A presença destas na sociedade tem de ser mais forte”.

Ao fazer uma radiografia à sociedade que “nos cria a ilusão de que temos a informação toda e que já dominamos tudo” o sindicalista Carvalho da Silva considera que é necessário “intervir em todos os sectores da sociedade” porque “os bloqueios são amplos”.

Nascido a 2 de Novembro de 1948, em Viatodos (Braga), Manuel Carvalho da Silva  critica “uma sociedade em que toda a ocupação que temos nos aparece contabilizada em cifrões”.

A mudança é urgente até porque desde a II Guerra Mundial que “não tivemos uma situação idêntica à de hoje: Tentar convencer as gerações mais jovens que o seu futuro pode ser pior do que o dos seus pais”. Um sinal “perigoso e de ruptura”, afirma, de forma peremptória.

Apesar de reconhecer que “sempre existiram pessoas” que defendem que não é com greves que recuperamos o país, Carvalho da Silva afirma que quem “está no poder acha sempre que as dinâmicas de remar contra a maré e as dinâmicas de contestação e a afirmação de projectos novos são contrários aos seus interesses”.

O processo laborioso até à convocação de uma greve geral “é muito difícil”. “É preciso observar-se um conjunto de factores de grande preocupação e de grande exigência de sacrifícios para se dizer: vamos fazer uma greve geral”, confidenciou.

Com “práticas patronais e práticas de governação profundamente injustas”, o secretário-geral da CGTP-IN pede às pessoas “para não baixarem os braços”.

Numa sociedade democrática, um dos “factores mais negativos” é “a existência da desmotivação”. E avança: “Esta greve geral é uma afirmação de futuro”.

Reconhece que as “grandes mudanças não se fazem de um dia para o outro”. Estas exigem persistência e paciência, todavia apela “à esperança e confiança no futuro”. E completa: “o que produz a mudança, em regra, não é a posição dominante”.

A diminuição da retribuição do trabalho é um dos factores apontado pelo sindicalista para a crise. “Agrava as desigualdades e limita imenso as possibilidades de resposta do ponto de vista de desenvolvimento económico, em particular os países mais pobres”.

A precarização crescente do trabalho é também uma causa da crise actual e do seu prolongamento. “A perda de decência no emprego”.

Em Portugal, entre “contratos de trabalho a termo e o diverso tipo de vínculos precários, temos cerca de 30% do global dos trabalhadores”. E garante: “isto é demolidor”.

Surgida no contexto do processo da industrialização e no desenvolvimento da chamada sociedade moderna, a Doutrina Social da Igreja (DSI) tem dado “um contributo extraordinário” para que a igualdade e a solidariedade entre as pessoas seja uma realidade. Com formação católica, Carvalho da Silva continua a reler “bastante” os textos da DSI.

Ao fazer referência à última encíclica de Bento XVI – «Caritas in Veritate» -, o secretário-geral da  realça que “encontra lá fundamentos importantes que se cruzam com outros”. Apesar de confessar que o documento papal devia “ir mais longe” nalguns aspectos. A Igreja “não pode distanciar-se” das respostas técnicas porque “estamos numa sociedade concreta”.

A CGTP-IN está a completar 40 anos e os “movimentos ligados à Igreja Católica deram um extraordinário contributo para a criação da Inter-Sindical, no decorrer dos anos 60 e princípios dos anos 70”, conclui Carvalho da Silva.

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