Historiadora e teóloga sublinha «linhas de continuidade» do atual pontificado
Lisboa, 13 mar 2023 (Ecclesia) – A teóloga Cátia Tuna comentou hoje o pontificado de Francisco, destacando a sua história e afirmando que “não nasce isoladamente”, no décimo aniversário da sua eleição, a 13 de março de 2023, após renúncia de Bento XVI.
“Eu vejo muitas linhas de continuidade do Papa Francisco, nos seus textos cita muitas vezes Bento XVI e era um leitor, mesmo quando era arcebispo de Buenos Aires dos textos de Joseph Ratzinger, na sua fase mais irreverente”, disse Cátia Tuna, em entrevista à Agência ECCLESIA.
O cardeal Jorge Mario Bergoglio foi eleito como sucessor de Bento XVI a 13 de março de 2013, após a renúncia do Papa alemão, assumindo o inédito nome de Francisco; é também o primeiro Papa jesuíta na história da Igreja.
A historiadora e teóloga assinala que as comparações entre os Papas Bento XVI e Francisco “não são inéditas”, dando como exemplo os pontificados anteriores, de Paulo VI e João Paulo II.
“Há citações que se lesse agora de Bento XVI diria que provavelmente que seriam do Papa Francisco, tão veemente são na sua abordagem para a Igreja”, observou.
A entrevistada lembra que Jorge Mario Bergolio é argentino e marcado pela ‘Teologia do povo’, “uma teologia local muito interessante”, que tem “um lugar muito especial, muito recorrente no pensamento de Francisco”, de alguma forma pode-se “considerar uma variante da ‘Teologia da Libertação’, que na Argentina “foi mais moderada” e não se baseou “tanto em paradigmas marxistas, mas mais em metodologias como a história, a cultura, os próprios estudos da religião”.
Neste contexto, Cátia Tuna realça que o Papa Francisco tem como referências figuras como o bispo Enrique Angelelli, “morto por agentes da ditadura”, para além da “dinâmica muito particular” das Conferências Episcopais da América Latina e Caraíbas.
“É muito interessante verificar uma das novidades do Papa Francisco, talvez mais discretas, é que ele cita muito as conferências episcopais nos seus documentos, algo que é completamente inaudito”, acrescenta.
Cátia Tuna realça ainda que Francisco “perspetiva a Igreja na linha do Vaticano II que foi muito acolhido na América do Sul”, na qual a Igreja se entende como “um povo formado por povos, uma comunidade formada por comunidades”.
Segundo a teóloga, os discursos do Papa argentino apresentam “uma preocupação paterna e misericordiosa em relação ao sofrimento das pessoas e à injustiça das pessoas”, porque “é o sofrimento de Jesus, é Jesus vivo que está a sofrer”, e existe uma “urgência altamente mobilizadora” que a interpela “como cristã católica” e faz fazer um exame de consciência sobre o que é que está a fazer.
“O Papa fala muito da indiferença, crítica muito a indiferença e isso tem sido também uma questão muito importante para mim”, disse em entrevista ao Programa ECCLESIA, transmitido hoje na RTP2, lembrando notícias da última semana sobre “bairros demolidos e lares onde os idosos são tratados de forma pouco humana”.
“Como Igreja nós devemos questionar sobre o que é que podemos fazer para que este reino de Deus aconteça aqui e agora. A vida eterna é já”, sustenta.
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