Guilherme d’Oliveira Martins e padre Tolentino Mendonça escrevem sobre o Campeonato da Europa e o Dia de Camões
Lisboa, 12 jun 2012 (Ecclesia) – Portugal tem uma herança cultural enriquecida por séculos de contactos com outros povos mas o futebol é o fenómeno que hoje mais mobiliza os portugueses, consideram Guilherme d’Oliveira Martins e o padre Tolentino Mendonça.
O futebol ganhou “a função representativa que, em outros períodos da história, pertenceu, por exemplo, também ao teatro ou às artes, conseguindo, no estilhaçado panorama das nossas sociedades, convergências que se diriam improváveis”, sublinha o sacerdote em artigo publicado na edição de hoje do Semanário Agência ECCLESIA.
“Em raros momentos simbólicos se sentem os países assim em uníssono, revendo-se completamente no esforço e no génio de uns poucos, galvanizados pelo seu sucesso ou solidários nas suas derrotas”, escreve o diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura.
O poeta considera que no sábado, após o jogo de futebol em que Portugal perdeu com a Alemanha, os portugueses sentiram que “o futebol é uma alegria que dói”, citação do escritor uruguaio Eduardo Galeano.
Guilherme d’Oliveira Martins, por seu lado, salienta que “a cultura portuguesa sempre se tornou mais rica, abrindo-se, dando e recebendo” e lembra personalidades que se destacaram nas artes e no pensamento, como Jaime Cortesão e o seu “humanismo universalista de fundo franciscano”.
São Teotónio, “animado pelo riquíssimo diálogo mediterrânico” criou nos primórdios da nacionalidade um centro “renovador do pensamento europeu”, enquanto que Santo António “contribuiu decisivamente para renovação teológica e cultural do franciscanismo na Europa e no mundo”.
“Gil Vicente, Sá de Miranda e Camões usaram o tempo e o espírito para pôr a tónica nesse universalismo de ideias e valores” e o padre António Vieira “tornou as ‘Trovas’ de Bandarra uma chamada a um desejo vivo e não morto, transformando a lembrança funesta de Alcácer Quibir num apelo de renascimento e restauração”.
O presidente do Centro Nacional de Cultura acredita que a crise é uma oportunidade para que os portugueses se lembrem do melhor da sua história, como “o amor-próprio”; “a sede arreigada de independência”, “os nove séculos de dificuldades e de vontade”, bem como “a capacidade de manter uma identidade aberta”.
No artigo publicado igualmente no Semanário Agência ECCLESIA, o responsável realça também “a recusa do fatalismo da mediocridade”, “a consciência dos defeitos e a tentação do ilusório sonho”, a “contradição” de os portugueses se acharem “os melhores ou os piores” e o “sentido trágico que leva à permanência”.
RJM