Franjas de pseudo-sombra no pontificado de João Paulo II

Por ocasião da celebração do jubileu do Papa foram surgindo sectores – muitos deles sem grande influência, mas bem posicionados na comunicação social; alguma implantação na ‘opinião pública’; certa capacidade reivindicativa, mas qualquer representatividade – que (se) reclamam de menor atenção ou hostilização dada – citamos só breves apontamentos – no pontificado de João Paulo II. De facto, ninguém (com prejuízo da verdade e riqueza do nosso Papa) pode(rá) reclamar o exclusivo seja da faceta – tão rica, multiforme e pluralista – que for do património construído nestes vinte e cinco anos de João Paulo II. * Lugar e função da mulher – uns tantos (são mesmo no masculino) ‘defensores’ de algumas correntes feministas têm tentado trazer à liça uma certa discriminação da mulher na Igreja Católica. Ainda recentemente num debate na televisão da Galiza quatro homens – sendo um deles teólogo e religioso – discutiam, acaloradamente, que no pontificado de João Paulo II foi dada pouca importância à mulher. O tal teólogo dizia mesmo que, da mesma forma que a Igreja tinha perdido o operariado no século XIX e os intelectuais no século XX, também iria – qual profecia apocalíptica! – perder as mulheres no século XXI. Se atendermos a situações simples, poderemos dizer que (só) nos últimos vinte anos encontramos centenas (senão mesmo milhares) de mulheres como «ministros extraordinários da comunhão». Já nos demos conta deste fenómeno? E, sem grande alarido, mas percorrendo um caminho sereno e discernido, elas estão (já) no exercício de funções (ministérios) eucarísticas de forma simples, colaborante e, nalguns casos, ‘imprescindível’!… Por certo que, como dizia, D. José Policarpo, no Congresso na Nova Evangelização, em Viena, «rezemos para que o Espírito Santo saiba conduzir a Igreja» neste trabalho, sem queimar etapas nem subverter as inspirações… às pressas das conveniências humanas! * Problemática moral – sobretudo de índole sexual – anticoncepcionais (aborto ou métodos de preservativo), experiências com embriões ou engenharia genética (clonagem e outras), defesa da vida desde a geração até à morte natural, recusando toda e qualquer forma de eutanásia. Para certos sectores mais avessos à moral cristã – como grupos de natureza homossexual ou lóbis hedonistas – o pontificado de João Paulo II é tido por ‘muito conservador’. Mas será que a temática da vida se reduz a rótulos ou andará ao sabor das paixões, algumas delas um tanto soezes? De facto, o Papa fala, programa e conduz os que são do seu povo. Ouvi-lo, estudá-lo e compreendê-lo será tarefa de actualização da voz de Deus… Mas o evangelho não está em referendo nem tem de ser rescrito só por que temos dificuldade em compreendê-lo e, sobretudo, vivê-lo! * Questões litúrgicas — numa época tão propensa à emoção – até um pouco em reacção à frieza de um certo racionalismo, mesmo cristão e apaticamente católico! – as celebrações litúrgicas nas visitas papais são momentos de festa, de alegria e, simultaneamente, de profundidade. Atendendo a estas características, sobretudo das missas papais, soou uma certa campanha desinformativa do rascunho de proibições na liturgia. Onde houver abusos a corrigir que os bispos tenham a coragem de os enfrentarem, fazendo acatar as orientações do Rito Romano. Mas que não se caia na tentação de coarctar a capacidade de inovação fiel ao espírito da liturgia, particularmente eucarística, com o recurso à rotina, ao tradicionalismo ou recorrendo à insegurança e ao medo. * Exercício da autoridade – em final – natural, previsível e ao que parece próximo – de pontificado de João Paulo II começam a surgir «dissidentes» teológicos, reclamando protagonismo. Há poucos dias reapareceu Hans Küng – afastado do ensino teológico desde 1979 – a condenar aquilo que ele classifica de «um sistema de governo rígido e centralizado, feito de obrigações e interditos». Com efeito, o próximo Papa terá de cuidar daquilo que este semeou, reflectindo, aprofundando e rezando o que Deus deseja para a Igreja Católica no século XXI… O património teológico, pastoral, social, político… e espiritual de João Paulo II merecem-no. Todos devemos ajudar! A. Sílvio Couto

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