«Fratelli Tutti»: Francisco reforça posição católica sobre «função social da propriedade»

«É possível desejar um planeta que garanta terra, teto e trabalho para todos», escreve o Papa

Foto: Caritas.org

Cidade do Vaticano, 04 out 2020 (Ecclesia) – O Papa Francisco publicou hoje a sua nova encíclica ‘Fratelli Tutti’, que tem como temática central a fraternidade e amizade social, reforçando a posição católica sobre a “função social” da propriedade.

“A tradição cristã nunca reconheceu como absoluto ou intocável o direito à propriedade privada, e salientou a função social de qualquer forma de propriedade privada”, indica, num texto divulgado pelo Vaticano.

Citando João Paulo II, Paulo VI e o Compêndio da Doutrina Social da Igreja, Francisco propõe uma “reflexão sobre o destino comum dos bens criados”.

“É possível desejar um planeta que garanta terra, teto e trabalho para todos. Este é o verdadeiro caminho da paz, e não a estratégia insensata e míope de semear medo e desconfiança perante ameaças externas”, sublinha.

O Papa destaca que o direito à propriedade privada só pode ser considerado como “um direito natural secundário e derivado do princípio do destino universal dos bens criados”, pedindo consequências concretas deste conceito.

“A sociedade mundial tem graves carências estruturais que não se resolvem com remendos ou soluções rápidas meramente ocasionais”, assinala.

Francisco diz que não é possível aceitar que a Economia “assuma o poder real do Estado”, denunciando sistemas corruptos que impedem o desenvolvimento digno dos povos.

A reflexão aborda ainda o problema da dívida externa, indicado que, “em muitos casos, o pagamento da dívida não só não favorece o desenvolvimento, mas limita-o e condiciona-o intensamente”.

A encíclica é o grau máximo das cartas que um Papa escreve e a expressão ‘Fratelli Tutti ‘ (todos irmãos) remete para os escritos de São Francisco de Assis, o religioso que inspirou o pontífice argentino na escolha do seu nome.

Francisco pede políticas que apontem ao desenvolvimento solidário de todos os povos, defendendo que “os bens dum território não devem ser negados a uma pessoa necessitada que provenha doutro lugar”.

“Se todo o ser humano é meu irmão ou minha irmã e se, na realidade, o mundo pertence a todos, não importa se alguém nasceu aqui ou vive fora dos confins do seu próprio país”, indica.

O Papa pede o uso do conceito de “cidadania plena” em vez do recurso “discriminatório do termo minorias, que traz consigo as sementes de se sentir isolado e da inferioridade”.

A nova encíclica ‘Fratelli Tutti’ defende um pacto social “realista e inclusivo” e um “pacto cultura”, que respeite e assuma as diversas visões do mundo, as culturas e os estilos de vida que coexistem na sociedade.

As duas anteriores encíclicas do atual pontificado foram a ‘Lumen Fidei’ (A luz da Fé), de 2013, que recolhe reflexões de Bento XVI, Papa emérito; e a ‘Laudato Si’, de 2015, sobre a ecologia integral.

OC

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